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MERCADO PERVERSO

Macaco defumado e tubarões inteiros: consumo de carnes exóticas estimula tráfico e ameaça espécies em todo o mundo

1 de fevereiro de 2024
Redação ANDA
2 min. de leitura
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Foto: Christophe Smets | The Guardian

No Aeroporto de Bruxelas, a cena é alarmante: funcionários da alfândega vasculham minuciosamente malas e caixas frigoríficas carregadas de carne e peixe carbonizados. Três voos provenientes da África e um da China têm toda a bagagem de porão inspecionada às 6 horas da manhã, visando conter o fluxo de carne ilegal de animais selvagens que entra na Europa. Este importante centro de trânsito se tornou palco para a luta contra o comércio que alimenta o tráfico de vida selvagem.

O odor persistente de frutos do mar seco permeia o ambiente enquanto os funcionários, acostumados a encontrar animais diversos nas bagagens, enfrentam desafios para identificar carne seca, defumada e picada, muitas vezes proveniente de espécies ameaçadas. A situação é agravada pela dificuldade em determinar a origem exata da carne, tornando as apreensões um desafio constante.

Estima-se que 3,9 toneladas de carne de animais selvagens sejam contrabandeadas mensalmente através deste aeroporto, incluindo elefantes, pangolins e crocodilos. Este comércio, impulsionado pela demanda internacional, tornou-se uma ameaça significativa à biodiversidade global. A recente Operação Thunder na Europa resultou em mais de 2.000 apreensões, destacando a magnitude do problema.

Foto: Christophe Smets/The Guardian

Além das implicações para a fauna, o comércio ilegal de carne de caça representa um risco para a saúde humana. Pesquisadores que rastrearam bagagens em outros aeroportos europeus, como Charles de Gaulle, descobriram ovelhas e bezerros inteiros, sinalizando o potencial para disseminação de doenças infecciosas, incluindo aquelas previamente associadas a animais, como a mpox e o Ébola.

A inspeção minuciosa da alfândega em Bruxelas busca combater essa ameaça, confiscando carne e peixe não conformes com as regulamentações. No entanto, a falta de dados científicos sobre a extensão do comércio de carne ilegal representa um desafio, especialmente porque parte da carne é incinerada devido à impossibilidade de identificação precisa.

Para enfrentar essa lacuna, pesquisadores no aeroporto de Bruxelas estão utilizando testes de sequenciamento de DNA em tempo real para identificar rapidamente as espécies presentes na carne apreendida. A tecnologia, uma iniciativa pioneira na Europa, visa agilizar a identificação e intervenção das autoridades, tornando-se uma ferramenta crucial no combate ao tráfico de carne de caça.

O problema do comércio ilegal de carne de animais selvagens, facilmente identificado nos aeroportos, é um alerta para a necessidade de medidas mais rigorosas e globais. A questão transcende os limites europeus, impactando não apenas a biodiversidade, mas também a saúde pública. O desafio futuro reside em abordar as causas subjacentes desse comércio, envolvendo comunidades e promovendo alternativas sustentáveis para conter essa ameaça crescente à vida selvagem e à saúde global.

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