Quanto mais pesquisamos o universo dos fungos, mais descobrimos que ainda temos muito o que descobrir. Além do uso na alimentação, os fungos têm usos medicinais, podem ser usados na construção dos mais diversos tipos de material, substituindo do couro ao isopor, e revelaram inclusive que tem a capacidade de se comunicar. E as descobertas não param: um estudo mostrou que a vasta rede de raízes dos fungos, também conhecida como micélio, contém um terço, das emissões anuais de dióxido de carbono na Terra.
Uma equipe internacional de pesquisadores reuniu dados de centenas de estudos sobre a interação de plantas e solo e os cálculos mostram que mais de 13 gigatoneladas de CO2 são transferidas das plantas para os fungos anualmente, transformando o solo sob nossos pés no maior sumidouro de carbono do mundo, maior até do que os oceanos.
Com esta pesquisas, os pesquisadores afirmam que os fungos oferecem uma solução potencial para gerenciar as emissões de combustíveis fósseis e precisam ser considerados nas políticas de biodiversidade e conservação. Katie Field, coautora do estudo e professora da Universidade de Sheffield, descreveu a descoberta como um “ponto cego” na modelagem global de carbono – “um de muitos e certamente não o primeiro”.
“Os números que descobrimos são de cair o queixo. Quando pensamos em soluções para o clima, também devemos pensar no que podemos aproveitar do que já existe”, afirma a cientista.
Solução potencial
O micélio pode crescer extremamente rápido, enquanto produzem cogumelos como fonte de alimento, e os fungos poderiam ser a melhor fonte geral de armazenamento de carbono disponível para os humanos neste momento.
Os micélios de diferentes organismos individuais formam estruturas enormes, chamadas de redes subterrâneas ou WWW, sigla em inglês para Wood Wide Web, algo como ‘Grande Rede Vegetal’. Essas redes são capazes de reter até 30 mil vezes sua própria massa em água e nutrientes, além de atuarem como condutoras de substâncias medicinais para plantas. Importante ressaltar que o maior organismo conhecido no planeta fica no Estado americano do Oregon e é um tapete fúngico de 2 mil anos de idade que se estende por 2 mil acres em.
“É preciso fazer mais para proteger essas redes subterrâneas – já sabíamos que eram essenciais para a biodiversidade. Agora temos ainda mais evidências de que eles são cruciais para a saúde do nosso planeta”, disse a Dra. Field.
Quando se trata de medidas para combater a emergência climática, pouca atenção foi dada, até agora aos fungos. Com este estudo, isso pode mudar. “Com razão, muito foco tem sido colocado na proteção e restauração das florestas como uma forma natural de mitigar a mudança climática”, acrescentou Heidi Hawkins, outra autora do estudo e professora da Universidade da Cidade do Cabo.
Os pesquisadores agora estão investigando por quanto tempo o carbono é armazenado pelos fungos e procuram explorar ainda mais como ele impulsiona os ecossistemas. O que se sabe é que existe uma associação simbiótica entre certos fungos e raízes de algumas plantas, que são chamadas de micorrízicas.
“Sabemos que é um fluxo, com retenção de carbono em estruturas micorrízicas enquanto o fungo vive – e mesmo depois que ele morre. Algumas dessas estrturas serão decompostas em pequenas moléculas de carbono e, a partir daí, se ligarão a partículas no solo ou até serão reutilizadas pelas plantas”, disse ela.
Apesar de trazer números impressionantes sobre o papel dos fungos no armazenamento de carbono, a pesquisa prova também ainda há muito o que aprender sobre o papel fundamental que as estruturas micorrízicas, ancoradas em micélios, desempenham nos sistemas globais.
Fonte: Ciclo Vivo