Recentemente uma matéria informou que o Ibama multou em 452 mil o IOP (Instituto Onça Pintada). “Além dos 72 óbitos por negligência ou imperícia, outros 53 animais morreram no criadouro desde 2017, segundo o levantamento do Ibama. O dano ambiental pode ser maior ainda, uma vez que a causa da morte é descrita como desconhecida em 17 casos”, informa o jornal.
Você já deve ter visto por aí vídeos que viralizaram e que diziam que uma onça que foi tratada por um homem quando ela era filhote, o reencontra com saudades. Foi assim que conheci pelas redes sociais o IOP, em 2020. Na verdade, a onça era um dos animais cuidados em cativeiro.
Quando vi esse vídeo, e fui saber da história do IOP, me perguntei se era correto divulgar a localização da Instituição. Se isso não poderia atrair caçadores. Depois descobri as redes sociais que divulgam o cotidiano no Instituto e então percebi que a ideia era mesmo promover a caça, de cliques! Quanto mais cliques, mais visibilidade, mais engajamento, patrocínios, doações. Um modo de garantir o financiamento das despesas da Instituição.
Os vídeos divulgados pela família, que mostram a convivência pacífica entre o casal de biólogos e o filho, ainda bebê, com os mais variados animais silvestres resgatados, encantam a todos. Eu mesma já compartilhei vários deles. Porém, o buraco é mais embaixo. Além da multa que o IBAMA aplicou, em virtude de situações que, segundo o Órgão, configuram maus tratos, com óbitos superando os nascimentos, e que está sendo contestada pelo IOP, um importante sinal de alerta é ligado: a domesticação de animais selvagens e sua exposição nas redes sociais.
Todos sabemos da dificuldade que é para manter uma instituição filantrópica, seja ela para cuidar de onças ou cães. Mas quando animais selvagens que poderão ou não ser reintroduzidos novamente em seus habitats são domesticados, e diante da audiência de milhares de pessoas, estimula-se inclusive o tráfico dessas e outras espécies.
“O IOP não possui capacidade técnica e estrutural para manutenção de animais com segurança. Os animais ali mantidos estão sujeitos à ataques de predadores silvestres e de ratos sem que possam fugir ou se defender, pois estão presos. Também são imperitos em aproximar animais de outro de sua espécie sem fazê-lo com cautela e de forma gradual, o que culmina em morte decorrente de espancamento pelos demais. O controle de roedores é realizado de forma inadequada ou negligente, o que possibilita o acesso dos animais do plantel ao veneno e consequente morte por envenenamento”, conclui nota informativa do Ibama.
Se as pessoas copiam padrões estéticos, para ter o nariz igual ao fulano, a casa igual do beltrano, não vão querer animais fofinhos como onça, tamanduá, macaco, arara ou outros mais? As ararinhas azuis quase foram dizimadas por causa do tráfico. E só conseguiram voltar livres à Caatinga, após 20 anos de muito trabalho científico.
O ser humano é praticante dos setes pecados capitais, e a inveja é muito cruel para os animais. O ser humano, há exceções, bate o olho no cachorrinho peludinho da artista da TV e quer pra ele. Não tem nem condições de manter o calendário de vacinas, mas quer! Avista um pássaro cantando livre e o quer dentro da gaiola. Os pandas, foram quase dizimados, porque eram ofertados como presentes às autoridades que visitavam a China. Não interessava se moravam na Sibéria ou Saara. A pessoa levava. E queria.
Importante observar que os biólogos afirmam que o IOP posta nas redes sociais, situações que beiram ao absurdo, para quem é da área. “Não existe forma de reabilitação e reintrodução de espécies com esse tipo de tratamento”, afirma uma pesquisadora. Mas para os leigos, que inclusive estão bastante revoltados com o IBAMA, não há problema algum em misturar animais de espécies diferentes, inclusive presa com predador. E se não há problema em juntar onça com tamanduá, qual o mal em levar um desses para casa e tratar como brinquedo?
Institutos conservacionistas são essenciais. O IOP tem seus méritos, assim como tem seu direito de defesa. Mas é importante tocar nessa ferida que são as consequências da superexposição de animais. Para o IBAMA o problema enquadra-se em “obter vantagem pecuniária”, um dos agravantes do auto de infração. Mas isso vai além e atinge os leigos que podem dizer que animais não se importam com câmeras, quando o problema é justamente nas intenções de quem os cobiçam.
Por Aida Franco de Lima
Fonte: H2Foz