A descoberta foi feita pelos biólogos Alexandre Reis Percequillo, professor do Departamento de Ciências Biológicas, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, Marcelo Weksler, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Leonora Pires Costa, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Além da característica morfológica única que deu nome à espécie, diversas outras características levaram os cientistas a descreverem este roedor como um novo gênero.
“Uma das evidências mais fortes mostrou que ela é mais proximamente relacionada a um ratinho que habita os Andes peruanos, chamado de Eremoryzomys polius, do que a qualquer outro roedor na América do Sul”, comenta Percequillo.
Segundo o professor da Esalq, o resultado evidencia que, milhares de anos atrás, antepassados das duas espécies viviam em uma América do Sul com clima, geologia e vegetação diferente da atual, mas os laços de ancestralidade que unem as duas espécies podem servir como pistas para os biogeógrafos estudarem e entenderem estas mudanças.
“Esta descoberta é um exemplo do quão pouco ainda se sabe sobre a história evolutiva dos mamíferos na América do Sul; nem mesmo o número de espécies que existem na Mata Atlântica, ou em qualquer outro bioma brasileiro, é conhecido. Sem esse conhecimento básico, corre-se o risco de nunca chegarmos a compreender importantes mecanismos ecológicos e evolutivos que geraram tamanha riqueza de espécies na América do Sul”, aponta o pesquisador.
Descoberta relevante
A relevância da descoberta reside também no fato de que gêneros de roedores, ou mamíferos, são muito mais difíceis de serem encontrados do que novas espécies. Dentre roedores, por exemplo, a maior parte dos gêneros foi descrita ainda no século 19 ou no começo do século 20, sendo que o último gênero completamente desconhecido descoberto na Mata Atlântica foi descrito há mais de 30 anos, em 1979. Ainda mais surpreendente, a descoberta de Percequillo e colaboradores se deu em uma das áreas mais populosas e conhecidas do Brasil.
“Desde o início do século 19, diversos naturalistas estudaram as florestas do sul de São Paulo e Santa Catarina, mas os primeiros exemplares deste novo roedor foram somente colecionados pelos cientistas no início da década de 1990. No entanto, duas décadas foram necessárias para que novos exemplares fossem obtidos e possibilitassem a descrição desta interessante espécie”, enfatiza Percequillo.
A descoberta foi descrita em um trabalho publicado em fevereiro, na tradicional revista científica Zoological Journal of the Linnean Society.
Fonte: O Repórter