É difícil imaginar, mas um dos pontos mais degradados ecologicamente do litoral brasileiro, a Baía de Guanabara, abriga uma população fixa de golfinhos, animais geralmente associados com águas paradisíacas. Depois de resistirem durante anos, porém, os botos-cinza podem estar com data marcada para sumirem da Baía se continuarem desaparecendo no ritmo que indica um estudo do Projeto Mamíferos Aquáticos (Maqua), da Uerj.
O projeto fotografa duas vezes por semana as nadadeiras dorsais dos golfinhos encontrados e as compara as imagens em laboratório. As nadadeiras servem como uma espécie de ‘impressão digital’ desses animais, e, através do levantamento, é possível saber que, há 10 anos, existiam cerca de 70 botos-cinza na Baía, e, agora, são pouco mais de 40.
O estudo indica que , seguindo nesse ritmo, a população pode ser extinta até 2050. Os animais têm morrido vítimas de pesca e, é claro, em decorrência de problemas trazidos pela poluição que atinge a Baía. “A qualidade ambiental pode fazer com que alguns animais abandonem a área e que novos botos de outras regiões não venham. A capacidade reprodutiva de algumas fêmeas também pode estar sendo afetada pela contaminação”, explica o professor de Oceanografia Alexandre Azevedo, da Uerj.
Atualmente, dois terços dos 17 municípios que circundam a Baía não tratam seu esgoto da maneira ideal. Segundo Azevedo, a interrupção do nível de degradação da Baía nos moldes atuais seria um passo para tentar reverter a saída dos botos. “Os novos investimentos têm que atentar para o impacto que causam na região”, alerta.
O boto-cinza é a única espécie de golfinho que se alimenta e reproduz na Baía de Guanabara de forma fixa. Outras espécies frequentam a região apenas de forma esporádica.
Em Sepetiba, outras ameaças
A maior concentração do Brasil de botos-cinza também fica no estado do Rio, na Baía de Sepetiba, onde existem mais de 800 animais. Lá, o que preocupa é o aumento de atividade nos portos da região.
“A área de fundeio dos navios que utilizam novos empreendimentos acabam se sobrepondo às áreas em que ficam os animais. A poluição sonora também os incomoda”, explica o biólogo Leonardo Flach, que coordena o projeto Boto-Cinza na baía.
Fonte: O Dia