Uma das características essenciais do especismo é alegar razões de ordem racional-cognitiva para afirmarem a “superioridade” moral das espécie humana sobre os demais animais. Raciocínio, artes, cultura, tecnologia, demonstrações racionais de sentimentos, muitos aspectos exclusivamente humanos são usados como pretensos justificadores dessa qualidade de “ser superior” que tem o “direito” de dominar os “inferiores” da Natureza.
Porém essa arrogância é um tiro no pé da humanidade, visto que justifica também o capacitismo mental, preconceito baseado na inferiorização de pessoas com limitações psico-intelectuais. Em outras palavras, ser especista implica racionalizar a inferiorização também de outros seres humanos.
Isso porque os humanos não possuem todos as mesmas capacidades cognitivo-intelectuais. Existem muitas pessoas com tais capacidades limitadas, que não podem raciocinar nem abstrair tão avançadamente quanto aquelas ditas “normais”. Há também aquelas com graves deficiências mentais, cujas habilidades mentais-intelectuais são equivalentes ou muito próximas às de mamíferos não humanos.
Se a lógica especista diz que os animais não humanos são inferiores aos humanos porque não possuem as mesmas propriedades mentais que os humanos “normais”, automaticamente essa linha de raciocínio implica que aquelas pessoas mencionadas que estão no meio termo também são moralmente inferiores às “normais”. E dependendo do caso, existem aqueles que poderiam ser considerados tão “inferiores” quanto os não humanos.
Ou seja, o especismo não só hierarquiza os animais em geral, colocando os humanos acima de todos os outros, como também estabelece a discriminação dentro da própria espécie humana, através do capacitismo mental-intelectual. Mas nenhum especista tem coragem de assumir isso, embora possa estar sendo capacitista de forma velada, tal como a maioria dos racistas brasileiros não admitem sê-lo mas demonstram racismo de maneiras sutis.
No mais, especismo e capacitismo são mais dois preconceitos incluídos entre a vasta gama fundamentada na dicotomia “civilização boa e superior X Natureza ruim e inferior”, na qual os seres mais próximos dos humanos “civilizados” e “normais” são moralmente superiores em contraste com aqueles humanos e demais seres “bárbaros” e “aberrantes” que são alegadamente mais próximos das características demonizadas da Natureza.
Holisticamente, quando aprendemos a respeitar os animais não humanos e lhes reconhecer a igualdade moral entre eles e os humanos, aprendemos também a abandonar o preconceito contra outros seres humanos quando levamos o veganismo e seu caráter libertário e igualitário a sério. Acabar com o especismo é também pôr um fim no capacitismo e em todos os demais preconceitos baseados na inferiorização e dominação da Natureza.