Um novo estudo reforça a teoria de que a convivência com os humanos acabou aniquilando a fauna de animais gigantes que habitou a Austrália – a chamada megafauna, com répteis, aves e marsupiais pesando até 2.000 kg. Usando uma nova técnica de datação de ossos, cientistas mostraram que esses bichos se extinguiram 40 mil anos atrás, cerca de cinco milênios depois de o Homo sapiens chegar à Oceania.
O estudo, publicado sexta-feira (22) na revista Science, deve ter impacto significativo no debate acadêmico sobre a questão. Cientistas que relutam em culpar humanos pelo evento ainda tentam provar que a megafauna entrou em extinção pressionada por mudanças climáticas ocorridas na época.
Os grupos teóricos rivais concordam que a megafauna não sumiu de uma só vez. Aconteceu aos poucos, em datas diferentes em cada parte da Oceania. Richard Roberts, da Universidade de Wollongong (Austrália), coautor do estudo na Science, diz que os bichos sempre sumiam após aborígenes chegarem a uma nova área.
“Os últimos animais sobreviventes estavam na Tasmânia”, afirmou. “Isso aconteceu porque aquele lugar só foi ocupado pelas pessoas depois, quando uma ponte de terra conectou a ilha à Austrália, e as pessoas puderam atravessar.”
Mauro Galetti, biólogo da Unesp, lembra que animais gigantes são realmente uma tentação para caçadores. “É uma fartura de alimento gigantesca”, diz. Ele explica que essas espécies são particularmente vulneráveis à caça, porque se reproduzem muito devagar. “Bicho grande é impossível de caçar de maneira sustentável.”
O que Roberts oferece em seu último estudo, em resumo, é uma interpretação nova para dados sobre o sítio paleontológico de Cuddie Springs, onde fósseis da megafauna foram encontrados nas mesmas camadas sedimentares que artefatos de pedra feitos por humanos.
Isso havia levado outros cientistas a acreditarem que os animais sobreviveram até os aborígenes dominarem a Oceania, há cerca de 45 mil anos, até um período 30 mil anos atrás.
A datação extraída diretamente dos ossos dos animais, porém, concluiu que sua idade é de 40 mil anos. Segundo Roberts, camadas geológicas se misturaram depois, possivelmente devido a enchentes. Sua configuração em Cuddie Springs, portanto, não reflete bem a sequência de eventos.
Arqueólogos como Judith Field, da Universidade de Sydney, contudo, discordam. “Esses estudos [do grupo de Roberts] deixam de lado tudo o que sabemos sobre o sítio e ignoram evidências que contradizem suas conclusões”, diz, sinalizando que o debate sobre a questão não está encerrado.
Fonte: Gazeta Web