Um recente estudo afirma que um novo suplemento alimentar para vacas leiteiras poderá diminuir em 30% as emissões de gás metano desses animais, se convertendo no que os autores da pesquisa chamam de “uma arma valiosa na luta contra as mudanças climáticas”. De acordo com a matéria [1], a criação de gado representa 44% das emissões de metano no planeta derivadas da atividade humana, sendo que cada vaca leiteira emite entre 450 a 550 gramas de metano por dia.
Segundo os autores do estudo [2] da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), “se for aprovado pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e adotado pelo setor agropecuário, este inibidor de metano pode ter um impacto significativo nas emissões de gases de efeito estufa do setor de gado”.
Os pesquisadores descobriram que uma substância denominada 3-nitrooxypropanol, desenvolvida pela empresa alemã DSM Nutritional Products e fornecida como um suplemento alimentar para os bovinos, bloqueia uma enzima usada para produzir metano sem afetar a digestão. O suplemento também teria permitido que os animais ganhassem peso (devido à redução da formação de metano) e não teria afetado a saúde das vacas e a produção de leite.
Porém, mais estudos são necessários, segundo outros pesquisadores da área [3]. Ainda de acordo com a matéria, a pesquisa em questão foi realizada durante apenas três meses em estábulos da Pensilvânia (nordeste dos Estados Unidos) e envolveu somente 48 vacas Holstein Breed.
Mas, para além das questões meramente técnicas citadas, será que trata-se apenas de fazer com que esses indefesos seres sencientes melhorem sua eficiência como máquinas de produzir leite? De qualquer forma o gado bovino, leiteiro ou não, bem como a pecuária de modo geral, encontra-se no cerne dos maiores desastres ambientais da atualidade, conforme estudos também da FAO [4] citada anteriormente.
Portanto, buscar uma melhoria no desempenho desse setor no que tange a um único aspecto – a questão climática – é tão doentio quanto crer que cuidados paliativos com um moribundo sejam capazes de trazer de volta sua vitalidade original. Trata-se de uma visão unidimensional, baseada numa ecologia rasa e mantenedora do especismo que tantos danos tem infligido aos animais não-humanos.
Em pleno século XXI ainda não aprendemos, como sociedade, que há hábitos destrutivos que devem ser completamente abolidos. As dietas baseadas em produtos de origem animal é um desses maus hábitos.
Os proponentes dessa prática tecnicista muito poderiam aprender pensando que a “não-ação”, ou seja, a abolição da bovinocultura do leite, traria incalculáveis benefícios para o meio ambiente, em todas as dimensões. Isso sim, seria uma “arma” (mantenho a linguagem bélica) valiosa na luta contra as mudanças climáticas e muitas outras mudanças ambientais deletérias para os animais e, pasmem, para nós também!
Além disso, libertaria dos grilhões da escravidão fêmeas que sofrem com a restrição da sua liberdade, têm seus úberes espremidos em nome de uma produtividade cada vez mais insana e têm que amargar o roubo de seus bebês cujo destino macabro é a morte, seja imediata, seja posterior a um período de engorda. Quando já não produzem mais o que delas se espera, são enviadas ao matadouro. Se latrocínio é sucintamente “roubo seguido de morte” é lícito afirmar que laticínio é latrocínio.
Na matéria citada há uma foto que fala por si só: duas vacas acorrentadas baixam suas cabeças para afagar um gato que por ali passa. Não é possível saber se a necessidade de afeto se deve ao luto pela perda de algum ente querido (como seus bebês), pelo tédio do confinamento, ou se pela pura e simples necessidade de interação que caracteriza todos os seres sencientes.
Essa prática cruel com os animai, assim como outras, é alimentada e perpetuada por razões econômicas e para suprir a necessidade egóica de produtividade daqueles que se encontram totalmente desconectados do mundo (real) em que vivem.
Notas:
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