Um coelho resgatado no Canadá chamou atenção no mundo ao sair quase branco de um banho: por baixo da pelagem escura, havia uma camada densa de fuligem e nicotina. O animal, vítima do que especialistas chamam de “fumo de terceira mão”, convivia recluso com moradores fumantes. Embora o caso pareça extremo, está longe de ser isolado e levanta uma questão pouco discutida: até que ponto o cigarro ameaça a saúde dos animais domésticos?
A professora e veterinária Ana Laura Barros, responsável técnica no Centro Médico Veterinário da Faculdade Una Itabira, no Leste de Minas Gerais, afirma que os riscos são sérios e vão muito além do cheiro impregnado na casa. “É realmente possível que a nicotina fique depositada no pelo do animal. Porém, esse é o menor dos problemas. O perigo real é quando ele lambe esse pelo e ingere a substância”, alerta.
De acordo com Ana Laura, o fumo passivo pode causar doenças respiratórias, alergias e até câncer em animais. “Nos felinos, por exemplo, já existe estudo relacionado a exposição à fumaça ao desenvolvimento de linfoma”, explica.
De aves a peixes: nenhum animal está seguro
A fumaça do cigarro comum, do narguilé e até de roupas e objetos impregnados afeta os animais de maneiras diferentes, dependendo da espécie. Segundo a especialista, mamíferos como cães e gatos sofrem com alergias oculares, problemas respiratórios e, a longo prazo, podem desenvolver neoplasias e, no caso dos felinos, até linfoma. “As aves têm um sistema respiratório extremamente sensível, e a convivência com a fumaça pode causar inflamações e até morte súbita”, afirma.
Nem os peixes escapam. No aquário, a fumaça depositada altera a qualidade da água provocando estresse e queda da imunidade. “Eles ficam mais suscetíveis a doenças. Um peixe que boia sem nadar ou perde o apetite pode estar, sim, sofrendo os efeitos do tabagismo passivo do ambiente”, aponta a veterinária.
Quando o corpo do animal dá sinais
Mesmo que a fumaça não deixe marcas visíveis, o organismo dos animais dá sinais de alerta. Tosse, espirros, secreção nasal, falta de ar, conjuntivite e até emagrecimento podem estar ligados à exposição ao cigarro. “No caso das aves, é comum observar penas eriçadas, letargia e silêncio repentino. O tutor que conhece seu animal sabe quando ele não está bem”, ressalta Ana Laura.
Os sintomas, porém, podem ser confundidos com outras doenças — e, muitas vezes, o elo com o cigarro não é percebido. “Pouca gente associa o cigarro ao adoecimento do animal. No entanto, é uma realidade que precisa ser dita com clareza”, diz.
Fumaça no quarto, fuligem no pelo: o perigo invisível
Além do fumo passivo, há ainda o risco de fumo de terceira mão — aquele que se deposita em superfícies, roupas, tapetes e até nos pelos dos animais. É essa fuligem invisível que o coelho canadense carregava no corpo. Mesmo em casas ventiladas, ela persiste.
“A recomendação é clara: não fume perto dos animais, nem dentro de ambientes fechados, como quartos e carros. Evite contato deles com roupas e móveis impregnados de fumaça”, orienta a veterinária.
Um alerta aos tutores fumantes
Ana Laura reconhece que nem todo tutor consegue abandonar o vício imediatamente. Entretanto, acredita que informação pode salvar vidas — humanas e animais. “Se você ainda não consegue parar de fumar, tudo bem, mas proteja seu animal doméstico. Eles não têm escolha. Depende de você cuidar do ambiente em que vivem”, finaliza.
Fonte: Metrópoles