Contraditoriamente, um evento de maus-tratos animais carrega no nome o peso de lutar “pela vida”. Vida de quem? Com 100% de arrecadação em prol do Hospital de Amor, a verdadeira compaixão pela vida passa longe.
Quando falamos de vida, são todas as vidas, todos os seres vivos, todas as espécies, humanas ou não. Chega a ser vergonhoso eventos que exploram, escravizam e maltratam animais em nome da suposta diversão humana.
Já é absurdo a prática dos rodeios ser considerada uma cultura e ganhar o nome de “esporte”. Só se for um esporte criminoso e cruel, já que nenhum animal explorado e machucado nos eventos gostaria de estar ali.
Para marcar a retomada do projeto “Rodeio Pela Vida”, animais da espécie humana que se julgam superiores e são considerados erroneamente como profissionais e campeões, estarão mais uma vez torturando animais de outras espécies em nome de um prazer cruel e uma diversão tola.
Em 2019, Asa Branca, considerado o maior locutor da história dos rodeios do Brasil, revelou os maus-tratos que presenciou durante os eventos ao longo de sua carreira, mostrando arrependimento por fazer parte de um mundo tão cruel.
Conheça a realidade dos rodeios
Segundo Asa Branca, dos rodeios grandes aos pequenos, a festa era de alegria para o público, mas de dor e sofrimento para os animais.
Revelou ainda que os competidores usavam um aparelho para emitir choques de 12 volts com o objetivo de fazer com que os bois saltassem de forma mais frenética, para garantir boas notas diante dos juízes, além de outras formas de tortura.
Martins (2009, p. 369-372), em seu parecer sobre utilização de animais em rodeios, afirma que entre os instrumentos mais utilizados em rodeios para fazerem os animais corcovearem, podem ser apontados:
“Sedém: é uma espécie de cinta de crina e pelo que se amarra na virilha do animal e que faz com que ele pule. O sedém provoca muita dor, pois comprime a região dos vazios dos animais, na qual se encontram parte dos intestinos e ‘a região do prepúcio, onde se aloja o pênis.’”
“Esporas: as esporas são objetos pontiagudos ou não, acoplados às botas dos peões, servindo para golpear o animal (na cabeça, pescoço e baixo-ventre), fazendo, em conjunto com o sedém e outros instrumentos, com que o animal corcoveie de forma intensa. Além disso, quanto maior o número de golpes com as esporas, mais pontos são contados na montaria. Cabe frisar que, com ou sem pontas, as esporas machucam o animal, normalmente provocando cortes na região cutânea e perfuração no globo ocular.”
“Peiteira: consiste em uma corda ou faixa de couro amarrada e retesada ao redor do corpo do animal, logo atrás da axila. A forte pressão que este instrumento exerce no animal acaba causando-lhe ferimentos e muita dor também. E ainda na peiteira são colocados sinos, os quais produzem um barulho altamente irritante ao animal.”
“E, por fim, quando o animal já está velho ou cansado, golpes e marretadas na cabeça, seguido de choque elétrico, costumam produzir convulsões e são os métodos mais usados com a finalidade de provocar sua morte.”
É injustificável que um “espetáculo” de atrocidades tão bizarras possa ter amparo legal, com apoio de tantos animais da espécie humana que não conseguem enxergar que toda vida importa.
Referências
MARTINS, Renata de Freitas. Parecer: utilização de animais em rodeios. Revista Brasileira de Direito Animal, Salvador, ano 4, n. 5, p. 367-394, 2009. Disponível aqui. Acesso em: 5 out.. 2019.