EnglishEspañolPortuguês

Conheça os bastidores da indústria das corridas de cavalos

13 de novembro de 2010
16 min. de leitura
A-
A+

Por Adriane R.O. Grey (da Redação – Austrália)

Corridas de cavalos sempre foram associadas à imagem de um esporte glamouroso: socialites gastam fortunas em modelos novos, há fartura de champanhe consumida e milhares de pessoas apostam de milhões de dólares nos animais competidores. Em Melbourne, Austrália, realiza-se a Copa de Melbourne [Melbourne Cup] todo início de novembro, tradicional e milionária corrida celebrada com feriado público.

Mas por trás do suposto espetáculo qual é a verdadeira vida de um cavalo de corrida? O que acontece com milhares de cavalos que não conseguem chegar ao nível de desempenho desejado para a competição?

A venda de potros e potrancas de puro sangue atrai a chamada “horsey crowd”, constituída por compradores com muito dinheiro. Vendas de cavalos jovens, com idade média de um ano, chegam a dezenas, às vezes centenas, de milhares de dólares e as apostas começam no momento em que se efetua a compra do animal. A expectativa comum de compradores e os treinadores é de adquirir um vencedor potencial que se tornará o próximo grande campeão. Se isso não acontecer, esperam ao menos recuperar seu investimento.

Esporte cruel: os cavalos são submetidos a condições além dos limites de sua capacidade física. Foto: sem crédito

A indústria tem números grandes e assustadores: por volta de 17.000 equinos puro sangue são criados a cada ano na Austrália, além do número similar de cavalos não puro sangue que nascem anualmente.

Competindo já aos 2 anos, os animais são extremamente vulneráveis a traumas e lesões. Seus ossos não estão completamente formados nesta idade e, enfrentando uma rotina de duros treinamentos e de estresse físico constante, os cavalos são submetidos a condições além dos limites de sua capacidade. Mesmo assim, apesar dos riscos que as corridas impõem a estes jovens indivíduos, muitos donos pressionam os treinadores para que seus animais – pelos quais pagaram muito dinheiro – comecem logo a competir.

No período de treinamento, quando não estão na pista de corrida, os cavalos permanecem a maior parte do dia no estábulo, instalação pertencente a área da própria pista. Mantê-los no estábulo é a maneira mais prática de garantir uma dieta apropriada para o desempenho desejado e um treinamento de alto rendimento para os animais competidores, além de economizar tempo no transporte do animal até a pista de corrida. No entanto, sem socialização e sem interação com o meio ambiente, comportamentos estereotipados como roer o estábulo e auto-mutilação ocorrem com frequencia, indicando forte insatisfação e frustração dos cavalos constantemente presos.

A qualquer momento na Austrália, 31.000 animais estão treinando ou competindo, explorados pela indústria de corridas.

Lesões ósseas e musculares e claudicação causam sofrimento considerável em cavalos de qualquer idade sob treinamento. Foto: sem crédito

Dietas de grãos altamente concentradas para garantir um melhor desempenho dos animais causa-lhes úlceras gástricas: um estudo sobre os cavalos de corrida de Randwick, em Nova Gales do Sul detectou que 89% dos animais sofria de úlcera e muitos animais apresentavam intenso sangramento nas primeiras 8 semanas de treinamento (NEWBY, J. “Welfare issues raised by racehorse ulcer study”, The Veterinarian, março de 2000).

Lesões ósseas e musculares e claudicação também causam sofrimento considerável em cavalos de qualquer idade sob treinamento.

O esforço das corridas leva a sangramento nos pulmões e na traquéia (HPIE – Hemorragia Pulmonar Induzida por Exercício). Esta é uma descoberta recente, possibilitada pelo uso de exames endoscópicos. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Melbourne mostrou que 50% dos cavalos examinados apresentava sangue na traquéia e 90% tinha sangue nos pulmões.

Quando os animais não apresentam um bom desempenho nas competições, as corridas com saltos apresentam-se como grande alternativa para os proprietários-investidores, especialmente nos estados de Vitória e Austrália do Sul. Estudos estatísticos desenvolvidos durante anos mostram que a corridas com obstáculos apresentam um número muito maior – e inaceitável – de fatalidades: 20 vezes mais do que as corridas comuns. Este fato não é surpreendente se considerarmos que em torno de 10 cavalos pulam, correndo,  o mesmo obstáculo ao mesmo tempo numa série de barreiras de mais de um metro.

O esforço das corridas leva a sangramento nos pulmões e na traquéia (HPIE - Hemorragia Pulmonar Induzida por Exercício). Foto: sem crédito

Além disso, as corridas com obstáculos são geralmente muito mais longas e os jóqueis podem ser mais pesados. Animais cansados estão muito mais propensos ao erro, machucando a si e, muitas vezes, ao jóquei.

Os traumas sofridos pelos cavalos quando caem ou batem nas barreiras podem ser horríveis. Grupos de proteção animal estão exgindo a proibição desta competição na Austrália.

“Por que os cavalos feridos são geralmente mortos a tiros” é a pergunta que se repete entre os assistentes da corrida sempre que ocorre um acidente com um animal. Mas seu aborrecimento dura apenas o tempo em que uma proteção é providenciada pelos organizadores de corridas e é rapidamente transportada e instalada entre o animal ferido e a platéia, protegendo-lhes da verdadeira brutalidade do espetáculo.

Quando um cavalo quebra uma perna ou um ombro, os ossos podem partir-se em muitos pedaços tornando a sua recomposição muito difícil pelo tratamento veterinário. No entanto, mesmo quando a recuperação é possível, não há probabilidade de que o cavalo possa voltar a correr. E mesmo que haja esta possibilidade, o processo de cura é caro, difícil e não necessariamente satisfatório – muitos animais feridos desenvolvem infecções, especialmente pneumonia – para que valha o esforço e o investimento de seus proprietários.

Podemos contar nos dedos de uma ou duas mãos os campeões da Copa de Melbourne que hoje gozam de uma aposentadoria merecida em uma fazenda ou em um santuário. Em sua maioria, os animais de ambas as modalidades de corrida são descartados pela indústria que os criou e explorou, quando seu rendimento deixa de ser satisfatório ou quando são vítimas de lesões.

Os cavalos de corrida são descartados pela indústria que os criou e explorou, quando seu rendimento deixa de ser satisfatório ou quando são vítimas de lesões.Foto: Nick Wilkinson / EFE

Boa parte dos animais são destinados ao abate. Alguns vão para matadouros locais que os usam principalmente para produção de ração – aproximadamente 20.000 cavalos por ano – ou são enviados para outros dois matadouros do país, um em Peterborough, Austrália do Sul, e outro em Caboolture, Queensland, direcionados mais especificamente à exportação. Exporta-se aproximadamente 3.500 toneladas de carne de cavalo são para o consumo humano no Japão e na Europa.

Quando os cavalos são transportados vivos, enfrentam longas distâncias numa trajetória que não é regulada ou monitorada. O deslocamento é muito desgastante para os cavalos. Pesquisas mostram que mesmo uma viagem de 6 horas causa falha no seu sistema imunológico (um indicador de maus tratos) e, quando levados para certos matadouros, os cavalos podem viajar por vários dias.

Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Sydney (‘Epidemiology of horses leaving the Thoroughbred and Standardbred racing industries, by Hayek AR, Jones B, Evans DL, Thomson PC and McGreevy PD – Proceedings of the 1st International Equitation Science Symposium August 2005) buscou fazer um mapeamento do destino de ex-cavalos de corrida. Consonante com outras pesquisas, descobriu-se que 40% dos animais de raça deixam a indústria a cada ano devido a baixo rendimento, doenças, ferimentos resultantes de acidentes e problemas de comportamento, entre outros. Dentre estes, 6,3% de animais puro sangue e 16,6% de cavalos não puro sangue acabam em matadouros.

Os pesquisadores destacam, no entanto, que os entrevistados tendem a esconder o destino dos cavalos que vão para os matadouros, o que deve aumentar esta porcentagem. Igualmente, animais leiloados acabam por ser encaminhados ao mesmo destino mais tarde, resultando em uma estatística muito mais sombria do que a desejada.

A indústria das corridas de cavalo não é diferente de nenhuma outra indústria que se baseia no uso de animais. Da mesma forma, ela determina o valor de um indivíduo pela sua capacidade de dar retorno lucrativo. A ética da indústria de apostas já é por si só questionável, mas quando a aposta envolve carne, osso e sangue haverá inevitavelmente poucos vencedores e muitos perdedores. Na melhor das hipóteses, os animais vivem uma vida restrita e artificial enquanto estão competindo e, na pior, terminam como lixo a ser descartado e eliminado em matadouros. A glória almejada pelos donos e treinadores e admirada pelo público é uma imagem mítica muito distante dos gritos dos abatedouros que esperam a maioria dos cavalos sem rendimento ideal na competição. O glamour das corridas é uma ilusão burra e conveniente para uma platéia confortavelmente alienada.

Divulgar esta informação é uma maneira de ajudarmos a fazer cair esta máscara.

Veja você mesmo a realidade dos bastidores desta indústria no vídeo disponível na página da Animals Australia.  Atenção: o vídeo contém cenas filmadas nos matadouros.

Corridas de cavalos sempre foram associadas à imagem de um esporte glamouroso: socialites gastam fortunas em modelos novos, há fartura de champanhe consumida e milhares de pessoas apostam de milhões de dólares nos animais competidores. Em Melbourne, Austrália, realiza-se a Copa de Melbourne [Melbourne Cup] todo início de novembro, tradicional e milionária corrida celebrada com feriado público.

Mas por trás do suposto espetáculo qual é a verdadeira vida de um cavalo de corrida? O que acontece com milhares de cavalos que não conseguem chegar ao nível de desempenho desejado para a competição?

A venda de potros e potrancas de puro sangue atrai a chamada “horsey crowd”, constituída por compradores com muito dinheiro. Vendas de cavalos jovens, com idade média de um ano, chegam a dezenas, às vezes centenas, de milhares de dólares e as apostas começam no momento em que se efetua a compra do animal. A expectativa comum de compradores e os treinadores é de adquirir um vencedor potencial que se tornará o próximo grande campeão. Se isso não acontecer, esperam ao menos recuperar seu investimento.

A indústria tem números grandes e assustadores: por volta de 17.000 equinos puro sangue são criados a cada ano na Austrália, além do número similar de cavalos não puro sangue que nascem anualmente.

Competindo já aos 2 anos, os animais são extremamente vulneráveis a traumas e lesões. Seus ossos não estão completamente formados nesta idade e, enfrentando uma rotina de duros treinamentos e de estresse físico constante, os cavalos são submetidos a condições além dos limites de sua capacidade. Mesmo assim, apesar dos riscos que as corridas impõem a estes jovens indivíduos, muitos donos pressionam os treinadores para que seus animais – pelos quais pagaram muito dinheiro – comecem logo a competir.

No período de treinamento, quando não estão na pista de corrida, os cavalos permanecem a maior parte do dia no estábulo, instalação pertencente a área da própria pista. Mantê-los no estábulo é a maneira mais prática de garantir uma dieta apropriada para o desempenho desejado e um treinamento de alto rendimento para os animais competidores, além de economizar tempo no transporte do animal até a pista de corrida. No entanto, sem socialização e sem interação com o meio ambiente, comportamentos estereotipados como roer o estábulo e auto-mutilação ocorrem com frequencia, indicando forte insatisfação e frustração dos cavalos constantemente presos.

A qualquer momento na Austrália, 31.000 animais estão treinando ou competindo, explorados pela indústria de corridas.

Dietas de grãos altamente concentradas para garantir um melhor desempenho dos animais causa-lhes úlceras gástricas: um estudo sobre os cavalos de corrida de Randwick, em Nova Gales do Sul detectou que 89% dos animais sofria de úlcera e muitos animais apresentavam intenso sangramento nas primeiras 8 semanas de treinamento (NEWBY, J. “Welfare issues raised by racehorse ulcer study”, The Veterinarian, março de 2000).

Lesões ósseas e musculares e claudicação também causam sofrimento considerável em cavalos de qualquer idade sob treinamento.

O esforço das corridas leva a sangramento nos pulmões e na traquéia (HPIE – Hemorragia Pulmonar Induzida por Exercício). Esta é uma descoberta recente, possibilitada pelo uso de exames endoscópicos. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de Melbourne mostrou que 50% dos cavalos examinados apresentava sangue na traquéia e 90% tinha sangue nos pulmões.

Quando os animais não apresentam um bom desempenho nas competições, as corridas com saltos apresentam-se como grande alternativa para os proprietários-investidores, especialmente nos estados de Vitória e Austrália do Sul. Estudos estatísticos desenvolvidos durante anos mostram que a corridas com obstáculos apresentam um número muito maior – e inaceitável – de fatalidades: 20 vezes mais do que as corridas comuns. Este fato não é surpreendente se considerarmos que em torno de 10 cavalos pulam, correndo, o mesmo obstáculo ao mesmo tempo numa série de barreiras de mais de um metro.

Além disso, as corridas com obstáculos são geralmente muito mais longas e os jóqueis podem ser mais pesados. Animais cansados estão muito mais propensos ao erro, machucando a si e, muitas vezes, ao jóquei.

Os traumas sofridos pelos cavalos quando caem ou batem nas barreiras podem ser horríveis. Grupos de proteção animal estão exgindo a proibição desta competição na Austrália.

“Por que os cavalos feridos são geralmente mortos a tiros” é a pergunta que se repete entre os assistentes da corrida sempre que ocorre um acidente com um animal. Mas seu aborrecimento dura apenas o tempo em que uma proteção é providenciada pelos organizadores de corridas e é rapidamente transportada e instalada entre o animal ferido e a platéia, protegendo-lhes da verdadeira brutalidade do espetáculo.

Quando um cavalo quebra uma perna ou um ombro, os ossos podem partir-se em muitos pedaços tornando a sua recomposição muito difícil pelo tratamento veterinário. No entanto, mesmo quando a recuperação é possível, não há probabilidade de que o cavalo possa voltar a correr. E mesmo que haja esta possibilidade, o processo de cura é caro, difícil e não necessariamente satisfatório – muitos animais feridos desenvolvem infecções, especialmente pneumonia – para que valha o esforço e o investimento de seus proprietários.

Podemos contar nos dedos de uma ou duas mãos os campeões da Copa de Melbourne que hoje gozam de uma aposentadoria merecida em uma fazenda ou em um santuário. Em sua maioria, os animais de ambas as modalidades de corrida são descartados pela indústria que os criou e explorou, quando seu rendimento deixa de ser satisfatório ou quando são vítimas de lesões.

Boa parte dos animais são destinados ao abate. Alguns vão para matadouros locais que os usam principalmente para produção de ração – aproximadamente 20.000 cavalos por ano – ou são enviados para outros dois matadouros do país, um em Peterborough, Austrália do Sul, e outro em Caboolture, Queensland, direcionados mais especificamente à exportação. Exporta-se aproximadamente 3.500 toneladas de carne de cavalo são para o consumo humano no Japão e na Europa.

Quando os cavalos são transportados vivos, enfrentam longas distâncias numa trajetória que não é regulada ou monitorada. O deslocamento é muito desgastante para os cavalos. Pesquisas mostram que mesmo uma viagem de 6 horas causa falha no seu sistema imunológico (um indicador de maus tratos) e, quando levados para certos matadouros, os cavalos podem viajar por vários dias.

Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Sydney (‘Epidemiology of horses leaving the Thoroughbred and Standardbred racing industries, by Hayek AR, Jones B, Evans DL, Thomson PC and McGreevy PD – Proceedings of the 1st International Equitation Science Symposium August 2005) buscou fazer um mapeamento do destino de ex-cavalos de corrida. Consonante com outras pesquisas, descobriu-se que 40% dos animais de raça deixam a indústria a cada ano devido a baixo rendimento, doenças, ferimentos resultantes de acidentes e problemas de comportamento, entre outros. Dentre estes, 6,3% de animais puro sangue e 16,6% de cavalos não puro sangue acabam em matadouros.

Os pesquisadores destacam, no entanto, que os entrevistados tendem a esconder o destino dos cavalos que vão para os matadouros, o que deve aumentar esta porcentagem. Igualmente, animais leiloados acabam por ser encaminhados ao mesmo destino mais tarde, resultando em uma estatística muito mais sombria do que a desejada.

A indústria das corridas de cavalo não é diferente de nenhuma outra indústria que se baseia no uso de animais. Da mesma forma, ela determina o valor de um indivíduo pela sua capacidade de dar retorno lucrativo. A ética da indústria de apostas já é por si só questionável, mas quando a aposta envolve carne, osso e sangue haverá inevitavelmente poucos vencedores e muitos perdedores. Na melhor das hipóteses, os animais vivem uma vida restrita e artificial enquanto estão competindo e, na pior, terminam como lixo a ser descartado e eliminado em matadouros. A glória almejada pelos donos e treinadores e admirada pelo público é uma imagem mítica muito distante dos gritos dos abatedouros que esperam a maioria dos cavalos sem rendimento ideal na competição. O glamour das corridas é uma ilusão burra e conveniente para uma platéia confortavelmente alienada.

Divulgar esta informação é uma maneira de ajudarmos a fazer cair esta máscara.

Veja você mesmo a realidade dos bastidores desta indústria no vídeo disponível na página da Animals Australia: http://www.animalsaustralia.org/. Atenção: o vídeo contém cenas filmadas nos matadouros.

Você viu?

Ir para o topo