Os ursos polares são animais-propaganda da mudança climática já há muito tempo. Porém, as ciências climáticas atuais estão sendo questionadas nos níveis mais altos do governo. Sendo assim, negacionistas do aquecimento global estão transformando os peludos ursos polares em peso simbólico para espalhar dúvidas sobre a verdadeira ameaça das mudanças climáticas.
Evidências científicas mostram que o Ártico está aquecendo duas vezes mais rápido que o resto do planeta, e o fato é comprovado e apoiado por relatórios como o do National Climate Assessment (Avaliação Nacional do Clima, em tradução literal), que foi compilado por 13 agências federais.
Informações do The New York Times ressaltaram, inclusive, que algumas regiões do Ártico já documentaram declínios na população de ursos polares, o que claramente significa uma deterioração física relacionada à perda de gelo marinho. Em 2017, o governo Obama chamou a mudança climática provocada pelo homem como a maior ameaça à continuação da existência dos ursos.
Porém, negacionistas não consideram relevantes as informações acimas: dizem que os ursos polares estão bem, fora de ameaça. Sites que disputam evidências relativas à ciência do clima insistem que o gelo que tem diminuído no Ártico é parte de um ciclo de aquecimento natural do planeta, não relacionado às atividades humanas.
Em relação aos declínios intensos de população de ursos polares, os negacionistas simplesmente dizem que não acontecem. Informações do Mashable explicam que 14 pesquisadores publicaram relatório na revista BioScience, que ilustra como os blogueiros da internet negaram os impactos do aquecimento global induzido pelos humanos sobre os ursos polares, lançando dúvidas sobre a ciência das mudanças climáticas. Isso, argumentam os pesquisadores, apresenta ciência distorcida acessível e de fácil acesso a milhões de leitores.
O Polar Bear Science é um blog dirigido por Susan J. Crockford, uma zoóloga canadense. O conteúdo do blog divulga informações duvidosas sobre o status dos ursos polares, e cerca de 80% dos sites com informações falaciosas se referiram ao blog do Dr. Crockford como fonte primária.
A Dra. Crockford é professora de antropologia da Universidade de Victoria. Seus campos de estudo incluem evolução e paleoecologia, e ela já publicou alguns artigos revisados por pares que tocam em ursos polares. Ela também publicou relatórios e artigos que não foram revisados por especialistas, como os da Global Warming Policy Foundation (GWPF) (Fundação Política de Aquecimento Global).
A publicação do artigo que corrige as informações falaciosas intensificou a dualidade entre a temática das mudanças climáticas. A reação foi rápida: entre muitas manifestações, a GWPF, que publicou artigos de resumos do Dr. Crockford, comentou: “14 agressores climáticos atacam Susan Crockford por contar a verdade sobre os ursos polares”. Já a própria Dra. Crockford relatou que o artigo equivalia a “estupro acadêmico” e exigiu que ele fosse retirado.
Entretanto, a corrente principal de cientistas defende que o número de ursos polares decairá de forma drástica quando o gelo do Ártico desaparecer, já que esses animais usam o gelo como plataforma para caçar focas. Estudiosos já constataram que mudanças perturbadoras na condição física, no tamanho do corpo, na reprodução e nas taxas de sobrevivência dos ursos devem acontecer simultaneamente à perda de gelo do mar.
Das 19 subpopulações de ursos polares no Círculo Ártico, três já apresentaram declínios na população. Uma delas aumentou em número, e os cientistas sabem pouco ou nada sobre nove dos outros, que estão em locais tão remotos que os recursos não estão disponíveis para pesquisas.
Andrew Derocher, professor de biologia da Universidade de Alberta, estuda ursos polares há mais de 30 anos e não estava envolvido no estudo. Em entrevista ao The Ny Times, comentou que os negacionistas das mudanças climáticas estavam perdendo completamente a visão geral. A questão, disse ele, resumia-se a algo simples: os ursos polares precisam do gelo marinho.
“É simplesmente uma questão de perda de habitat”, enfatizou Derocher.