EnglishEspañolPortuguês

Desaparecimento de tucanos prejudica árvores da Mata Atlântica

2 de junho de 2013
2 min. de leitura
A-
A+

O desaparecimento de pássaros grandes, como tucanos e arapongas, tem consequências muito mais graves do que se pensava.

Pesquisadores brasileiros viram que o sumiço desses animais em pontos da Mata Atlântica pode afetar a evolução das árvores na floresta.

Tucano (Foto: Divulgação)
Tucano (Foto: Divulgação)

Isso acontece por um motivo aparentemente banal: como essas aves têm o bico grande, conseguem comer –e, consequentemente, espalhar sementes maiores.

Quando só restam as de bico pequeno, como o sabiá-una, só as sementes menores são dispersadas.

Essa mudança exerce pressão sobre a evolução das plantas. Cada vez mais, apenas as que têm sementes pequenas se reproduzem, levando as gerações seguintes a também serem assim.

“As sementes menores são menos resistentes à seca. Em alguns casos, basta uma redução de 20% na quantidade de água para que elas não germinem”, afirma Mauro Galetti, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e líder do trabalho publicado na “Science”.

Com o aquecimento global, a tendência é que os períodos de seca se intensifiquem. Com a mudança das sementes, a floresta fica ainda mais vulnerável.

Há décadas estudioso da dinâmica de dispersão de sementes, Galetti aproveitou o extenso conhecimento e seu banco de dados sobre a palmeira chamada de palmito-juçara (Euterpe edulis) para desenvolver seu trabalho.

Araponga (Foto: Divulgação)
Araponga (Foto: Divulgação)

Ele e um grupo de cientistas analisaram diversos aspectos da planta em 22 áreas da Mata Atlântica no país.

O bioma é o mais afetado pelo desmatamento no Brasil, restando hoje só cerca de 12% da sua cobertura original. A maioria dessas áreas -quase 80%- está fragmentada demais para que as grandes aves frugívoras sobrevivam. Já as pequenas conseguem resistir mesmo em áreas menores.

Além disso, as aves grandes também sofrem com a caça e a captura.

“Há muito já sabemos que essas aves têm um papel importante. A novidade é que as mudanças estão acontecendo em um ritmo muito acelerado. E é uma mudança evolutiva, não só ecológica”, diz Galetti.

Segundo o pesquisador, o fato de o palmito-juçara ter um ciclo de vida mais rápido ajudou os cientistas a notar essa influência. No caso de árvores cujo desenvolvimento leva mais tempo, como as da floresta amazônica, demoraria mais para que o fenômeno fosse percebido.

Embora o trabalho tenha sido feito na Mata Atlântica, os pesquisadores não descartam que essas mudanças possam ocorrer também na Amazônia, uma vez que a queda no número de grandes aves é observada em vária regiões.

“Mesmo se as populações de grandes pássaros voltarem a crescer, já não há como alterar a questão das sementes, pois não haverá mais o genótipo da planta de semente grande para ser reproduzido. Pode ser, sim, um caminho sem volta.”

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo

Você viu?

Ir para o topo