São muitos os motivos que podem levar uma pessoa a optar por uma dieta vegetariana. Seja esse motivo a saúde, o meio ambiente, a religião ou os animais, a opção sempre causará mudanças em seu hábito alimentar diário, o que impactará a sua saúde. Por esse motivo, todos os vegetarianos, mesmo os que não fizeram essa opção por saúde, devem observar alguns cuidados nutricionais.
A primeira questão que vem à mente dos iniciantes é com relação à ingestão de proteína. Questionar a proteína em uma dieta vegetariana é como um reflexo involuntário, haja vista que a nossa sociedade tende a considerar a carne como sinônimo de proteína, o que não é verdadeiro. As proteínas são formadas por aminoácidos e todos os aminoácidos essenciais à nutrição humana podem ser encontrados nos alimentos de origem vegetal. Todos. O termo aminoácido essencial refere-se àqueles aminoácidos que precisam ser consumidos, pois não podem ser fabricados pelo corpo. Uma vez digerida a proteína e transformada em aminoácidos, o corpo não diferencia se esse aminoácido veio de um animal ou de um vegetal, pois a substância final é uma só.
É fato que existem aminoácidos que só estão presentes na carne, mas esses não são do tipo essencial, ou seja, não precisam ser ingeridos, pois há outras vias para a sua obtenção, como por exemplo a sua fabricação a partir de aminoácidos essenciais. Já que as proteínas podem ser obtidas em uma dieta vegetariana, resta saber quais são os alimentos fonte. Castanhas, nozes, amêndoas, sementes (como a de gergelim e a de girassol), feijões, grão-de-bico, lentilha, ervilha, soja e derivados são todos fontes riquíssimas de proteínas. A chave para conseguir todos os aminoácidos essenciais é variar ao máximo esses alimentos, optando a cada dia por duas ou mais fontes e alternando-as a cada dois ou três dias.
O ferro é tido como outro quase sinônimo da carne, mas isso também não é verdadeiro. É fato que a carne é muito rica em ferro, mas isso não significa que ela seja a única fonte útil desse mineral. O ferro pode ser encontrado em todos os alimentos citados acima (fontes de proteína) e ainda nos vegetais verdes-escuros, no melado-de-cana e nas frutas secas. O ferro encontrado nas carnes pode ser mais bem absorvido do que o ferro encontrado nos vegetais. No entanto, o ferro encontrado nos vegetais será mais bem absorvido quando o estoque de ferro estiver baixo, ou seja, desde que haja demanda, o ferro encontrado nos vegetais é mais bem aproveitado, o que o caracteriza como sendo uma fonte adequada. Esse fato pode ser comprovado quando constatamos que a incidência de anemia entre a população vegetariana não é maior do que a incidência de anemia entre a população onívora (que come carne).
A única questão nutricional verdadeira é sobre o consumo da vitamina B12, pois essa vitamina, que é produzida por bactérias, de fato não pode ser encontrada nos alimentos de origem vegetal, sendo necessária a sua suplementação na forma de suplemento oral. Essa questão se aplica especialmente aos veganos, que são os vegetarianos que não consomem ovos ou laticínios.
Também para os veganos, o cálcio pode parecer um nutriente de risco, mas essa preocupação se deriva de outro mito semelhante aos anteriores, o mito de que o cálcio é sinônimo de leite, o que não passa de mais uma confusão, dessa vez incentivada pela indústria do leite. O ser humano é o único animal que consome leite depois de passado o período de amamentação. Mesmo dentro da nossa espécie, nós não fazíamos uso de laticínios há poucos séculos com a mesma intensidade com que fazemos hoje. Em um momento anterior, não fazíamos qualquer uso depois de encerrado o período de amamentação. Muitas civilizações nativas preservam esse hábito até hoje. Sendo assim, de onde que a nossa espécie sempre obteve o cálcio, e de onde os veganos o obtêm hoje? O cálcio pode ser obtido de fontes vegetais como as leguminosas, oleaginosas, vegetais verdes-escuros, melado-de-cana e frutas secas, ou seja, as mesmas fontes de ferro. Com isso, ao procurar ingerir o cálcio, o vegano ingere também o ferro e vice-versa.
É justamente esse o motivo que explica o fato de os veganos terem um risco muito baixo de desenvolver anemia, pois os alimentos vegetais são sempre muito ricos em ferro e vêm acompanhados do cálcio. Já o leite é um alimento rico em cálcio e pobre em ferro e a carne tem característica oposta, sendo rica em ferro e pobre em cálcio. Sendo assim, para obter ambos o ferro e o cálcio, o onívoro deve consumir dois alimentos diferentes, ambos ricos em gordura, especialmente gordura saturada, e colesterol, além de serem pobres em fibras e substâncias antioxidantes. A conclusão é que para obter esses dois minerais em uma dieta onívora é preciso comer mais calorias, com mais gorduras e sem substâncias protetoras. Já em uma dieta vegana, esses nutrientes podem ser obtidos nos mesmos alimentos, acompanhados de menos calorias, menos gordura e uma abundância de fibras e substâncias com efeito antioxidante.
Quando uma dieta vegana é praticada com critério, temos essas características positivas, e o resultado, além de ter garantida a ingestão dos nutrientes essenciais, é a redução do risco de desenvolver doenças crônicas e degenerativas tais como diabetes, obesidade, doenças cardiovasculares e algumas formas de câncer. Na verdade, já faz mais de 20 anos que a investigação científica acerca do tema das dietas vegetarianas deixou de ter como foco as possíveis carências nutricionais e passou a se interessar mais pelos efeitos protetores da dieta vegetariana. Apesar de ainda prevalecerem entre o público leigo as questões acerca das carências alimentares na dieta vegetariana, a investigação científica atual já esgotou o tema em sua maior parte, superando a pergunta “é possível ser vegetariano?” para dar lugar à pergunta “por que os vegetarianos gozam de melhor saúde?”