por Augusta Scheer (da Redação)
Apesar das críticas de defensores de animais, as feiras regionais de DuPage e Lake, ambos condados do estado norte-americano de Illinois, acontecerão esse mês e incluirão a exploração cruel de animais para fim de entretenimento. As informações são do site Chicago Tribune.
Afirma-se que os eventos forçarão três macacos-prego, além de cachorros, a se apresentarem na feira. O número se chama “Banana Derby” e consiste em fantasiar os macacos de jóqueis e colocá-los para “cavalgar” em cachorros.
O público norte-americano tem um histórico de exploração animal para entretenimento. Ao longo de muitas décadas, animais como macacos, elefantes e baleias foram usados para divertir plateias, sendo que não havia nenhuma preocupação com o bem-estar dos animais.
Mais recentemente, a opinião pública ficou dividida, diante das denúncias feitas por ativistas e das questões morais suscitadas por eles. Muitos norte-americanos encaram as críticas de defensores de animais como um exagero politicamente correto, mas está evidente que, em geral, a concepção das pessoas está mudando.
Por exemplo, duas companhias circenses, Ringling Bros. e Barnum & Bailey, anunciaram recentemente que deixarão de explorar elefantes em seus espetáculos, porque muitas cidades norte-americanas já proibiram a prática. Já a marca SeaWorld Entertainment Inc. está lutando para reconquistar a confiança do público, que foi alertado para a crueldade desse tipo de atração turística por causa do documentário “Blackfish”, filme que expõe as atrocidades cometidas contra baleias orca nos parques SeaWorld.
Alguns ativistas direcionam sua luta para a obtenção de direitos legais para os animais. Em Nova York, o Nonhuman Rights Project está envolvido numa disputa judicial, argumentando que os dois chimpanzés Hercules e Leo, prisioneiros em um laboratório da Universidade Stony Brook, são titulares do direito à “liberdade corporal”, razão pela qual exigem a libertação imediata dos primatas.
Práticas antigas e tradicionais, como os rodeios, passaram a ser bastante questionados pelos norte-americanos. Presidente do comitê de direito animal da Bar Association em Chicago, Alan Borlack demonstra otimismo: “Você percebe um esforço real da sociedade para começar a proteger os animais. Há 25 anos, ninguém diria que Ringling Bros. acabaria com o uso de elefantes.”
A Humane Society se pronunciou contra o número Banana Derby, a ser apresentado nas feiras de Lake e DuPage, descrevendo-o como “cruel e antinatural”. Os organizadores do evento se defenderam, igualando a atração a um zoológico (e demonstrando que não conhecem a longa batalha pelo fim do aprisionamento de animais selvagens nessas instituições).
Infelizmente, o Banana Derby continua sendo usado para atrair o público às feiras regionais, mas um número crescente de pessoas questiona o uso dos animais na apresentação. Aparentemente, os macacos-prego são amarrados aos cães, fato que despertou a sensibilidade de algumas pessoas. Debbie Leahy, da Humane Society, disse que a entidade foi “inundada com reclamações contra esses zoológicos viajantes.”
“As pessoas estão começando a reconhecer que animais têm suas próprias necessidades,” conta Leahy, para quem a lei federal de bem-estar animal é muito branda. Leahy conta também que o Departamento de Agricultura não fiscaliza as condições de vida de animais selvagens aprisionados. Segundo a defensora, alguns dos animais explorados na indústria do entretenimento sofrem abandono fora da época de apresentações e muitos são assassinados quando se tornam grandes demais.
Em pronunciamento, o Departamento de Agricultura afirmou que estabelece “padrões mínimos de cuidado.” A agência afirma que regulamenta o alojamento, salubridade, nutrição, acesso à água e a cuidados veterinários. A fiscalização é aleatória e os resultados são divulgados no site do Departamento. Essa postura tem sido claramente insuficiente para extinguir a exploração e a tortura dos animais no país.
Apesar dos tímidos avanços, os crimes contra animais continuam em alta nos Estados Unidos. O advogado Thomas Gooch sentiu na pele os efeitos dessa cultura de crueldade e exploração, pois foi ameaçado pela polícia ao protestar contra um rodeio anual em Illinois no ano passado. O advogado estaria incitando as pessoas a boicotarem o evento (que é patrocinado pelos empresários locais), quando policiais ameaçaram prendê-lo. “É revoltante. Eu não machuco animais e não gosto de quem faz isso. Particularmente aqueles que maltratam animais e lucram com isso.”
No rodeio desse ano, que aconteceu recentemente, o público foi proibido de fotografar e gravar o evento, certamente para impedir que ativistas divulgassem na internet a brutalidade da atividade.
“Parece haver um movimento sólido contra o uso de animais para entretenimento,” observa Cathy Liss, presidente do Instituto de Bem-Estar Animal da cidade de Washington.
Liss mencionou a reação do público ao documentário “Blackfish”, de 2013. Desde então, a marca SeaWorld (que é um dos assuntos do filme) vem sendo duramente criticada pelo povo norte-americano. No entanto, os parques SeaWorld não demonstraram nenhuma intenção de eliminar a tortura e a exploração animal em seus estabelecimentos, nem mesmo em resposta ao documentário.
O Instituto de Bem-Estar Animal vem militando contra a exploração de elefantes para entretenimento, e cidades como Los Angeles já impuseram proibições e limitações à prática. Isso influenciou a decisão de empresas como Ringling Bros., que não conseguiria atender às novas regulações municipais de muitas cidades.
Os 13 elefantes asiáticos previamente torturados e explorados pela empresa irão agora se juntar a outros 30 que vivem num santuário de conservação na Flórida.
Cathy Liss aponta que ainda há muito trabalho pela frente, por exemplo, para libertar os camelos explorados pelas empresas circenses, mas a crescente conscientização do público, além das novas legislações progressistas, certamente constituem uma pequena vitória.