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AUSTRÁLIA

Construção de porto ameaça dugongos, golfinhos e orcas

3 de novembro de 2021
Royce Kurmelovs (The Guardian) | Traduzido por Cibele Garcia
5 min. de leitura
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Foto: Ben Fitzpatrick

Quando atende o telefone, Matt Oakley está na água supervisionando um grupo de turistas que vieram nadar com tubarões-baleia.

É uma das várias empresas de turismo do homem de 47 anos, para pessoas que são atraídas para o idílico Golfo de Exmouth pela sua beleza natural e vida selvagem – os dugongos, golfinhos, orcas e outras espécies marinhas raras que habitam essa área relativamente subdesenvolvida.

Contudo, a maior razão pela qual as pessoas vêm, ele afirma, é para nadar com as baleias-jubarte quando elas aparecem em julho devido a sua migração ao sul.

“É cheio de baleias”, ele diz. “Há dezenas de milhares delas. Elas chegam diretamente aqui.”

A cada ano as baleias passam pela costa de Ningaloo, uma área listada como patrimônio mundial na costa centro-norte da Austrália ocidental. O recife próximo a costa de 260 km de extensão, e o Golfo de Exmouth na lado oriental da península – a 13 horas de carro ao norte de Perth – serve como um ponto de passagem para as mães jubarte descansarem com seus filhotes, tomarem sol e engordarem em preparação para a longa viagem à Antártica.

Agora, porém, com uma proposta de um novo porto na área, Oakley diz estar preocupado com o impacto que essa e outras propostas podem ter no ambiente natural.

“No fim das contas, quando você coloca tantos navios com uma grande quantidade de hélices em um lugar no qual há muitos animais presentes, a vida selvagem vai ficar em segundo plano”, afirma ele.

Exmouth tem familiaridade com propostas de desenvolvimento. Sua entrada na lista de patrimônio mundial em 2011 foi o resultado de uma campanha ferrenha financiada pelo aclamado autor Tim Winton.

Mesmo tendo sido uma vitória, a lista não incluiu o próprio golfo, o que significa que ele foi deixado à disposição para propostas de novas operações industriais que reviveram a campanha Proteja Ningaloo.

O capítulo mais recente começou em resposta ao plano anunciado em 2018 que teria construído um gasoduto de aço de 10 km para atender os campos de gás offshore, mas sem o conhecimento de quem se opunha à construção, outros estavam sendo desenvolvidos para a área.

Apenas quando o governo da Austrália ocidental interveio ano passado pedindo para que os detalhes fossem expostos que, sob pressão devido às preocupações da comunidade com o projeto SubSea7, a Autoridade de Proteção Ambiental (EPA) foi encarregada de conduzir uma revisão holística das pressões cumulativas no ecossistema local.

Por meio desse processo a comunidade de Exmouth tomou conhecimento sobre o plano da Gascoyne Gateway Ltd de construir um cais de 900 metros em águas profundas, cerca de 10 km ao sul do munícipio de Exmouth, e um terceiro da K+S chamado projeto Ashburton, que construiria uma instalação de produção de sal.

A EPA lançou seu relatório em agosto concluindo que “os valores do Golfo são frágeis e há um risco de que os impactos das pressões existentes e potenciais possam não ser sustentáveis quando consideradas cumulativamente.”

Agora está sob consideração pela ministra de meio ambiente da Austrália ocidental, Amber-Jade Sanderson.

No tempo que levou, o projeto SubSea7 foi retirado em dezembro do ano passado, forçando a campanha Proteja Ningaloo a mudar de rumo e focar no que dizem ser a próxima ameaça maior: o porto proposto.

Agora estão pedindo ao governo da Austrália ocidental para incluir formalmente o Golfo de Exmouth na área protegida de Ningaloo. Paul Gamblin, da Proteja Ningaloo, diz que ao fazer isso ofereceriam certeza a uma comunidade que está em uma encruzilhada entre dois futuros concorrentes.

“Exmouth está sendo tratada como uma extensão de Pilbara, com um grande projeto industrial sendo proposto um atrás do outro”, diz Gamblin. “O que nos preocupa é o desenvolvimento pesado que causa impactos por um longo período de tempo.”

Gamblin, que diz não ser contrário ao desenvolvimento da área, afirma que a região deveria planejar seu futuro em torno de uma “administração adaptativa”, ao se apoiar em indústrias como a do turismo que podem ser ampliadas ou reduzidas quando necessário.

Entretanto, aqueles por trás do projeto do porto, como o CEO da Gascoyne Gateway e o diretor administrativo, Michael Edwards, dizem que o turismo é parte do problema.

Com muitos turistas, que não podem viajar para outros lugares, agora dirigindo de Perth ao norte para as férias, Edwards afirma que uma explosão na atividade está colocando pressão adicional na cidade e no ecossistema.

“A EPA tomou uma decisão que não é imaculada, e apenas está indo ladeira abaixo – e isso está acontecendo por causa do turismo em massa e a mudança climática.”

Caso seja construído, Edwards afirma que qualquer porto será neutro em carbono desde o primeiro dia e ajudará a controlar essa atividade ao manter o tráfego marinho em zonas específicas e longe da vida selvagem.

Também será utilizado para “facilitar diversas outras atividades” incluindo permitir a exportação de produtos agrícolas da região de Carnarvon, para defesa e para proporcionar um lugar para petroleiros realizarem uma operação de reabastecimento, que atualmente ocorre dentro do parque marinho uma vez ao ano.

Outros, contudo, advertem que improvisar acesso para atividades industriais trará, inevitavelmente, mais tráfego marinho com o tempo.

O bilionário da mineração, Andrew Forrest, com o redesenvolvimento proposto para o Ningaloo Lighthouse Resort, está entre aqueles com planos para a região, no entanto sua caridade filantrópica, a Fundação Minderoo, abriu recentemente uma unidade de pesquisa marinha em Exmouth, sob o programa Flourishing Oceans.

O executivo chefe do programa, Dr Tony Worby, descreveu o recife como um “bem natural extraordinário” e disse que deve ser protegido.

“Não somos anti desenvolvimento, somos a favor da conservação do oceano,” diz Worby. “Temos preocupações com qualquer industrialização dentro do golfo que tenha o potencial para um impacto prejudicial no ambiente marinho.”

Worby afirma não querer destacar nenhum projeto específico, uma vez que há diversos na região dos quais ele tem conhecimento, contudo acrescenta que seria cauteloso com qualquer proposta que tentasse apontar dano histórico na área para justificar novos desenvolvimentos.

Quando você segue o caminho de grandes desenvolvimentos industriais, você fecha um caminho para a região que irá perdurar por décadas, ou séculos”, afirma Worby. “Quanta pressão mais queremos adicionar? Essa é a questão.”

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