A bióloga Vanessa Rodrigues Granovskaya está no grupo de 42 brasileiros que deixaram a Ucrânia e voltaram ao Brasil no dia 10 de março em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). Grávida de dez semanas, ela conta à ANDA que viveu momentos assustadores junto de seu marido e o cãozinho da família, Thor.
“Sigo com medo, apesar de não estar mais dentro da guerra, mas meu marido está lá. Tenho esperança que isso pare o mais rápido possível. A única coisa que posso fazer agora é rezar para que cheguem em um acordo, porque os civis já perderam tudo”, lamenta a brasileira.
Vanessa lembra que no dia que “estourou a guerra”, ela e o marido Vladimir Granovski, que continua na cidade de Lviv, ficaram em choque. “As pessoas entraram em pânico, correram para postos de combustíveis, supermercados, bancos e tudo se esgotou no primeiro dia. Não tinha mais dinheiro nos caixas. Quem tinha condições foi embora de carro o que congestionou todas as saída”, lembra.
Após três dias vivendo momentos de pânico, a Vanessa e Thor conseguiram chegar na Polônia. “Thor tem mais de 12 anos, é um buldogue francês que entrou na nossa vida quando estávamos no México, então ele é mexicano. É um cãozinho saudável, nunca teve problemas com voos, então ele nos acompanha para onde formos. É como um filho. Nunca passou pela minha cabeça deixá-lo para trás”, afirma.
Vanessa conseguiu mobilizar uma campanha nas redes sociais para ter autorização de embarcar com Thor. O relato foi postado no Instagram da ativista Luisa Mell e recebeu milhares de curtidas, compartilhamentos e comentários.
Aqui no Brasil, morando em Sorocaba (SP) com a família, Thor tem estranhado o calor, mas continua com sua rotina que, segundo a tutora, se resume a passear duas vezes por dia, comer e dormir. “A gente acorda e saímos para passear. A tarde meu sobrinho vem aqui em casa e eles brincam um pouco. Os dois não se conheciam pessoalmente. Depois ele dorme de novo e vamos passear depois que o sol já está baixo, com o clima mais fresquinho”, relata.
Desespero nas estações de trem da Ucrânia
Ela lembra que na primeira estação de trem onde chegou com a ajuda de um vizinho, muitas famílias aguardavam por um trem junto de seus animais domésticos.
“Muitos gritos e choros. Os policiais armados que tomavam conta das estações gritavam para passar primeiros mulheres e crianças. E quando você consegue descer para a plataforma, era uma sensação horrorosa. Eu me sentia na Segunda Guerra Mundial indo para um campo de concentração. Os trens abarrotados de gente. Um desespero. Acabamos não entrando no trem”, lembra.
Vanessa se emociona ao relatar histórias de famílias, que no desespero para pegar o trem, acabaram deixando seus animais domésticos para trás. “Na hora de subir no trem, o desespero para fugir da guerra, fez com que muitas pessoas deixassem seus animais nas estações. Eu não julgo essas pessoas. Tenho certeza que se elas levaram seus animais até a estação, era porque queriam continuar com eles. Mas o desespero era tanto, que acabavam indo embora sem eles. Eu tenho certeza que elas nunca vão se perdoar. Eu jamais me perdoaria”, conta a bióloga.
“Eu rezo que esses animais encontrem acolhimento das pessoas boas que estão por lá”, continuou.
Ela conta que tem muitos voluntários e ONGs ajudando no resgate dos animais nas fronteiras com a Polônia. “Eu acredito que exista muito mais pessoas boas do que ruins no mundo. Vendo tudo o que eu vi dentro da Ucrânia, ainda fico feliz de ver que essas pessoas fazem toda a diferença”, disse.
A ida para a Ucrânia
Vanessa foi para a Ucrânia em 2019 depois que o marido recebeu uma proposta da empresa onde trabalhava para atuar no país europeu. “Vladimir foi primeiro e passou um ano e meio checando se a proposta valia a pena, porque mudar de país gera muito custo e se fosse um contrato rápido, não valeria a pena. Eu continuei trabalhando no Brasil, mas quando ele disse que valia a pena a mudança, pedi demissão e fui para Ucrânia com o Thor”, lembra.
Os dois são biólogos e trabalhavam com biotecnologia. Com a chegada da Covid-19, Vanessa conta que a empresa estava crescendo rápido com a venda de kits de diagnósticos e as perspectivas na empresa eram boas. Porém, com a guerra, ela precisou abandonar os projetos e retornar ao Brasil.