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Minha experiência em dois grupos de mulheres e o ativismo pelos animais

4 de março de 2011
4 min. de leitura
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Estou participando de um grupo de mulheres que discute sobre organização doméstica e sistemas de organização.

E participei por pouco tempo de um grupo de feministas que tem um blog coletivo interessante sobre o assunto.

O grupo de organização me recebeu superbem, mesmo com minhas posições diferentes e fortes sobre não ter filhos, não ter religião etc.

Neste grupo há mulheres de vários níveis sociais, com ensino fundamental, faculdade, mestrado, doutorado. Tem mais de 2 mil pessoas na lista.

Comecei aos poucos a colocar assuntos relacionados aos animais e ao ativismo. A maioria das mulheres do grupo tem animais de companhia. Muitas se colocaram simpatizantes da causa animal, manifestaram desejo de serem vegetarianas e veganas e me pediram mais explicações em privado.

No grupo das feministas eu não me senti bem recebida e me espantei com o atraso das colegas feministas.

“If you are a feminist, you simply cannot consume dairy. Think about it.” (Se você é uma feminista, você não pode consumir laticínios. Pense nisso.) Gary Francione. (Foto: Ellen Augusta)

Apesar de eu me considerar feminista e entusiasta dos movimentos de mulheres, percebi que o tal grupo está atrasado mais de 40 anos em suas discussões.

Discutem interminavelmente assuntos já discutidos do feminismo em outros países, desconhecem completamente os direitos animais e as reflexões abolicionistas. E embora houvesse umas 3 ou 4 pessoas que conhecem o grupo Vanguarda Abolicionista, do qual sou membro fundadora, ainda persistia no ar a insistência em colocar essa questão de lado. Como menor. E a clássica afirmação a meu ver bastante pobre que insiste em dizer: “tá, adoro tudo isso, mas eu sou bastante carnívora”.

Entrei no grupo feminista com o propósito de colocar a discussão “feminismo e libertação animal”, que não é uma discussão nova, é matéria de livros, fanzines punks e anarquistas, e o Gary Francione, professor de direito e filosofia, que frequentemente faz provocações no sentido de mostrar às feministas que elas estão sendo incoerentes se defendem a liberdade para as mulheres mas seguem com o jogo escravizatório de fêmeas de animais de outras espécies para sua conveniência. Mantendo fêmeas constantemente grávidas para a produção leiteira, tirando os filhos das mães e os colocando na indústria da carne, vitela etc. Roubando ovos e mantendo as galinhas poedeiras em situação humilhante e cruel, visto que para as galinhas os ovos são como a menstruação para as mulheres.

Mas mal poderia permanecer nesse assunto, pois elas ainda estão no discurso puramente humanista, antropocêntrico e, por que não, machista, que é o discurso dominante da sociedade atual.

“If you are a feminist, you simply cannot consume dairy. Think about it.” (Se você é uma feminista, você não pode consumir laticínios. Pense nisso.) Gary Francione (Foto: http://argumentoanimal.blogspot.com/)

Desconheciam coisas básicas, como, por exemplo, as pesquisas (velhas) do comportamento animal que revelam dados importante sobre cultura e linguagem em outros animais. Essas pesquisas muito dizem sobre o comportamento humano e sobre o comportamento da mulher.

Não podemos aceitar que em um grupo onde praticamente todas as integrantes sejam mulheres e todas com curso superior, nao consigam entender pesquisas básicas, batidas, sobre o comportamento humano e a sua interface com outros animais.

É lamentável. E triste, pois o feminismo precisa se unir ao ativismo pelos animais. E ser coerente.

Mais me espantou foi o fato de no outro grupo, onde o assunto é completamente diferente, não filosófico, a receptividade ter sido muito maior. E lá conseguimos entrar em discussões feministas (muito mais feministas do que no grupo dito feminista), discussões sobre direitos animais e também estou organizando um intercâmbio de livros sobre o assunto animais. Muita gente ficou interessada. Já mandei um livro: a biografia da Brigitte Bardot (suas memórias) e vou receber um livro de outra pessoa: o novo livro Comer Animais, do Jonathan Safran.

Um ponto positivo para este grupo de mulheres de todos os tipos, algumas com projetos maravilhosos, com mestrado, com teses incríveis. Outras com menos estudos mas mesmo assim cientes e receptivas.

A receptividade foi notável. Coisa que não aconteceu no grupo das feministas. Por que será?

Será que a mulher ainda está fazendo o jogo machista de dominação, enquanto que brinca de liberdade? Enquanto ignora (ou consente) o sofrimento e exploração que toda a humanidade faz aos animais, a mulher está ainda presa a grilhões do passado, com o discurso antropocêntrico e machista, embora pinte o discurso como de esquerda e bastante à frente do tempo. Achei as minhas colegas feministas atrasadas e desinteressadas nessa questão importante e que afinal tem tudo a ver com a mulher. As formas de exploração na sociedade estão todas ligadas.

Para conhecer melhor o assunto, sugiro a bibliografia de Gary Francione.

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