Assim como os pais falam com a barriga de uma mulher grávida, alguns pássaros cantam para seus ovos antes de que choquem, e a razão pode ser para prepará-los para um mundo em aquecimento, segundo um estudo publicado nesta quinta-feira (18) na revista científica Science.
O estudo examinou um hábito peculiar dos pássaros da espécie mandarim, que cantam para seus ovos particularmente quando o tempo está quente – acima de 26 graus Celsius – e o fim do seu período de incubação está próximo.
O que eles poderiam estar dizendo? Poderia ter a ver com a temperatura exterior?
Pesquisadores acreditam que sim, uma vez que os ovos não são afetados pelas temperaturas exteriores e são mantidos à temperatura constante de 37º quando os pais estão sobre eles.
Mylene Mariette e Katherine Buchanan, da Universidade Deakin da Austrália, gravaram o canto de mandarins e o reproduziram para ovos em uma incubadora.
Alguns ovos foram expostos regularmente ao canto de mandarins adultos em geral, enquanto outros ouviram o canto de pais que estavam esperando o nascimento das suas crias e se comunicavam com seus ovos. Aqueles do segundo grupo cresceram mais lentamente e nasceram menores do que os outros pássaros.
Este tamanho compacto apresentaria uma vantagem de sobrevivência, porque ter um corpo pequeno faz com que seja mais fácil se resfriar em climas quentes.
Os pesquisadores continuaram rastreando essas aves por um longo período e descobriram que elas tinham mais descendentes do que as outras aves que não tinham ouvido os cantos preparatórios durante o tempo quente.
Os pesquisadores acreditam que esses cantos afetam de alguma forma o crescimento dos filhotes, uma vez que eles nascem no último terço do período de incubação, quando o sistema de temperatura e regulação das crias está começando a se desenvolver.
“Ao sinalizar acusticamente temperaturas ambiente elevadas para os seus embriões antes de chocar, os pais mandarins podem programar as trajetórias de desenvolvimento de suas crias”, disse o estudo.
Se a existência dessa estratégia for constatada em outros animais, isso sugeriria um mecanismo de sobrevivência até então desconhecido para ajudar criaturas a se adaptarem ao aquecimento global, disseram os pesquisadores.
Fonte: SWI