EnglishEspañolPortuguês

PESQUISA CLIMÁTICA

Estudo indica por que há mais tempestades no Hemisfério Sul do que no Norte

Além de mostrarem a principal causa das assimetrias, os pesquisadores passaram a examinar o aumento das incidências a partir do momento em que foi possível rastreá-las com satélites

7 de dezembro de 2022
3 min. de leitura
A-
A+
Ouça esta matéria:
Pesquisa oferece a primeira explicação concreta para a diferença entre os hemisférios | Foto: Reprodução/Pixabay

Uma das características do clima atual da Terra é que o Hemisfério Sul é mais tempestuoso que o do Norte. Desde o século 19, há registros de que as piores tempestades se concentram ao sul do globo, mas não se sabia o motivo disso.

Uma pesquisa liderada pela climatologista Tiffany Shaw, da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, trouxe a resposta: a circulação oceânica e as grandes cadeias de montanhas no Hemisfério Norte são os responsáveis por esse divergência. Com auxílio de dados de satélite, os cientistas conseguiram verificar que essa diferença entre os hemisférios é de 24%.

Publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas) em outubro, o estudo oferece a primeira explicação concreta para a diferença e pontua que essa assimetria tempestuosa aumentou desde o início da era dos satélites, na década de 1980.

“Descobrir os mecanismos que controlam as tempestades atuais é um passo importante para entender as projeções futuras de tempestades, incluindo seus impactos sociais”, destacam os autores do artigo.

Hemisférios

Apesar da ideia sobre a assimetria do clima estar estabelecida há algum tempo, havia dificuldade de fazer uma validação definitiva. Isso porque, na maioria das vezes, o clima é analisado por via terrestre, e o Hemisfério Sul tem muito mais oceanos do que o Norte, o que dificulta o processo.

No novo estudo, Shaw se uniu a Osamu Miyawaki, pesquisador no Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, e Aaron Donohoe, da Universidade de Washington, nos EUA, para reunir várias linhas de evidência, teorias e simulações baseadas na física do clima da Terra. “Usamos modelos climáticos baseados nas leis da física e realizamos experimentos para testar nossas hipóteses”, conta a pesquisadora, em comunicado.

A assimetria de tempestade observada foi simulada em um modelo atmosférico forçado com topografia e fluxos de energia de superfície climatológicos. O modelo captou tanto a estrutura espacial quanto a assimetria de tempestades extratropicais, que é de 23% no modelo e de 24% nas observações.

A primeira variável testada foi a topografia. Em locais onde há grandes montanhas o fluxo de ar é menos intenso, de forma que reduz as tempestades — o que se aplica à metade norte do globo. O outro motivo tem a ver com a circulação oceânica. Naturalmente, a corrente marítima afunda no Ártico, sobe perto da Antártida e depois chega perto da superfície, carregando energia com ela. Isso cria uma diferença de energia entre os dois hemisférios.

Perigo crescente

Além de mostrarem a principal causa das assimetrias, os pesquisadores passaram a examinar o aumento das incidências a partir do momento em que foi possível rastreá-las com satélites. Desde a década de 1980, o Hemisfério Sul vem ficando ainda mais tempestuoso, enquanto a mudança média no Hemisfério Norte foi insignificante.

As mudanças na tempestuosidade do Hemisfério Sul foram conectadas às mudanças no oceano. Eles descobriram que uma influência oceânica semelhante está ocorrendo no Norte, mas seu efeito é anulado pela absorção da luz solar devido à perda de gelo marinho e neve.

Os cientistas descobriram que os modelos usados ​​para prever as mudanças climáticas como parte do relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostravam os mesmos sinais – tempestades crescentes no Hemisfério Sul e mudanças insignificantes no Norte.

Ter uma compreensão profunda dos mecanismos físicos por trás do clima e sua resposta às mudanças causadas pela humanidade são cruciais para prever e entender o que acontecerá à medida que as mudanças climáticas se aceleram.

“Ao estabelecer essa base de entendimento, aumentamos a confiança nas projeções de mudanças climáticas e, assim, ajudamos a sociedade a se preparar melhor para seus impactos”, finaliza a climatologista.

Fonte: G1

Você viu?

Ir para o topo