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O desespero da indústria da carne

17 de maio de 2011
3 min. de leitura
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Por Sérgio Greif   (da Redação)

Muitas vezes nos questionam em relação aos números de vegetarianos dentro da população geral, se esta é uma população crescente ou decrescente. Embora estatísticas confiáveis inexistam, temos evidências indiretas de que a população de vegetarianos é crescente quando percebemos como aumenta a procura por produtos vegetarianos no mercado, quando vemos como proliferam novas linhas de produtos voltados para vegetarianos (muitos destes produzidos por empresas que tradicionalmente exploram o mercado da carne e do leite), sites voltados para este público, restaurantes etc.

Outro fato que nos evidencia o aumento no número de vegetarianos é o desespero da indústria da carne. Anos atrás foi criada uma entidade cujo objetivo era justamente promover o consumo de carne, ou nos termos por eles empregados, “desfazer mitos sobre o consumo de carne”. As campanhas da entidade eram embasadas em pouca ciência e muita propaganda, afinal não é pela ciência que a população se convence. De toda forma a entidade era composta de pecuaristas preocupados com seu ganha-pão e não por cientistas ou filantropos, preocupados com o bem da população.

Recentemente, foi publicada notícia de que estudantes do curso de Zootecnia da UEL, em Londrina (PR), estariam promovendo atividades para esclarecer a população do campus em relação aos “mitos sobre o consumo de carne”. Podemos entender também esse desespero, já que em um mundo de vegetarianos a formação de zootecnista é pouco útil. Veterinários ainda poderiam atender animais de estimação, animais silvestres em reservas, etc, mas zootecnistas precisam que continuemos com a exploração de animais de consumo.

De acordo com a reportagem, um dos mitos que eles pretendem desfazer é o de que o frango é produzido à base de hormônios e que por isso atingiria idade para o abate em poucos dias. É fato que a seleção genética e a alimentação reforçada são os responsáveis pelo crescimento exagerado e rápido dos frangos. Hormônios, se necessários, não são utilizados em grandes quantidades nem são o principal motivo do crescimento de frangos.

E, afinal, hormônios são mais fáceis de se encontrar no leite do que na carne de frango. Alguém já se perguntou por que que meninas hoje começam a menstruar e desenvolver características sexuais secundárias mais cedo? O leite de vaca contém hormônios femininos, naturais das vacas e adicionados para induzir uma prolongação da lactação.

Frangos podem não conter hormônios, mas possuem toda uma gama de outros medicamentos. Talvez não as galinhas caipiras, mas frangos de granja necessitam de grandes quantidades de antibióticos para se manterem saudáveis em condições de criação insalubres. Hormônios são, enfim, um problema secundário.

A matéria que trata dos estudantes de zootecnista da UEL cita, ainda, uma professora que classifica como inverdade o fato de que animais sofrem dores nos frigoríficos. De acordo com ela, existe uma legislação federal que obriga abatedouros a insensibilizar os animais na hora do abate. Pretende a professora dizer que “a verdade” é que aves e suínos eletrocutados estão anestesiados. Que bovinos que recebem um tiro na cabeça não sofrem dores nem maus-tratos.

É claro que esse discurso pelo bem-estar animal surte efeito positivo em favor da indústria da carne, porque, desviando o foco do problema real, que é a exploração animal em si, consegue-se que a população continue a fazer parte dessa cadeia de exploração, na qualidade de consumidora.

O desespero para manter a carne como um produto eticamente viável, passível de continuar sendo consumido por pessoas esclarecidas e de bem, porém, evidencia o perigo real representado pelo vegetarianismo. Não sabemos quantos somos, mas somos cada vez mais.

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