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O Valor da Tradição

18 de maio de 2010
5 min. de leitura
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A palavra tradição significa a transmissão de práticas ou de valores espirituais e/ou materiais de geração em geração, o conjunto das crenças de um povo, algo que é seguido com respeito através das gerações. Existem diversas formas de manifestação da tradição: 1) pelas questões religiosas; 2)  pelas questões regionais; 3) pelas questões étnicas, entre outras. A continuidade dessas práticas são justificadas pelos mais diferentes argumentos, sendo que um dos mais fortes reporta-se a  etnias que necessitam cultuar seus costumes tradicionais para manter sua unidade e continuidade.

No Brasil temos como exemplo a questão indígena que  a não preservação dos costumes próprios pode ser responsável pela extinção de etnias, entretanto, temos outras práticas ditas tradicionais que ferem diretamente questões protegidas por lei, mas que acontecem com a justificativa de ser tradição de certas regiões.

O direito dos animais, como seres capazes de sentir, e por isso protegidos tanto pela Constituição Federal de 1988 (art. 225, §1º, VII) e à Lei de Crimes Ambientais (Lei 9605/98, art. 32) são constatemente usurpados em nome da tradição.

São inúmeras as práticas distas tradicionais que se utilizam do uso e sofrimento animal, e na maioria dos casos essas práticas estão diretamente relacionadas com atividades de entretenimento.

Questiona-se que tipo de tradição queremos passar para as nossas futuras gerações? Que tipo de valores existem em nossa sociedade? Porque as formas de entretenimento precisam se utilizar do sofrimento animal? Qual é o real valor da tradição? É ela tão imutável, tão limitadamente compreendida, que precisamos reproduzí-las da maneira como foi posta a décadas, a centenas, a milhares de anos atrás.

No Brasil e no mundo vemos todos os dias notícias deprimentes relacionadas a tradição, entretenimento e sofrimento animal. Touros mortos por lanças, por mais que a atividade das touradas esteja em declínio na França, Espanha e Portugal, e só sobrevive por meio de subisídios públicos, a atividade continua mesmo a população sendo contra. O que acontece é que uma minora com grande poder defende este esporte sangranto e por isso difundem notícias equivocadas, como se a população de tais países fosse a favor das touradas, mas na verdade não são!

O acontecimento das touradas remete a uma questão de democracia, pois mantém uma tradição cruel apesar do público ser totalmente contra, isto é fundamentalmente antidemocrático.

Não é uma coincidência que as touradas foram fortemente apoiadas pelo General Franco na Espanha, com o objetivo de criar um senso de unidade e orgulho nacional para os Espanhóis. Caçadores na França criaram um partido político aliado aos nacionalistas franceses para promover seus interesses.

Ambos, apoiadores das touradas e caçadores franceses resistem progredir porque acreditam que estes atos de crueldades contra animais são os espíritos de sua cultura nacional. Mas alguém os elegeu para esta tarefa? Algumas tradições não ferem apenas os animais, ferem também a democracia. As pessoas são contra tradições cruéis com animais e querem que tais práticas sejam banidas, e isto não é contra a cultura nacional é o contrário disso é a recuperação da cultura e de nós mesmos.

Em Santa Catarina, apesar da farra do boi ser proibida e prever até um ano de prisão para quem a pratica, todos os anos milhares de bois são torturados e mortos, pessoas perseguem este animal jogando pedras, pedaços de vibro, bebendo e dando risada, se divertindo ao extremo. O que será que passa na cabeça dessas pessoas?

Na minha opinião elas não tem nenhum tipo de entendimento sobre o que fazem, estão apenas reproduzindo como uns robôs um comportamento que foi transmitido a eles ha muito tempo atrás , um comportamento primitivo, um comportamento indiferente e insensível ao sofrimento animal, uma tradição que se perpetua sem questionamentos. Algumas pessoas enterraram a capacidade de empatia que todos nós nascemos com os outros seres, insistindo da perpetuação de coisas horríveis como estas.

Na atualidade, entretanto, não há desculpas em continuar ignorando que tais práticas acontecem por meio de extremo sofrimento de um animal inocente.

Por isso questiono novamente: qual é o valor da tradição? Que muitas pessoas reproduzem sem se questionar o porquê, e ainda pior, transmitem aos seus descendentes. O mais espantoso é ver pessoas informadas reproduzindo tais ações, usando o mesmo tipo de justificativa para que tais atrocidades continuem acontecendo.

Rodeios, vaquejadas, tourradas, farra do boi, circos com animais é tudo muito normal e divertido, eles não pensam ou não se importam com o que realmente acontece, acho que o ser está tão individual e egoísta que não quer olhar para o lado, não quer se envolver na questão do outro, da trabalho, gasta tempo…

O circo com animais é tão degradante quanto as outras questões, e o incompreensível é saber que essa tradição continua a ser reproduzida, mesmo não sendo mais aceita pelo público. Na atualidade no Brasil, principalmente nos grandes centros, se um circo com animais se instala, em pouco tempo já existe uma manifestação na porta pedindo para libertar seus animais.

Sete estados e vários municípios no Brasil  já proíbem os animais em circos, não está difícil de perceber que esta tradição está ultrapassada, que não está divertindo mais. E quem ainda se diverte com animais em circos são aqueles que não conhecem a verdade sobre os picadeiros ou pior ainda não se importam com ela. Quem tem um pouco de informação sobre isso não acha mais interessante.

Pensar que os animais reproduzem tais performances por meio de muita violência, confinamento e tortura, que incluem: treinamentos contínuos e forçosos por meio de espancamentos, mutilações e aplicação de choques elétricos, privação de alimento, confinamento com correntes e em jaulas minúsculas, etc.. Isto não da alegria, não diverte pessoas. Fora o alto custo que existe para manutenção desses animais, o que nem sempre é observado. Qual a razão de insistir em algo ultrapassado, oneroso e cruel?

Eu adoro o circo! Adoro o palhaço! Adoro pipoca! Adoro globo da morte! Adoro tecidos e malabarismos! É isso que agente quer ver! Não quero de maneira alguma, acabar com circo, mas quero que ele seja uma felicidade verdadeira, sem sofrimento, sem subjugação, sem tortura, sem prisão… .

Quero me sentar em uma cadeira de circo e aplaudir essa evolução, pois não estamos condenados a reproduzir o que nossos ancestrais, nossos antepassados faziam se a ação não é ética, não é humana, não é do bem! É nosso papel transformar antigas práticas ditas tradicionais em nossa sociedade em novas práticas que condizem com a evolução social, se hoje não escravizamos mais pessoas também podemos fazer o mesmo com os animais.

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