Durante uma noite inteira, o pit bull mestiço que guardava uma locadora de vídeo em Santos (72 km de São Paulo) chorou sem parar. Sensibilizados, os vizinhos invadiram o local para socorrer o cachorro, mas ele morreu.
O episódio, ocorrido em julho deste ano, é um indicativo do tratamento precário a que são submetidos os cães de guarda. Empresas que fazem o aluguel são proibidas na cidade, mas atuam clandestinamente e são alvo de denúncias por negar comida e abrigo aos animais.
Em São Paulo, onde o aluguel é liberado, a ONG PEA (Projeto Esperança Animal) também recebe denúncias de maus-tratos todo mês.
Em Curitiba, a delegacia de proteção ao ambiente recebe ao menos duas denúncias mensais. “Na maioria dos casos, os cachorros ficam expostos ao tempo e não têm comida nem água”, diz o delegado Ivan José de Souza.
Para conter o problema, um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados busca classificar como crime ambiental a locação desses animais.
Multas
Em Santos, a Coprovida (Coordenadoria de Proteção à Vida Animal da prefeitura) passou a multar, em julho, os clientes que alugam os animais, em sua maioria, construtoras e imobiliárias. Foram sete punições até agora.
A reportagem da Folha presenciou o momento em que uma van do Canil Barreto levou um pit bull para passar a noite em duas casas desocupadas na cidade.
O cão foi deixado no local e passou o começo do seu turno de trabalho brincando com um pote de água vazio. No Paraná, até o único canil autorizado, o Feroz Cães de Guarda, possui condenação por maus-tratos. A sentença diz que os cães sofriam “abuso de carga de trabalho” e ficavam dias sem cuidados.
Canis negam ar tratamento precário a animais
O Canil Barreto admite atuar em Santos mesmo sem estar regularizado. O proprietário, Marcos Barreto, diz que está processando a prefeitura por cassar o alvará.
Sobre o pit bull que morreu em julho, Barreto diz que faltam exames que atestem a causa da morte. Ele afirma ainda que os cães que trabalham por uma noite são alimentados no canil e têm água em abundância e uma cama para dormir.
Já a coordenadora da Coprovida (órgão da prefeitura), Leila Abreu, diz que Barreto não apresentou o alvará de funcionamento em Cubatão, cidade para a qual migrou seu canil, como exige a lei.
Em Curitiba, a Feroz nega maus-tratos e diz que nenhuma das denúncias resultou em condenação. “A empresa está buscando desenvolver o controle [dos animais] da melhor forma”, diz a advogada Carisi Miguel.
Fonte: Folha