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Pássaros respondem pelo maior número de apreensões do Ibama em MG

1 de agosto de 2013
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Canário-da-terra é a ave mais procurada para contrabando e a mais apreendida. (Foto: Divulgação)
Canário-da-terra é a ave mais procurada para contrabando e a mais apreendida. (Foto: Divulgação)

As aves continuam sendo as maiores vítimas do comércio de animais silvestres em Belo Horizonte (MG), mas números da superintendência mineira do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sugerem que a prática criminosa encolheu. Entre 2009 e 2012, a quantidade de pássaros acolhidos pelo órgão na capital diminuiu 65,6%, caindo de 15.773 (média de 43,2 por dia) para 5.416 (14,8 diários). Os canários-da-terra e os trinca-ferros são as espécies mais cobiçadas por contrabandistas e clientes.

O levantamento do Ibama compreende animais entregues de forma voluntária, os recolhidos – capturados soltos, mas com algum tipo de enfermidade – e os apreendidos, ação executada sobretudo pela Polícia Militar. A queda dos últimos quatro anos interrompeu uma tendência de elevação iniciada pelo menos em 2007, quando o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de BH recebeu 7.890 aves, número que saltou para 11.427 em 2008 e chegou ao ápice em 2009.

Os pássaros lideram com folga a lista dos tipos de animais silvestres que chegam à autarquia federal. No ano passado, as criaturas representaram 91,9% do total de bichos recebidos pelo Cetas. Os 8,1% restantes se compõem de 273 répteis, 210 mamíferos e 12 peixes. “Mais de 90% do que apreendemos são aves”, afirma o tenente Flávio José de Souza, comandante do 1º Pelotão da Companhia de Polícia Militar de Meio Ambiente. No primeiro semestre de 2012, a companhia, que atua em todos os 34 municípios da região metropolitana e em seis próximos, apreendeu ou recolheu 2.529 aves, número reduzido para 2.192 no mesmo período deste ano.

Todos os animais silvestres capturados pela PM são encaminhados ao Ibama, segundo o tenente. A quantidade de bichos apreendidos pela corporação vem diminuindo por causa do fortalecimento da fiscalização, avalia. “O número de recolhimentos se mantém mais ou menos estável. Já as apreensões se reduziram porque o número de operações que realizamos aumentou, principalmente desde 2010 e 2011. Os traficantes de animais estão mais espertos, mas nossa atuação inibe essas pessoas”, aponta Souza.

O ranking de espécies de pássaros que chegam ao Ibama em BH é liderado há mais de 20 anos pelo canário-da-terra (Sicalis flaveola, em latim) e o trinca-ferro (Saltator similis). Entre 1992 e 2000, o canário manteve a dianteira, com um total 2.935 animais. A partir de 2001, a dupla passou a se revezar na primeira posição. Os viveiros do Cetas estão cheios deles, que não param de cantar e voar de um lado para o outro.

Preferência

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

O fato de os dois terem belos cantos é uma das razões para que sejam tão cobiçados. No caso do canário há outro motivo: ele é usado em rinhas, como ocorre nas brigas de galo. Em suas penas, predomina o tom amarelo, especialmente no ventre, e o tamanho não costuma ultrapassar 15 centímetros. O trinca-ferro adulto mede cerca de 19 centímetros, tem bico negro, penugem em sua maior parte acinzentada e listras brancas sobre os olhos, como sobrancelhas.

No Cetas, alguns pássaros chegam tão debilitados que morrem antes mesmo de passar por um exame médico, primeira etapa dos animais acolhidos no local. “A principal causa é alimentação inadequada. Muitos estão doentes, bebiam água suja e viviam em ambientes completamente insalubres”, diz Laercina Matos, veterinária e analista ambiental do Ibama.

Depois do exame, as aves recebem medicação contra vermes e vão para gaiolas individuais, onde ficam sob observação por alguns dias. Em seguida, se estiverem saudáveis o suficiente, mudam-se para viveiros coletivos e têm a chance de reaprender a voar. “Quase todas estão com a musculatura atrofiada, a não ser as recém-capturadas”, aponta Laercina. Finalmente, os animais são transportados para algumas das cerca de 130 áreas de soltura em Minas, onde são “reabilitados” em viveiros maiores antes de serem libertos. Se não se mostrarem capazes de voltar às matas, são encaminhados para zoológicos e outros tipos de criatório.

Para o MP, são poucos centros de triagem

Em Minas Gerais, o Ibama tem três centros de triagem de animais silvestres (Cetas). Além do mais requisitado, em Belo Horizonte, há um em Montes Claros, no Norte do estado, e outro em Juiz de Fora, na Zona da Mata. No Triângulo Mineiro, a autarquia federal faz uso de um centro pertencente à Universidade Federal de Uberlândia (UFU). As estruturas são insuficientes para atender todo o estado, na avaliação de Luciana Imaculada de Paula, promotora de Justiça e coordenadora do Grupo Especial de Defesa da Fauna, criado em 2011 pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

Ao firmar um acordo de cooperação técnica com o Ibama em junho deste ano, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) se comprometeu a construir dois Cetas, ainda sem local definido, a serem administrados integralmente pelo governo do estado. Ainda assim, a quantidade de instituições seria menor que o necessário. “O ideal seria haver um em cada região. A distância entre o centro e o local de apreensão dos animais dificulta muito sua reintrodução na natureza”, avalia a promotora.

Luciana Imaculada defende também que a fiscalização do Ibama, da PM e do Instituto Estadual de Florestas (IEF) seja intensificada nos municípios do interior. “Na Grande BH, a apreensão atinge principalmente quem adquire o bicho, não quem captura e trafica. Estamos trabalhando com o efeito, não combatendo a causa do problema. Sabemos que os animais são buscados nas regiões mais pobres do estado”, alega.

Fonte: EM

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