A grande quantidade de animais marinhos, a maioria pinguins, encontrados mortos nas praias da Baixada Santista na última semana, está dentro da normalidade da época e não aconteceu devido a algum fato específico. A conclusão foi divulgada pela chefe do escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ingrid Maria Furlan Oberg, depois de mais de três horas de reunião com veterinários, biólogos, pesquisadores e ambientalistas no Centro de Capacitação e Pesquisa em Meio Ambiente (Cepema), centro ligado a USP em Cubatão.
De acordo com Ingrid, o grupo que monitora o encalhe de animais marinhos não encontrou nenhuma condição além da normal nos testes e exames realizados até agora. “Os exames detalhados, as análises patológicas, só saem daqui uns 30 dias, mas não há nada que indique uma causa diferente nessas mortes”, disse Ingrid, que acredita que a grande repercussão do fato – inclusive na imprensa internacional – aconteceu porque os animais apareceram em um curto período e concentrados em poucas praias.
“Mas acreditamos que isso aconteceu por causa da frente fria, que acabou trazendo todos de uma vez”, disse Ingrid, que no começo da semana já havia divulgado que umas das prováveis causas era mesmo o clima – uma mudança meteorológica brusca ocorrida no litoral gaúcho durante o último fim de semana.
Ingrid revela, entretanto, que o número de animais que apareceram – pelo menos 535 pinguins, 28 tartarugas, seis golfinhos e algumas aves oceânicas, como atobás, fragatas, albatrozes e andorinhas-do-mar – está dentro da normalidade para o período do inverno, quando eles migram da Patagônia em direção às águas mais quentes do norte. “No ano passado, tivemos poucos animais encalhados, mas em 2008 chegaram mil pinguins mortos ao litoral paulista e outros mil na Bahia”, conta a bióloga, que acredita ainda que o aumento dos números nos últimos anos se deve à consolidação do trabalho da “rede de encalhe”, um grupo de ONGs que resgata e estuda o assunto. “Antes eles apareciam mortos, iam para os lixões e ninguém ficava sabendo, agora há todo um trabalho em torno disso”, explica.
Em relação ao lixo e poluição ter causado a morte dos animais – conforme divulgou o Aquário de Santos na última terça-feira – esses foram casos específicos ocorridos com tartarugas, segundo Ingrid, e que também são comuns. “Isso não deveria ser normal, mas encontrar plástico dentro das tartarugas é algo que sempre acontece, pois elas confundem plástico com águas-vivas e acabam ingerindo esse lixo, que não deveria estar no meio do oceano, mas infelizmente está”, completa.
Cerol
Na Praia Grande, entretanto, foi constatado que há outro vilão agindo contra os animais: o cerol utilizado em linhas de pipas. Após verificar acidentes envolvendo motociclistas e ciclistas, a Prefeitura agora aperta o cerco para evitar a morte também dos animais, principalmente as aves marinhas. Na última semana, o Grupamento Náutico da Guarda Ambiental do Município resgatou uma gaivota viva, com a asa direita machucada por causa do fio cortante. Encaminhada ao Centro de Triagem de Animais Selvagens (Cetas/Unimonte), o animal teve que passar por uma cirurgia e agora aguarda a cicatrização dos pontos, para então fazer fisioterapia.
“Somente depois de bem recuperada poderá ser devolvida ao seu meio ambiente, esse é um processo que exige tempo, em média são oito meses de trabalho”, disse o biólogo do Cetas, Nerison Camargo, informando que dezenas de aves morrem todos os anos por causa dos fios com cerol.
Segundo ele, apenas o Cetas já atendeu sete vítimas da linha cortante desde 2002: uma coruja que teve a asa amputada, essa gaivota com ferimento na asa direita, e outras cinco aves diversas que não sobreviveram, entre elas um falcão quiriquiri.
Fonte: Estadão
Nota da Redação: Normal? Sem comentários.