Por Marcela Couto (da Redação)
A pequena Ilha Robben, no Sul da África, tornou-se patrimônio da humanidade após Nelson Mandela ter passado 18 de seus 27 dias preso no local. Mais de 1.200 turistas visitam a ilha diariamente para reviver a história.
A visita turística inclui um passeio de ônibus, e a maioria das pessoas acaba surpreendida por alguns moradores inesperados da ilha: milhares e milhares de coelhos.
De fato, Robben Island está superpovoada por coelhos, que se multiplicam a uma velocidade incrível. Para os responsáveis pela ilha, os roedores deixaram de ser bichinhos inocentes e tornaram-se verdadeiras “pragas” ambientais.
A falta de controle com a população dos coelhos levou os oficiais locais a definirem uma estratégia duvidosa, que consiste basicamente em atiradores profissionais caçando os pequenos roedores todas as noites.
Houve relutância a respeito da decisão cruel. Com a libertação de Mandela em 1990, a ilha passou a ser um símbolo do triunfo de um espírito humano. Parece que o assassinato a sangue frio de pequenos mamíferos soa inapropriado.
Chris Wilke, um dos atiradores contratados, revela que em uma noite calma consegue abater 25 coelhos por hora. Ele também classifica o trabalho como “divertido”, e diz sentir-se bem por estar “fazendo algo pelo conservacionismo”.
Desde outubro de 2009, 5.300 coelhos já foram mortos, além de 78 cervos e 38 gatos de rua. Wilke acredita que pelo menos mais 8.000 coelhos serão assassinados.
A maior preocupação dos entusiastas da matança parece ser a questão das antigas construções, que estariam ameaçadas pelas tocas dos coelhos em suas fundações.
Ativistas dos direitos animais organizaram-se contra a caça, argumentando que as mortes lembram o espírito do apartheid, já que os coelhos são considerados tão inferiores que não são dignos de viver em paz.
“A Ilha Robben é quase um lugar sagrado, e transformá-la em um campo de assassinatos é tão inapropriado, tão trágico, tão sujo e imoral,” disse Cicely Blumberg, uma ativista que propõe a busca por lares e castração para os coelhos.
Em uma tentativa de tornar a matança algo menos horrendo, as autoridades locais declararam “que a carne dos animais será doada aos pobres”.
Chega a ser irônica a classificação de “triunfo do espírito humano” das autoridades da Ilha Robben, já que algumas construções antigas são tidas como mais importantes do que milhares de vidas inocentes. Mandela com certeza não ficaria contente com um holocausto de coelhos em nome de alguns montes de concreto.
Com informações de The New York Times