Por Monika Schorr (da Redação)
Anualmente, centenas de milhares de cães são capturados na Tailândia e contrabandeados para fora do país para abastecer o lucrativo mercado vietnamita de carne de cachorro, conforme reportagem do jornal britânico The Guardian. No Vietnã, a carne de cachorro é considerada uma iguaria e consta nos cardápios dos restaurantes mais luxuosos do país.
Há um mito infundado de que a carne de cachorro aumenta a virilidade masculina, faz com que mulheres grávidas produzam mais leite e aquece o sangue em noites frias de inverno. Como se só isso não bastasse, os vietnamitas acreditam que quanto mais cruel e violenta a forma de tratar os cães antes de serem assassinados, mais saudável e macia será sua carne. A demanda, no Vietnã, por carne de cachorro é tão alta que os contrabandistas estão roubando cães das casas de seus tutores tailandeses para suprir este mercado.
Esta situação está encontrando resistência na Tailândia, onde os traficantes estão se deparando com uma crescente onda de revolta. A Soi Dog Foundation, organização tailandesa de defesa dos direitos animais, afirmou que desde que começou a conduzir uma intensa campanha sobre este assunto, no final de 2011, a polícia nacional da Tailândia prendeu mais contrabandistas de cães do que em qualquer outro momento no passado.
A Organização Mundial da Saúde mencionou que o comércio de carne de cachorro é uma das principais causas dos recentes surtos de raiva e de cólera que atingiram o Sudeste Asiático. Em consequência desta pandemia, autoridades do governo tailandês concordaram em se aliar à organização internacional de defesa animal, Asia Canine Protection Alliance (ACPA), para colocar um fim no comércio de carne de cachorro.
Uma moratória de cinco anos será decretada, suspendendo o transporte comercial de cães entre Tailândia, Vietnã e outros países do Sudeste Asiático e as leis que coíbem o contrabando serão aplicadas com mais rigor. Entretanto, fiscais recebem suborno para não pararem a entrada de caminhões com centenas de cães amassados dentro de pequenas gaiolas. Alguns morrem durante o caminho e outros sofrem de desnutrição, fratura nos ossos e desidratação. Nesta variedade de exploração animal, a mesma lógica do ocidente que é aplicada comumente às vacas, porcos e galinhas, aqui é aplicada aos cães, que se tornam seres sem direitos e utilizados para o consumo humano.
Pornpitak Panlar, membro do departamento tailandês de controle de doenças, declarou, numa entrevista ao jornal Bangkok Post, que “não podemos mudar cultura e hábitos, mas devemos acabar com o contrabando de cães”. O que é o primeiro passo para já colocar em pauta uma discussão sobre os hábitos e sobre a cultura local. Animais não podem ser mortos tendo como justificativa a cultura ou os hábitos tradicionais, pois esta explicação é antiética. Se animais são seres vivos com direito à vida, então o comércio ou o consumo de qualquer animal não pode ser justificado pela tradição, por hábitos ou pela cultura. É injustificável.
Com relação ao compromisso do governo tailandês de trabalhar em conjunto com a ACPA, Panlar disse que “esta união é importante para exortar os setores públicos a prestar a devida atenção aos problemas causados pelo comércio de carne de cachorro e para que elaborem um plano para conter a propagação da raiva”.