Com o advento dos processos industriais dispersos pelo globo, as sociedades se ampliaram e desenvolveram, em paralelo à ampliação do nosso impacto sobre o planeta e seus ecossistemas.
A emissão contínua de gases de efeito estufa (GEE) geram fenômenos conhecidos como aquecimento, ondas de calor, secas, incêndios florestais, precipitação extrema, inundações, entre outros. No entanto, esses fenômenos impactam não apenas nossas vidas e atividades, como a dispersão e circulação de agentes infecciosos e seus vetores também.
Doenças agravadas pelas mudanças climáticas
Em uma análise publicada pela revista Nature, em 2022, mais de 3 mil exemplos de casos empíricos em que essas ameaças climáticas estavam relacionados com doenças por agentes infecciosos foram identificados. Das 286 doenças observadas, 277 poderiam ter sido agravadas pelas ameaças ao clima.
Segundo a análise, “a compilação de doenças patogênicas agravadas por mudanças climáticos representa 58% de todas as doenças infecciosas relatadas como tendo impactado a humanidade em todo o mundo”.
Mudando a dinâmica dos vetores
Um dos possíveis mecanismos pelos quais podemos ver doenças sendo agravadas ou até novas doenças acometerem diferentes populações pode se dar pela dinâmica de circulação de vetores desses agentes infecciosos. Um dos vetores mais conhecidos são os mosquitos, em que algumas espécies podem transmitir doenças sérias, como o vírus da Dengue, Chikungunya, Febre Amarela, entre outros.
As ameaças climáticas podem influenciar esse padrão de circulação de mosquitos, por exemplo, a partir de mudanças relacionadas a aquecimento e precipitação, que podem fazer com que mosquitos expandam sua distribuição geográfica. E para onde os vetores vão, os agentes infecciosos que provocam doenças também vão juntos.
Um problema global
As alterações comportamentais que podem ser influenciadas por ameaças climáticas vão para além dos mosquitos, podendo afetar pulgas, aves e diversos mamíferos implicados em surtos de vírus, bactérias, protozoários, por exemplo. Esses surtos incluiem dengue, chikungunya, doença de Lyme, vírus do Nilo Ocidental, Zika, tripanossomíase, equinococose e malária, por exemplo, segundo a publicação da Nature.
O comportamento humano também pode ser modificado com as ameaças climáticas. Tempestades, inundações e elevação do nível do mar forçam o deslocamento humano e estão implicados com casos de leptospirose, febre tifóide, giardíase, cólera, hepatite, doenças respiratórias, por exemplo.
Problemas que pulam
A destruição dos ecossistemas podem favorecer um fenômeno chamado spillover (ou “pulos” de agentes infecciosos entre espécies).
O spillover, ou evento zoonótico, tem sido implicado com a própria origem da pandemia da COVID-19, e pode também estar implicado em diversos outros eventos vistos ou que iremos ver no futuro.
Permanência dos mais aptos
Dentro das mudanças climáticas, o aumento da temperatura pode ser um gatilho importante para o surgimento e agravamento de doenças, conhecidas ou novas. Em 2019, pesquisadores publicaram uma hipótese argumentando que podemos ter visto isso para o caso de um fungo conhecido e que causa doenças graves em pessoas imunossuprimidas: Candida auris.
Dificilmente as mudanças climáticas são responsáveis por contar toda a história do múltiplo surgimento desse fungo, mas até que ponto outras espécies de fungos, as quais hoje não são patogênicas para nós, podem se tornar um problema de saúde para nós caso esses fungos sejam capazes de se adaptar e crescer em temperaturas de mamíferos?
Negar as mudanças climáticas e o impacto da humanidade sobre elas é tão preocupante quanto olhar para uma nova doença emergente e optar por fechar os olhos diante dela, torcendo para que, assim, ela suma.
Fonte: METEORED