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'CIÊNCIA CIDADÃ'

Observação amadora de pássaros está ajudando na proteção de espécies ameaçadas na Austrália

Os relatórios fornecidos pelos cidadãos estão ajudando especialistas e ONGs a terem mais informações sobre as aparições dessas aves

19 de abril de 2024
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Christopher Stephens | Wikimedia Commons

Observação de aves pode ser considerado um hobby, mas voluntários australianos estão ajudando a preencher lacunas de dados de espécies ameaçadas e colhendo resultados reais enquanto praticam esse passatempo.

Sean Dooley começou a observar pássaros aos 10 anos, com um caderno na mão, em um local então conhecido como “pântano de Seaford”, uma área úmida de água doce no sudeste de Melbourne. “Eu estava apenas saindo como criança fazendo o que amava, mas registrando os pássaros que via enquanto fazia isso”, diz ele.

Então Dooley conheceu Mike Carter, um outro observador de pássaros, e junto começaram a relatar as aves que avistavam em contagens regulares nacionais de espécies marinhas e aquáticas e, posteriormente, no banco de dados Birdata. “Essas contagens foram usadas no esforço para reconhecer esses pântanos como áreas úmidas de importância internacional sob a Convenção de Ramsar”, disse Dooley em entrevista ao The Guardian.

Em 2001, os pântanos de Edithvale-Seaford se tornaram a única área úmida totalmente urbana na Austrália na lista de Ramsar, uma rede de áreas protegidas. Isso só foi alcançado por causa dos dados de monitoramento coletados por eles e outros observadores de pássaros, demonstrando como os pântanos são habitat vital para aves marinhas migratórias e aquáticas.

“A listagem é de vital importância para a proteção dos pântanos e agora eles são gerenciados pelos administradores de terras por esses valores”, explicou Dooley.

Não são apenas as populações de aves em risco que podem se beneficiar com a presença de voluntários ativos em lugares selvagens remotos rastreando seus movimentos ou relatando desmatamento ilegal. Em 2020, a Fundação de Conservação da Austrália (ACF), juntamente com outros grupos, indicou o ornitorrinco para ser protegido pelas leis nacionais de espécies ameaçadas da Austrália, no entanto, a indicação foi rejeitada porque foi determinado que havia dados insuficientes para listar a espécie.

Desenvolvido com pesquisadores da Universidade de New South Wales, o projeto Platy da ACF permite que qualquer pessoa registre aparições de ornitorrincos ao redor da Austrália por meio de um mapa online, na tentativa de preencher lacunas nos dados sobre os números desses animais no país.

“Tivemos resultados muito promissores, incluindo a descoberta de ornitorrincos em novos locais onde anteriormente haviam sido considerados localmente extintos”, diz Peta Bulling, uma ativista da natureza da ACF. Ela disse que, além dos benefícios práticos do projeto na identificação e proteção dos ornitorrincos nativos restantes na Austrália, projetos de ciência cidadã como esses também são imensamente benéficos em termos de permitir que os participantes se sintam mais conectados à natureza. “Isso ajuda a aumentar a conscientização sobre as ameaças enfrentadas pelas plantas e animais que amamos”, acrescentou Bulling.

Depois de se dedicar à observação de aves quando jovem, Dooley agora trabalha para a BirdLife Australia, que realiza o Contagem de Aves da Austrália, que aumentou em popularidade para envolver mais de 60 mil voluntários relatando contagens de aves onde quer que estejam no país, seja no mato, no quintal de casa ou até mesmo na janela do escritório.

Em um momento em que aves e espécies animais australianos enfrentam uma crise de extinção sem precedentes, Dooley diz que é impossível mobilizar esforços eficazes para salvá-las sem saber o que realmente está acontecendo. “O monitoramento da ciência cidadã, especialmente quando é feito de forma sistemática e repetido no mesmo local ao longo do tempo, fornece a base de como enfrentamos essa crise”, declarou.

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