Por Robson Fernando (da Redação)
Neste 13 de maio foi celebrada a abolição da escravocracia brasileira – em 2010, a chamada Lei Áurea completou 122 anos de sanção. Homens e mulheres deixaram a condição de propriedade de outrem, pararam de ser tratados como seres inferiores e comercializáveis. A data é um marco nos avanços dos direitos humanos no Brasil, mas deveria ser também um dia de reflexão sobre uma outra escravidão que, ainda distante da ilegalização, continua muito forte e, pior, respeitada e defendida em todo o mundo: a escravidão animal não humana.
É extremamente fácil encontrar demonstrações de que todos os países, incluindo o Brasil, jamais deixaram de ser nações escravocratas. Basta ver os cavalos e burros puxando pesadas carroças nas ruas. Ou então os bois e cavalos sendo judiados e explorados como máquinas – com direito a “tuning” em forma de sedéns, cabrestos, cilhas, selas, estribos etc. – em rodeios e vaquejadas.
Ou mesmo animais domésticos e silvestres nos circos, onde são obrigados a demonstrar comportamentos alheios à sua natureza sob a força das jaulas, algemas e chibatadas. Ou também nas granjas e matadouros, onde são forçados a servir aos interesses gastronômicos humanos com suas próprias vidas ao serem confinados em gaiolas e/ou assassinados pelos açougueiros. Ou ainda nas universidades e centros de pesquisa, onde roedores, cães, gatos, primatas e outros animais são torturados e mortos “pelo bem da ciência”.
Ou mesmo dentro de casa: aqueles cães e gatos, comprados ainda filhotes como mercadorias, como brinquedos cuti-cuti, e que servem hoje como servos afetivos, cuja existência só foi possibilitada pelo interesse de uns de ganhar dinheiro e pela disposição de outros a comprar todos os afetos, emoções e companheirismo proporcionados por animais domésticos. Ou então, também no lar das pessoas, os peixes e pássaros, comprados e aprisionados perpetuamente, tratados como meros objetos de decoração.
Ou, para ver como é óbvia a escravidão de animais nos dias de hoje, nos parques de exposição. Animais à venda, tratados como instrumentos de trabalho, como matérias-primas, como recursos, como mercadorias. Da mesma forma que se procedia nos mercados de escravos da Antiguidade.
Aqueles argumentos que “justificavam” a escravidão de seres humanos no passado continuam servindo ainda hoje, para explicar por que animais de outras espécies podem ser rebaixados à servidão: “não têm alma”, “nasceram para servir aos mais fortes”, “é a lei do mais forte”, “Deus nos outorgou esse direito”, “não são inteligentes, racionais e civilizados como nós”, “são seres inferiores”, “seus sentimentos são apenas instintos brutos”…
Ao contrário dos negros que no passado foram forçados pela brancocracia luso-brasileira, os escravos de hoje não podem falar, opinar, expor sua insatisfação e tormenta. Raramente – em situações muito específicas – conseguem se defender de quem os submete. Assim sendo, somos nós, os abolicionistas do século 21, que temos que falar por eles, clamar pela libertação dos escravos de hoje, exigir direitos básicos para esses desfavorecidos – liberdade, bem-estar, dignidade, não submissão ao atributo de propriedade.
Fica a mensagem: pense, pense muito, na escravidão contemporânea que se escancara diante de nossos olhos. E faça sua parte para que, num futuro mais próximo possível, seja assinada e sancionada a Lei Áurea dos Animais. Compreenda os direitos animais, abandone o consumo de alimentos e produtos quaisquer de origem animal, risque os rodeios e vaquejadas de sua agenda, deixe de comprar animais, conscientize o próximo. Assim você já estará defendendo a verdadeira abolição completa da escravidão.