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Encontro de Libertação Animal discutiu soluções e caminhos para o abolicionismo

23 de fevereiro de 2011
6 min. de leitura
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(da Redação)

Com o objetivo de afiar a filosofia de libertação animal para usá-la como uma ferramenta que ajude a desmantelar o atual sistema de dominação antropocêntrica (capitalista, patriarcal, tecnoindustrial) e não como uma alternativa de consumo “livre de crueldade”, foi realizado o segundo Encontro de Libertação Animal, de 19 a 25 de janeiro, na região de Los Yungas, Bolívia.

Cerca de 200 pessoas de diferentes partes do mundo compartilharam a partir de sua realidade, conceitos, erros, acertos, críticas e diferentes formas de interpretar e exercitar a libertação animal.

A organização do Encontro foi autogerida e horizontal. Algumas reuniões virtuais foram realizadas para tomar decisões pontuais e, conforme as pessoas foram chegando a La Paz, elas foram se envolvendo com diversas tarefas como, por exemplo, o planejamento do cronograma ou as compras de alimentos. Depois de iniciado o Encontro, todos participantes colaboraram com as tarefas cotidianas (limpeza, cozinha etc.) e houve espaço para propor e realizar novas atividades. Decisões, como, por exemplo, a de não utilização de registro fotográfico ou áudio, de segurança, foram tomadas em conjunto entre todos. Outra decisão conjunta foi a de doar o dinheiro que sobrou do Encontro aos presos de Chile e México.

Pouco menos da metade dos custos (comida, aluguel e transporte) foram cobertos por doações realizadas por indivíduos, jantares veganos e jornadas beneficentes, como as realizadas em Barcelona (Espanha) e São Paulo (Brasil).

Somando a totalidade dos gastos, se dividiu pela quantidade de pessoas inscritas, em uma tentativa de fazer restar algum excedente para investir em causas de interesse geral. Portanto, a sugestão de colaboração voluntária por pessoa foi de U$10,00 (10 dólares), o que incluía a alimentação dos 5 dias (4 refeições diárias), aluguel do espaço e transporte de La Paz até o local do Encontro (3h de viagem e difícil acesso). Essa colaboração não era obrigatória e cada pessoa colaborou conforme sua possibilidade.

Sempre levando em consideração os objetivos do Encontro, qualquer pessoa pôde sugerir e responsabilizar-se por uma atividade, sempre e quando expusesse os objetivos e fundamentos. Por este motivo, duas atividades foram negadas; uma de caráter de proteção/bem-estarista/legalista e outra de um grupo religioso. Infelizmente seis pessoas que haviam se comprometido a apresentar atividades não compareceram ao Encontro, quatro delas avisaram com antecedência, o que prejudicou significativamente o cronograma. Independentemente disso, as outras 16 atividades (e mais outras 5 que surgiram durante o Encontro), foram de grande importância e geraram intensos debates e aprendizados. Vale citar a crítica ao reformismo e ao capitalismo verde, bem como a vinculação da libertação animal com a libertação da terra, humana e total, que esteve presente na maioria das propostas.

Sex. 21/9h – Ecologismo Revolucionário X Ambientalismo: O chamado ecocapitalismo, o desenvolvimento sustentável, as políticas verdes, tratados, convênios etc., são somente reformas, que por meio do discurso verde, continuam destruindo grande parte da natureza, animais, plantas, “recursos” com megaprojetos, do progresso e do desenvolvimento capitalista fazendo desaparecer etnias, animais, ecosistemas. É uma guerra silenciosa. Além de uma introdução sobre o tema, o grupo também comentou sobre o avanço do progresso na região ocupada pelo estado boliviano.

Sex. 21/10h45 – Ecologia Descolonizada: Como em muitos lugares se conseguiu conservar uma forma de vida não antropocêntrica, resistindo à colonização e a imposição de novos costumes, políticas e religiões?

Sex. 21/17h – O Sistema Tecnoindustrial e a dominação de nossas vidas: Se vivemos amontoados nas cidades, destruímos os “recursos naturais” do planeta, contaminamos o meio ambiente ou temos uma vida totalmente dominada e vigiada é única e exclusivamente porque o tecnossistema precisa para continuar progressando. O responsável pela apresentação não compareceu, porém um grupo de pessoas decidiu improvisar e seguir com a atividade programada.

Sex. 21/19h – Apresentação do documentário “La Boa Negra” [A Jiboia Preta]: Em 19 de junho de 2010, novamente o rio Marañon (Peru) sofre um derramamento de petróleo. Este documentário não somente mostra o desastre ambiental causado pela extração de hidrocarbonetos na Amazônia Peruana, mas também serve como ponto de partida para criticar o modelo de desenvolvimento industrial. Com a presença dos realizadores do documentário, houve uma conversa informativa muito rica e um debate sobre as realidades destrutivas em lugares onde atuam empresas petroleiras.

Sáb. 22/9h – Mapeamento de grupos de libertação animal no Brasil: Pesquisa que mostra como diferentes grupos abolicionistas no Brasil estão atuando, segundo as características de suas respectivas regiões. O responsável pela apresentação não compareceu, porém um grupo de pessoas decidiu improvisar e seguir com a atividade programada.

Sáb. 22/10h45 – Apresentação do projeto “Red Verde por la Liberacion”: coletivo de La Paz, apresenta sua proposta para coordenar atividades em rede.

Sáb. 22/15h – Espaço de intercâmbio de experiências: Em pequenos grupos, ativistas de diferentes latitudes compartilham suas experiências, acertos, erros, projetos etc.

Dom. 23/10h45 – Apresentação do livro: Liberacion animal: Mas que Palabras: A libertação animal não é uma dieta e com a apresentação do livro se pretende debater sobre os diferentes métodos que podem ser utilizados para consegui-la. O livro espanhol foi reeditado pela editorial argentina Mas Que Palavras, e pode ser encontrado na internet.

Dom. 22/15h – Libertação Animal ou Libertação Total?: São nossas atividades reformistas ou revolucionárias? Após a leitura do conto “O Navio dos Tolos”, realizamos uma reflexão a respeito. O conto foi lido entre todos e houve discussões, numa das quais se criticou o universalismo.

Dom. 22/19h – Repressão e Solidariedade na luta pela libertação animal: Porque existem tantos ativistas presos? Como é possível sermos solidários com eles? Quais são as medidas que devemos tomar? Em uma conversa informativa, presos pela libertação animal e suas causas de todo mundo foram lembrados, assim como a campanha SHAC e formas de como ser solidário.

Seg. 23/9h – Animais não  humanos, humanos e máquinas de hierarquização: Quais são os mecanismos que sustentam o especismo? Quais similaridades existem com o sexismo e/ou racismo? Coletivo CALEP de Bogotá apresenta o tema.

Seg. 23/10h45 – Ecofeminismo: Por que será que os animais mais explorados na indústria alimentícia (vacas leiteras e galinhas botadoras) são fêmeas?

Seg. 23/15h – Refletindo sobre o patriarcado: O que é o sistema patriarcal e de que maneira este repercute sobre nossas relações com nós mesmos e o resto da natureza? O tema foi discutido em grupos exclusivos de mulheres, de homens e também mistos.

Fóruns, debates, noturnos e informais: todas as noites, qualquer pessoa poderia sugerir um tema para debate (podendo-se aprofundar algum tema abordado durante a jornada ou qualquer outro) para ser discutido entre quem estivesse interessado. Temas como segurança cibernética, amor livre, crudivorismo, entre outros foram propostos e discutidos.

Atividade Corporal: Nada melhor que começar a manhã com uma atividade física, por isso a partir das 7h foram realizadas oficinas de autodefesa, aikido e yoga.
Oficinas: Fitoterapia, pemacultura, autogestão da saúde feminina e outras oficinas que aconteceram de forma simultânea.

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