Resultados preliminares das análises feitas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) detectaram monoetilenoglicol em lotes de produtos para alimentação animal da empresa Bassar, além daqueles inicialmente já encontrados.
Cerca de 40 mortes de cachorros no Brasil foram registradas após a ingestão de petiscos com suspeita de contaminação. A substância é a mesma encontrada em cervejas da Backer, que matou dez pessoas em Minas Gerais.
Segundo a análise, o monoetilenoglicol foi apontado como contaminante de propilenoglicol, substância que faz parte da produção de alimentos da indústria.
Diante dos resultados, o Mapa determinou que fabricantes de alimentos e mastigáveis indiquem os lotes de propilenoglicol existentes em seus estoques e seus respectivos fabricantes e importadores.
“Até o momento, as investigações ainda não determinaram a origem do aditivo utilizado, em virtude da falta de rastreabilidade dos envolvidos e da mistura de lotes de aditivos nos diferentes estabelecimentos já identificados sem registro no Ministério. O propilenoglicol é um produto de uso permitido na alimentação animal, desde que seja adquirido de empresas registradas no Mapa”, afirma o órgão.
De acordo com o Mapa, para o maior controle quanto à conformidade do propilenoglicol comercializado, o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal determinou nesta sexta-feira (9) que empresas fabricantes de alimentos e mastigáveis devem indicar os lotes de propilenoglicol existentes em seus estoques e seus respectivos fabricantes e importadores ao Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA) de sua região.
Além disso, devem realizar análises em produtos que contenham o propilenoglicol em sua composição, para garantir a segurança de uso nesses produtos, e indicar os lotes de produtos acabados em estoque e já distribuídos que tenham utilizado propilenoglicol em sua composição, incluindo a porcentagem utilizada. Em caso de resultado não conforme, as empresas devem realizar o recolhimento dos produtos e informar ao SIPOA da região.
O Mapa explica também que, aos fabricantes de aditivos que elaborem ou importem propilenoglicol, o Dipoa solicitou que se manifestem quanto à fabricação, importação ou compra de propilenoglicol em território nacional desde dezembro de 2021, com relação à identificação dos lotes, o quantitativo adquirido e suas origens.
Os fabricantes das demais categorias de produtos para as demais espécies de animais também devem indicar se usam o propilenoglicol na composição dos seus produtos e quem são os fornecedores do aditivo.
“As empresas têm o prazo de 10 dias para atender às determinações do Dipoa. A não comunicação ao SIPOAS será interpretada como não utilização do propilenoglicol e as empresas serão fiscalizadas quanto à veracidade das informações prestadas”, determina o Mapa. O g1 procurou a Bassar e aguarda posicionamento.
Cães intoxicados
O propilenoglicol usado pela Bassar teria vindo da empresa Tecno Clean, que tem sede em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas ela informou que não fabrica o produto, sendo apenas a distribuidora. O composto, usado no processo de fabricação de petiscos, pode ter sido contaminado com monoetilenoglicol, o que teria provocado as mortes de ao menos 40 cães, por intoxicação, no país.
Por meio de nota, a empresa afirmou que comprou o insumo da empresa A&D Química Comércio Eireli e, posteriormente, revendeu ao mercado nacional como distribuidora.
“Portanto, caso fique comprovado que a contaminação vem de tal produto, a falha deve ser procurada e entendida entre o importador e o fabricante”, diz um dos trechos do comunicado.
Na tarde desta sexta-feira (9), equipes da Polícia Civil e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estiveram na sede da Tecno Clean.
A reportagem do g1 Minas não conseguiu contato com a A&D Química Comércio Eireli.
Nesta semana, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que já recebeu relatos de cerca de 40 mortes de cachorros no Brasil após a ingestão de petiscos com suspeita de contaminação.
Em Belo Horizonte, subiu para oito o número de óbitos registrados. A instituição mineira vai investigar somente os casos registrados no estado.
Entenda
Três marcas de petiscos são investigadas por suspeita de contaminação: Dental Care, Every Day e Petz Snack Cuidado Oral. Todos são de fabricação da empresa Bassar.
Na sexta-feira (2), a Polícia Civil informou que, em um dos petiscos entregues à delegacia por tutores de animais que passaram mal ou morreram, foi identificada a presença de monoetilenoglicol.
A substância, que é tóxica e pode levar à insuficiência renal, já tinha sido detectada por meio de necropsia realizada pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em um dos cãezinhos mortos.
Na última semana, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) determinou o recolhimento nacional de todos os lotes de produtos da Bassar e a interdição da fábrica, em Guarulhos (SP). Na segunda-feira (5), informou que determinou a fiscalização dos estabelecimentos distribuidores.
“O Mapa orienta que formalizem as denúncias junto à Ouvidoria do Ministério munidos de informações sobre lote e data de fabricação dos produtos suspeitos. Já para fins de ressarcimento, consumidores devem entrar em contato com o fabricante ou com o estabelecimento”, afirmou, em nota.
O que diz a Bassar
“A Bassar Pet Food informa que decidiu interromper a produção de sua fábrica até que sejam totalmente esclarecidas as suspeitas de contaminação envolvendo lotes de seus produtos. A empresa também está contratando uma empresa especializada para fazer uma inspeção detalhada de todos os processos de produção e do maquinário em sua fábrica, em São Paulo.
De modo preventivo, a companhia já estava recolhendo os lotes de duas linhas de alimentos, mas procederá agora ao recolhimento de todos os produtos da empresa nacionalmente, conforme determinação do Ministério da Agricultura, Pecuário e Abastecimento.
A Bassar esclarece que ainda não teve acesso ao laudo produzido pela Polícia Civil de Minas Gerais, mas está colaborando totalmente com as autoridades desde o início dos relatos sobre os casos. A empresa enviou amostras de produtos para institutos de referência nacional para atestar a segurança e conformidade de seus produtos sob investigação.
Além disso, acionou todos os seus fornecedores para que façam o rastreamento dos insumos utilizados para afastarem a hipótese de algum tipo de contaminação.
A empresa está solidária com todos os tutores de animais, nossos consumidores e razão de nossa empresa existir. Somos os maiores interessados no esclarecimento do caso. Por isso, a empresa vem tomando todas as providências para investigação dos fatos. Os consumidores podem tirar dúvidas pelo e-mail [email protected].”
Fonte: G1