Uma nuvem invisível de 35 km de petróleo está se movendo sob a superfície do Golfo do México, onde provavelmente ficará por meses ou anos, informam cientistas nesta quinta-feira, 19, ao apresentar a primeira evidência conclusiva da presença de uma pluma de óleo causada pelo vazamento da BP.
A parte mais preocupante da descoberta é o ritmo lento com que o óleo está se dispersando nas águas frias, com temperatura inferior a 5º C. Isso faz com que a pluma seja uma ameaça duradoura, mas oculta, para a vida marinha, escrevem especialistas na revista Science.
No início do mês, autoridades federais declararam que o óleo derramado pelo desastre da BP havia “ido embora”, e ele realmente foi, no sentido de que não é mais possível vê-lo. Mas os ingredientes químicos do petróleo persistem, a mais de um quilômetro abaixo da superfície, determinaram os pesquisadores.
E o óleo submerso está se degradando com apenas 10% da velocidade com que ele se decomporia na superfície.
O pesquisador Monty Graham, que não tomou parte no estudo publicado na Science, disse que os autores do artigo falam que a nuvem submarina de óleo pode durar meses. “Mas mais provavelmente poderemos rastrear essa coisa por anos”, afirmou.
O pesquisador da Universidade da Flórida Ian MacDonald, testemunhando perante o Congresso, disse que a “assinatura” do gás e o petróleo “será detectável no ambiente marinho pelo resto da minha vida”.
As gotículas de óleo que formam a nuvem são inodoras e pequenas demais para serem vistas. Uma pessoa, nadando através da pluma, não perceberia nada.
“Não há evidência visível de petróleo nas amostras; elas parecem água limpa”, disse o principal autor do estudo, Richard Camilli.
Os pesquisadores usaram instrumentos complexos – incluindo um espectrômetro de massa submarino – para detectar os sinais químicos do óleo que vazou do poço da BP após a explosão de 20 de abril. O equipamento foi levado ao fundo do mar por dispositivos submersíveis.
Com mais de 57.000 medições, os cientistas mapearam uma grande pluma no fim de junho. Os componentes do petróleo foram detectados num fluxo que mede mais de 1.500 metros de largura e mais de 200 metros de alto a baixo.
O petróleo está a uma profundidade que varia de 900 a 1.200 metros abaixo da superfície, fora do ambiente frequentado por como o atum. Mas isso não o torna inofensivo: é nas profundezas que vivem os pequenos peixes e crustáceos, e uma das maiores migrações do mundo envolve pequenos peixes que vão das profundezas à superfície, levando nutrientes para outras espécies e para os mamíferos marinhos.
Essas pequenas criaturas podem ser prejudicadas ao passar pelo óleo, disse Larry McKinney, diretor do centro de pesquisas de Golfo do México da Universidade Texas A&M.
Com informações do Estadão