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ARTIGO

Os sem floresta: a perda de habitat que ameaça os macacos brasileiros

Levantamento mapeia a perda de habitat para 190 espécies de mamíferos terrestres brasileiros e alerta para situação dos primatas e suas florestas cada vez menores.

9 de fevereiro de 2023
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Perda e fragmentação de habitat são as principais ameaças que pairam sobre os primatas brasileiros. Arte: Gabriela Güllich

A perda de habitat, ou seja, do ambiente natural no qual evoluíram e aprenderam a sobreviver, é uma das maiores ameaças aos animais terrestres. No caso dos primatas brasileiros, em especial, este é um perigo ainda maior, dado que todas as espécies de macacos do país dependem das florestas para sobreviver. Primatas como o caiarara, espécie amazônica que ocorre numa área restrita entre Pará e Maranhão, e viu 32,8% das suas florestas – e, consequentemente, do seu habitat – irem abaixo apenas nos últimos 35 anos.

Os dados foram levantados pelas equipes de dois centros de pesquisa do ICMBio, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP). O levantamento, que analisa a perda de habitat para 190 espécies de mamíferos terrestres no país, foi publicado em dezembro, na revista científica PeerJ, de acesso aberto.

A pesquisa nasceu dentro do CPB, motivada pela avaliação do estado de conservação da fauna, conduzida pelo ICMBio. Em 2015, o processo avaliou todas as 139 espécies de primatas brasileiros conhecidas até então. “Dos 139, 35 foram classificados como ameaçados de extinção. Praticamente um a cada quatro táxons [espécies] dos primatas brasileiros estava ameaçado”, lembra o coordenador do CPB/ICMBio, Leandro Jerusalinsky, um dos autores que assina o artigo. E mais de dois terços dos primatas ameaçados, 71%, foram classificados a partir do critério de redução populacional no intervalo de três gerações da espécie.

“Tem espécies que o tempo de geração é mais curtinho e outras espécies que o tempo de geração é bem longo. Mas nesse intervalo de três gerações se você tem uma redução populacional de 30% é vulnerável; se é 50% ou mais é Em Perigo; e se é 80% ou mais é Criticamente Em Perigo”, detalha o primatólogo sobre o critério para avaliar o nível de ameaça, conforme estabelecido pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Como os dados de contagem de indivíduos e censo populacional não estão disponíveis para todas as espécies, a melhor estratégia para avaliar se houve redução populacional é justamente olhar para o habitat, a partir de imagens de satélite. “Porque os nossos primatas são dependentes das florestas. Nossos primatas vivem em florestas. Não tem floresta, não tem primata”, resume o coordenador do CPB.

Por mais que dentro da floresta os ambientes não sejam homogêneos e existam outras variáveis, em linhas gerais, a matemática é simples: se a cobertura florestal do habitat de uma determinada espécie foi reduzida pela metade é possível inferir que a população daquela espécie de primata também diminuiu pelo menos 50%.

O fator habitat, portanto, está no centro da equação para avaliar quão ameaçada uma espécie é. Por isso, os pesquisadores decidiram que era fundamental refinar a análise. Dessa decisão – e todo o trabalho que se seguiu – nasceu o levantamento recém-publicado.

O levantamento usa a base de dados do MapBiomas e cruza com as áreas de distribuição das espécies para calcular mudanças no uso e ocupação do solo dentro de um intervalo de tempo determinado, que corresponde às últimas três gerações de cada espécie. Em parceria com o CENAP/ICMBio, esses dados foram levados para o Google Earth Engine, uma plataforma gratuita que permite catalogar e fazer análises de imagens de satélite e conjuntos de dados geoespaciais.

Fonte: o eco

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