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NATIVO DO BRASIL

Com nome alterado pela ciência, veado-mateiro-pequeno é o maior animal endêmico da Mata Atlântica

9 de novembro de 2023
3 min. de leitura
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Foto: Rui Teixeira Randi

Há alguns dias, o despachante Rui Teixeira Randi se hospedou em uma pousada, na cidade de Itapira (SP), para rever um amigo, descansar e aproveitar o contato com a natureza. No dia 22 de outubro, teve uma boa surpresa ao encontrar um veado-mateiro-pequeno (Mazama jucunda) próximo a um bananal.

Segundo o pesquisador Márcio Leite de Oliveira, que atua há 29 anos no estudo de cervídeos, a espécie chegou a se chamar Mazama bororo por um tempo, mas mudou de nome em 2021. Isso porque foi descoberto um erro na etiqueta de um museu, na ocasião de nomenclatura, em 1992.

“Daí investigando, fazendo um teste genético com amostras de museus, descobriram que o indivíduo de museu mais antigo daquela espécie tinha sido chamado de jucunda. Então, como na zoologia o nome mais antigo tem prioridade, ficou jucunda”, explica Márcio.

“Foi um encontro marcante! Acordei às 5 h para observar aves na torre do Salve Floresta, mas chegando lá mudei de ideia. Voltando pela trilha, tem um pequeno bananal que divide a pousada da mata e foi lá que vi o veado-mateiro-pequeno, se alimentando de uma bananeira que caiu”, conta Rui.

Sabendo que os cervídeos são ariscos, Rui ficou imóvel e se escondeu atrás de uma bananeira, a cerca de seis metros de distância. Com cuidado, pegou seu equipamento e tirou fotos do animal.

“A câmera estava em modo silencioso de disparo e fotometrada para pouca luminosidade, com baixa velocidade e ISO alto, então aproveitei e fiz uns disparos, imóvel como uma pedra e quase sem respirar”, relembra o despachante.

Pelos pequenos chifres que aparecem nas fotos, Márcio avalia que se trata de um jovem macho da espécie. “Muito provavelmente é um filhote que acabou de perder as pintas, então é um um indivíduo bem jovem”.

Endêmico da Mata Atlântica

Apesar do nome conter a palavra “pequeno”, o Mazama jucunda é o maior animal endêmico da Mata Atlântica, medindo entre 50 e 62 cm de altura do dorso e pesando 25 kg, em média.

Nativo do Brasil e de estatura intermediária, o veado-mateiro-pequeno é um pouco menor que o veado-mateiro (Mazama americana) e um pouco maior que o veado-mão-curta (Mazama nana). Ambos também presentes em território brasileiro.

De acordo com Márcio Oliveira, a espécie tem entre 10 e 15 kg a menos que o veado-mateiro, maior espécie do gênero Mazama.

“Ele ocorre na região da Serra do Mar, desde Santa Catarina até o sul de São Paulo, e há indícios também que ela esteja na Mata Atlântica, entre o Rio de Janeiro, Espírito Santo, até um pedacinho do leste de Minas Gerais”, detalha.

Embora esteja categorizado como “vulnerável” pela lista vermelha da IUCN, não se trata de um animal extremamente raro, como pontua o especialista. Por ser muito arisco e ter hábitos noturnos, acaba sendo pouco avistado na natureza.

“O estilo de vida dele é solitário, não é uma espécie gregária, então os indivíduos ocorrem sozinhos, quando muito tem uma mãe com o filhote”, comenta. O veado-mateiro-pequeno se alimenta de frutos, plantas e ocasionalmente de fungos, líquens e filhotes de aves, quando há ninhos no chão.

“A maior ameaça para essas espécies é o desmatamento e os cães domésticos que ficam soltos nas áreas rurais e invadem os fragmentos florestais em várias unidades de conservações”, diz. Ele conta que, atualmente, há projetos de conservação de cervídeos no Pantanal e alguns monitoramentos vêm ocorrendo na Amazônia, mas nada exclusivamente voltado para a espécie.

Fonte: G1

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