Enterrar as presas mortas é comportamento comum de ursos de regiões montanhosas ou de florestas, mas não em regiões cobertas por gelo
Um estudo sobre ursos polares, realizado ao longo de 45 anos, acusou um resultado surpreendente e, ao mesmo tempo assustador: num comportamento extremamente raro, os animais estão enterrando suas presas mortas na neve como uma possível forma de armazenar comida já que, em função do derretimento das grandes geleiras, já começa a faltar alimento.
Por meio de fotos e vídeos, os pesquisadores viram que os ursos estão comendo apenas parte de suas presas e enterrando o restante para comer mais tarde ou até nos dias seguintes. O comportamento é relativamente comum em outras espécies de ursos, especialmente ursos pardos, que normalmente vivem mais próximos de outros ursos fazendo com que os animais sintam necessidade de esconder suas presas devido à concorrência por alimento. Os ursos pardos também competem com corvos e outros animais que podem roubar sua comida.
No entanto, os ursos polares que se alimentam principalmente de focas, vivem mais afastados uns dos outros e não enfrentam tantos sequestradores de alimento como os pardos. Ocorre que a perda de gelo devido às mudanças climáticas está provocando um impacto direto na capacidade dos ursos polares de se alimentar e sobreviver.
“Minha curiosidade sobre o armazenamento de alimentos surgiu ao receber a foto de um urso polar deitado no gelo com uma foca na maior parte coberta de neve”, disse Ian Stirling, do Conselho Científico para Ursos Polares em matéria do Daily Mail. “Eu tinha visto esse tipo de comportamento apenas uma vez em mais de 40 anos de pesquisa em ursos polares”, acrescentou.
Para seu estudo, Stirling revisou dados observacionais de ursos polares obtidos entre 1973 e 2018 em Svalbard, Groenlândia e no Ártico Canadense, encontrando apenas 19 casos de animais enterrando a presa na neve, ou seja, apenas 0,5% de todos os ursos polares analisados.
“Basicamente, a gordura e a carne de focas menores, como filhotes ou de um ano, são amplamente devoradas imediatamente, deixando pouco para acumular. Já as focas adultas são cobertas por neve para talvez reduzir a chance de roubo por parte de outro animal”, disse Stirling.
As medições do final do verão de gelo marinho no Ártico, em setembro de 2019, revelaram que a região atingiu a oitava menor extensão em registros modernos. Se não houver gelo marinho suficiente os ursos polares não podem continuar a caçar as focas. A mudança de comportamento dos usos polares indica que esses animais já estão percebendo a necessidade de armazenar alimento – algo que nunca tiveram que fazer antes.
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