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Milícia pesca camarão rosa em período proibido e lucra R$ 1,2 milhão

26 de setembro de 2018
3 min. de leitura
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O camarão rosa, que já é vítima da pesca em momentos em que ela é liberada pelas autoridades, está correndo risco no Rio de Janeiro desde que passou a ser alvo de milicianos até mesmo no período do defeso, quando a pesca é proibida para que a espécie possa se reproduzir sem interferências humanas. Quando a pesca ocorre durante esse período, a sobrevivência desses animais fica ameaçada. Isso, no entanto, não preocupa a milícia marítima, que age motivada por um lucro de R$ 1,2 milhão.

Foto: Marcelo Regua / Agência O Globo

Além da pesca do camarão rosa durante o defeso, os milicianos também cobram taxas para permitir que pessoas sem o Registro Geral de Atividade Pesqueira pesquem no litoral do Rio de Janeiro. As taxas também são cobradas daqueles que pescam em período proibido.

A ação do grupo paramilitar foi denunciada por pescadores e por uma fonte envolvida na fiscalização da pesca. Segundo eles, uma frota com pelo menos 20 barcos irregulares, que presta serviço para a milícia marítima, foi usada em março, abril e maio para a pesca de camarão rosa. Esses meses fazem parte do período de defeso.

Após ser capturado, o camarão é vendido por uma média de R$ 100 o quilo. Cada embarcação, portanto, garante um lucro de cerca de R$ 60 mil. Todas elas juntas atingem aproximadamente R$ 1,2 milhão nos meses de pesca proibida. Os barcos normalmente partem de pontos da Pedra de Guaratiba e de Sepetiba, na Zona Oeste do município. A atividade irregular já foi comunicada ao Ibama.

“No início do defeso, em março, fizemos uma reunião com 30 representantes de pescadores e com o pessoal do Ibama. Os próprios pescadores reclamaram da presença de barcos irregulares pescando no defeso. O camarão rosa tem um valor comercial alto. Aqui em Angra dos Reis, são pescados de junho a fevereiro, cerca de cem toneladas do crustáceo. Nosso calculo é que pescadores de uma embarcação média lucrem, por mês, cerca de R$ 10 mil a R$ 20 mil, com a venda deste tipo de camarão . Da nossa parte nós fazemos conscientização dos pescadores legais para o defeso. A fiscalização não é nossa competência”, disse Wagner Robson Meira , secretário da Secretaria de Agricultura, Aquicultura e Pesca de Angra dos Reis.

Um pescador, que preferiu não ser identificado, confirmou a prática da pesca de camarão rosa por parte de barcos da milícia durante o defeso.

“Nós respeitamos o defeso, mas os barcos da milícia aparecem e pescam à vontade com rede de arrasto. Matam desde camarão rosa até peixe miúdo. Pescam, mais ou menos, uns 300 quilos de camarão por noite. No defeso, é fácil encontrar eles por aqui. A coisa é perigosa”, disse.

O Ibama alega ter intensificado a fiscalização na região. Segundo o órgão, as autuações até o momento superam o total do ano passado, assim como o volume de animais pescados e de barcos apreendidos superam o total de 2016.

A Marinha do Brasil, por sua vez, disse não haver nenhuma investigação sobre os barcos da milícia no mar de Angra dos Reis e de Ilha Grande porque o caso extrapola sua competência legal. Disse, no entanto, ter parcerias com órgãos diversos, como a Polícia Federal e o Ibama, e afirmou que desenvolve o sistema de gerenciamento da Amazônia Azul, que já foi utilizado em 2016, nos Jogos Olímpicos. Ainda de acordo com a Marinha, quatros centros de comando foram planejados no Rio de Janeiro.

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