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Doze considerações sobre um vegano

18 de julho de 2016
5 min. de leitura
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O conceito pré-formado, que chamamos de (pré) conceito, é um grande muralha. Bloqueamos o caminho que nos levaria a conhecer outras pessoas com suas razões e lógicas. Seria tão bom somente ouvi-las sem a necessidade de se armar intelectualmente para rebater cada linha que não seja igual a nossa. De onde veio tamanha chatice? Parece que nossas ideias são tão frágeis que temos que evitar, por receio, as ideias do outro. Somos também, altamente, sugestionados pela aparência alheia. Outra muralha. Dependendo de como a pessoa se apresenta, já nos fechamos, como se sua “capa” infectasse sua palavra.
Gostamos daquilo que já conhecemos. Apesar da plasticidade de nosso cérebro, os neurônios tendem a refinar caminhos já escolhidos. É mais econômico. Socialmente é assim que funciona também. Quando mudamos algo já estabelecido, o que mais encontramos são pessoas nos desestimulando: “Mexe com isso não! Sempre foi assim!” Invocam a tradição, a cultura, a religião etc. Quer saber? Considero esses “desestimuladores ambulantes” indispensáveis. Eles ou elas é que irão testar se a mudança que estamos querendo é forte ou não. Os comentários contrários ao que nós pensamos é que nos dão a medida: conseguimos justificar nossa decisão ou posição? Só precisamos ser honestos. Questiono, pois tenho genuíno interesse, e não para ser o chato da hora. Sem as barreiras de contenção da tradição, da cultura, da religião, da família, intuo que as grandes e pequenas causas perderiam as tensões que lhes concedem impulsão e força para crescer.
Digo tudo isso, pois vivi essas experiências quando comecei a aproximar da proposta vegan. E olhe que já tinha mais de 40 anos! Ainda assim, parecia um corpo estranho ameaçando a normalidade da paz mundial! Pensando nisso, resolvi facilitar as coisas e abordar doze pontos que irá ajudá-lo a entender melhor o seu familiar ou amigo que é ou será vegano.
1- O vegano é, em sua essência, um abolicionista. Ele tem como primeira motivação e convicção o dever ético em relação aos animais e defende seus direitos: a vida, a integridade física e a liberdade. Para além da alimentação, há um boicote a todo tipo de negócio, atividade, roupa ou entretimento que utilize animal como meio, mercadoria, atração ou ingrediente.
2- O vegano é alguém do bem, da paz e da não violência. A existência de um vegan só traz benefícios e impactos positivos na vida dos animais, das pessoas e do planeta. Então, ao invés de desestimular, incentive!
3- O termo inglês Vegan foi criado em 1944 por Donald Watson (faleceu em 2005). Não é a mesma coisa que vegetariano, que, normalmente, tem motivações ligadas à saúde. Entretanto, muitos vegetarianos estão na transição para o veganismo. Eu mesma levei três anos nessa mudança.
4- Vegan não é ser “natureba”. Em relação à alimentação, a única restrição que a própria pessoa se impõe, é não ingerir nada de origem animal. No mais vale tudo. Há vegano que adora Coca, Chips e batata frita (aqui em casa tenho um desses); outros, somente comem alimento integral, orgânicos, crus etc.
5- Vegan come muitas coisas. Não se trata de dieta restritiva, ao contrário, é bem expansiva. Engloba alimentos de todas as cores (do branco ao verde escuro), texturas e sabores. Restritivo é o cardápio que nos é oferecido. Tudo com carne, leite e ovo. Até a alface tem queijo escondidinho! Um vegano é incentivado a diversificar, a provar alimentos e ler rótulos. Aliás, vegano é um leitor de rótulos.
6- Veganismo não é religião e nem dieta, é um modo de viver. Um vegan pode ser católico, protestante, budista, ateu ou espírita.
7- Um vegano precisa cuidar da vitamina B12 (encontrada nos produtos de origem animal). A B12 presente em algas e alimentos fermentados é diferente da que necessitamos para o nosso metabolismo. Apesar de muitos alimentos industrializados virem enriquecidos, não é bom descuidar. Mas é simples demais!
8- Vegano não necessariamente “adora gatinhos e cachorrinhos”. A relação extrapola essa seleção e amplia para todos os animais ao reconhecer o direito dentro da sua especificidade, naquilo que a natureza inscreveu em seus corpos. Quem era defensor da abolição da escravatura dos negros não necessariamente os amava. Consideravam errado escravidão e ponto final.
9- Ser vegano não é ser magro e fraco. Se você sempre foi, como é o meu caso, é provável que continue sendo. Comendo de tudo e com uma boa orientação, você ganha disposição e saúde. Um dos homens mais fortes do mundo é vegano. É atleta de força strongman e se chama Patrik Baboumian. Detentor do título de “O homem mais forte da Alemanha”. Enorme! Então, nada de rótulos!
10- Vegan não é hippie ou maconheiro, apesar de que pode ser tudo isso ou fazer o tipo extremo oposto. Sou uma senhora de 54 anos, casada há 33 anos e mãe de dois filhos. Como se pode perceber, não faço o tipo doidona. Olhe o preconceito!
11- Comida vegan é cara? Depende. Você encontra tudo o que precisa no sacolão, ou então pode comprar um produto específico industrializado, importado ou mesmo um queijo vegan da Superbom por 30 reais a peça. Tudo é uma questão de mercado (e de grana). Quanto mais pessoas demandarem produtos vegan, mais “o mercado” vai entender que vale a pena investir, produzir mais e abaixar os preços.
12- Vegano não se preocupa apenas com os animais enquanto há tantas crianças abandonadas ou coisas do gênero! Muitos veganos são sensíveis a várias causas simultaneamente. Antes de falar, pense: qual é a sua bandeira? O que você faz por alguém ou por alguma causa? Que ótimo! Parabéns. Vamos seguir juntos melhorando as condições de vida para todos os seres que vivem e que querem viver.

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