A Dairy Farmers of America, associação de produtores de leite dos Estados Unidos, divulgou recentemente um relatório informando que em 2018 a indústria de laticínios sofreu queda nas vendas no valor de 1,1 bilhão de dólares em comparação com 2017.
No Brasil, o crescimento registrado foi de 0%. Isso mesmo, segundo a Embrapa, a indústria leiteira viveu um período de estagnação em 2018. Inclusive no primeiro semestre do ano passado houve um decréscimo de 0,3% e o Brasil fechou o ano com um volume anual menor do que o de 2014.
Já na Nova Zelândia, a multinacional Fonterra, uma das maiores companhias de laticínios do mundo, revelou que registrou prejuízo de 130 milhões de dólares no período de 2017 a 2018. O valor é bem significativa considerando que de 2016 a 2017 a empresa obteve lucro de 500 milhões de dólares.
Independente de causa, e na contramão da crise no mercado leiteiro estão as alternativas aos laticínios baseadas em vegetais, que têm ocupado cada vez mais espaço e atraído até mesmo a atenção e interesse de empresas do ramo leiteiro.
Nos Estados Unidos, além do surgimento de novas marcas não lácteas a cada ano, a Dean Foods, segunda maior companhia leiteira do país, além de fechar laticínios e romper contratos com dezenas de produtores de leite só no estado da Pensilvânia, se tornou acionista da marca de leites vegetais Good Karma, que segue em ascensão nos EUA.
Também foi em 2018 que a Marcus Dairy, um dos maiores laticínios de Connecticut anunciou o encerramento do contrato com 52 fazendas por causa da queda na demanda por leite. No estado de Wisconsin o impacto foi maior – foram fechadas 338 fazendas em menos de seis meses. Essa mesma crise estimulou o casal de pecuaristas Molly Stevens e Sean DuBois a trocar o leite pela cerveja na tradicional fazenda Carter & Stevens em Massachussetts.
A razão é muito simples. Um relatório publicado pelo The Washington Post mostrou que a população dos EUA está consumindo 37% menos leite do que nos anos 1970. Como consequência, alguns laticínios foram além e mudaram completamente de ramo nos últimos anos, como é o caso da Elmhurst, de Nova York, que fechou sua indústria de produtos lácteos em 2016, após 80 anos, para inaugurar a Elmhurst Milked, de alternativas vegetais.
No Brasil, as mudanças também estão acontecendo. Segundo pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel, o leite UHT deixou de entrar na residência de pelo menos 611 mil famílias em 2018. E o crescente interesse por alternativas livres de lactose e não lácteas tem beneficiado quem está investindo em um mercado que prioriza ingredientes de origem vegetal. Um exemplo é a empresa mineira Vida Veg, que a cada ano tem triplicado a sua produção de leites, iogurtes, queijos, sorbets e bebidas proteicas.
O cenário não poderia ser mais auspicioso para quem trocou o leite por fontes vegetais. O mercado brasileiro de alternativas aos laticínios cresceu 51,5% em 2018, e ofertas à base de soja, arroz, aveia, coco e amêndoas lideraram uma movimentação de R$ 545 milhões, segundo a empresa global de consultoria Euromonitor International.
E quem não se adapta a esse mercado, que tem ganhado espaço no mundo todo, acaba ficando para trás. Isso tem sido observado também em países escandinavos. A Kaslink Foods, maior indústria privada de laticínios da Finlândia, com sede em Kouvola, desde o ano passado está dedicando mais atenção aos produtos à base de aveia do que aos laticínios, porque entende que há um público crescente ansiando por produtos livres de ingredientes de origem animal.
E esse mercado deve continuar surpreendendo. A previsão é de crescimento global de mais de 40% até 2023, segundo a ResearchandMarkets. Há também uma previsão de que os iogurtes à base de vegetais podem superar os iogurtes lácteos a partir de 2025, pelo menos na América do Norte, segundo relatório da Data Bridge Market Research (DBMR), que considera em proporcionalidade a queda no consumo de laticínios e o crescimento da procura e da oferta por alternativas baseadas em vegetais.