Até poucos anos atrás desconhecido pela sociedade brasileira, o Parque Nacional do Viruá vem se tornando um dos mais importantes pólos de pesquisa em biodiversidade do Brasil.
Localizado no Município de Caracaraí, bem no centro do estado de Roraima, o parque possui grande facilidade de acesso terrestre (através da BR-174), condição rara entre os parques da região norte, o que pode vir a torná-lo uma das principais rotas de ecoturismo da Amazônia.
Criado em 1998 e administrado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio), o parque compreende uma área de 227 mil hectares de florestas e campinaranas, que abriga uma das maiores biodiversidades registradas até hoje entre as mais de 300 unidades de conservação (UC) existentes no país, fato que surpreende até os mais experientes especialistas em inventários da fauna amazônica.
Os estudos começaram em 2006 com a instalação do sistema de trilhas e as expedições científicas do plano de manejo, ao longo dos últimos 03 anos, incluindo hoje mais de 200 pesquisadores, segundo a bióloga Beatriz Ribeiro (ICMBio, coordenadora de pesquisas do parque).
Isso torna o Viruá o atual parque nacional com maior número de pesquisas em andamento na Amazônia. “Foram mais de 100 expedições e um total de mais de 1.000 dias em campo”.
Antes desconhecido, hoje um recordista
Resultado desses estudos, sua biodiversidade inclui hoje mais de 520 espécies de aves, 420 de peixes, 110 de mamíferos e mais de 100 espécies de répteis e anfíbios, num total de mais de 1150 espécies de vertebrados registradas até agora (incluindo algumas espécies novas e dezenas ameaçadas de extinção), números que chegam a superar a maioria dos parques mais famosos do país.
Segundo o pesquisador Jansen Zuanon (INPA), a presença de 421 espécies de peixes coloca o Parque Nacional do Viruá como detentora da ictiofauna mais rica dentre todas as unidades de conservação do país, incluindo 05 novas espécies e 02 novos gêneros (em fase de descrição).
Em uma única expedição (de apenas 06 dias), ele e sua equipe chegaram a coletar 285 espécies diferentes de peixes. “Isso nunca havia acontecido antes”, disse.
Os números impressionam qualquer que seja o grupo de fauna silvestre considerado, já tendo sido identificadas 43 espécies de morcegos, 18 de roedores, 15 de carnívoros, 09 de primatas, 11 de quelônios (bichos de casco), 03 de jacarés, 29 de serpentes, 21 de lagartos, 45 de anfíbios, entre outros.
Tamanha biodiversidade, aliada à facilidade de acesso, garante ao Viruá um enorme potencial para diversas modalidades de turismo ecológico e científico, que estão sendo organizadas a partir das informações produzidas no plano de manejo para que o parque possa ser efetivamente aberto à visitação em 2010.
Um paraíso para a observação de aves
Dentre as opções de ecoturismo que poderão ser realizadas, o “birdwatching” (observação de aves em inglês) será, sem dúvida, uma das mais importantes. Até agora, já foram identificadas 520 espécies de aves, o que representa, segundo o biólogo Thiago Orsi (ICMBio), “em torno de 70% da avifauna de Roraima e quase metade das espécies conhecidas atualmente na Amazônia”.
Uma riqueza tão grande que inclui o atual recorde brasileiro em número de espécies de aves observadas em um único dia, alcançado por uma equipe de 10 pesquisadores ao registrarem 225 espécies de aves num período de 24 horas. Número que surpreendeu até mesmo o experiente ornitólogo Mario Cohn-Haft, coordenador da equipe de inventário de aves: “Meu recorde anterior foi na bacia do Madeira, quando a gente identificou 183 espécies”, afirmou.
A explicação para isso está na grande variedade de ecossistemas presentes no Viruá. Em uma única manhã, numa caminhada relativamente curta, é possível atravessar áreas de floresta de terra-firme, várzeas, igapós e campinaranas, tudo junto e muito perto. Como cada ambiente abriga uma comunidade de aves diferente, o resultado é que se pode ver um monte de coisa em pouco tempo.
Observadores de aves de outros países, que estão acostumados a observar em torno de 20 espécies em bons dias de passarinhada, terão dias fantásticos no Viruá, segundo Thiago, responsável pelos estudos de visitação e turismo.
O diretor do parque, Antonio Lisboa, explicou que o Viruá é o portão de entrada da região do baixo rio Branco, devendo atrair turistas não apenas de Boa Vista, mas do mundo inteiro, uma vez que o parque oferece uma série de facilidades competitivas que poderão torná-lo uma das principais opções de ecoturismo na Amazônia, a um custo acessível para a classe média.
Esse fato deverá trazer uma série de benefícios para o desenvolvimento local e regional sustentáveis, incluindo a geração de emprego e renda, e a difusão de conhecimentos.
Fonte: Portal da Amazônia