Os ruídos dos leões, dos rinocerontes e dos elefantes ainda se misturam com a cacofonia das buzinas de ônibus e carros que trafegam perto de uma das áreas mais congestionadas da capital argentina.
Um ano depois de o Zoológico de Buenos Aires, de 140 anos, fechar as portas e ser transformado em um parque, centenas de animais permanecem atrás das grades e em um limbo barulhento.
Em julho de 2016, os desenvolvedores prometeram transferir a maioria dos 1.500 animais do zoo para santuários na Argentina e no exterior, mas não se mobilizaram para tornar isso possível.
Um novo plano anunciado recentemente ainda não especifica como isso ocorrerá. Muitos dos animais estão tão acostumados ao ambiente estéril do zoológico que especialistas temem que eles não sobrevivam caso sejam transferidos.
Os ativistas também protestam pelo fato de os animais restantes ainda viverem em recintos considerados desumanos pelos padrões modernos e dizem que o novo plano do governo da cidade fornece poucos detalhes sobre as melhorias.
“[A situação] foi de mal a pior. Está tudo pronto para o naufrágio da Arca de Noé”, disse Claudio Bertonatti, ex-diretor do zoo e consultor da organização não governamental Fundación Azara.
O zoo foi inaugurado em 1875 em um calmo subúrbio de Buenos Aires, que é hoje uma zona urbana de avenidas repletas de ônibus que passam perto das jaulas dos animais.
O primeiro diretor decidiu que os animais explorados no local deveriam ficar em edifícios que refletissem seus países de origem.
Uma réplica de um templo Hindu foi construída para os elefantes asiáticos, por exemplo. Muitos desses edifícios permanecem no local de 45 hectares (18 hectares), mas precisam de reparos, informou a reportagem do Daily Mail.
Quando o prefeito Horacio Rodriguez Larreta anunciou o fechamento do local no ano passado, ele disse que os animais eram um “tesouro” e que não poderiam viver em cativeiro perto do barulho e da poluição.
Desde então, alguns condores têm sido libertados e cerca de 360 outros animais resgatados do tráfico foram enviados para outras instituições. Porém, nenhum animal abusado pelo zoo da cidade foi transferido.
Oficiais do governo alegam que o processo se mostrou mais difícil do que eles imaginavam. Eles descobriram que tinham fechado o zoo antes de promulgar legislação necessária para autorizar muitas das transferências.
Apenas recentemente um especialista foi contratado para analisar quais os animais podem ser movidos. Ainda não está claro quantos podem suportar a mudança ou como o transporte irá ocorrer.
Uma coalizão de 12 grupos de proteção animal e veterinários enviou uma carta no dia 28 de abril exigindo que os funcionários especifiquem quais animais serão permanentemente alojados no parque e em que condições.
A carta diz que as únicas mudanças feitas pelo plano são no nome do zoo, o aumento do custo dos ingressos e o fechamento de algumas áreas, além de mais funcionários, sem qualquer melhoria para os animais.
O número de visitantes permitidos pelo local diminuiu. No passado, 10 mil pessoas iam ao zoo. Hoje são permitidas duas mil. Independentemente do número, nenhuma visita deveria ser autorizada, especialmente quando se trata de animais confinados em estado miserável.
Em uma manhã recente, Garoto e Porota, um casal de hipopótamos cinzentos nadou para a borda do lago e abriu a boca mostrando os dentes amarelados enquanto Guille, seu bebê, observava a água escura.
Em um recinto próximo, as girafas Shaki, Buddy e seu filhote Ciro esticaram suas longas línguas para beber água de recipientes de plástico amarrados a um telhado.
Já o orangotango Sandra ficou fascinada por algumas manchas de grama que haviam sido recentemente instaladas em seu recinto.
Ela se tornou mundialmente conhecida quando um tribunal argentino emitiu uma decisão histórica em 2014 de que ela possui alguns dos direitos legais desfrutados por seres humanos.
“Há pequenas mudanças de infraestrutura, mas há uma deterioração total”, explicou Juan Carlos Sassaroli, um veterinário que anteriormente trabalhou no zoológico.