Por Dr. Pedro A. Ynterian (Presidente, Projeto GAP Internacional)
Alejandra Juarez estava partindo de seu Santuário de Bugios, na Cumbre da Província de Córdoba, para Santiago del Estero. As notícias que chegaram horas antes de membros do GAP que observavam o chimpanzé Monti, eram preocupantes. As retroescavadeiras destruíam o Zoológico em sua volta, os animais estavam sendo retirados. Monti, um chimpanzé de 45 anos de idade, em seu exíguo cárcere de cimento e ferro, entrava em pânico. Se refugiou no cubículo mais escuro de sua prisão e em quatro dias não tocou nos alimentos.
Ele não entendia o que acontecia, os animais que o acompanharam anos a fio já não estavam mais lá. Porém, as máquinas barulhentas convertiam o entorno da única moradia em sua vida em um monte de entulho e sucatas.
Naquele momento, o terror se apoderou dele, já que pensava que também desapareceria ante a fúria destruidora dos humanos. Suas amigas que o visitaram semanas atrás não tinham aparecido mais – Alejandra e Vânia. Após anos de abandono e solidão, elas lhe deram presentes, amor e esperança de tirá-lo daquele lugar.
Uma cidade egoísta, um Juiz sem personalidade e acomodado, que não queria assumir a defesa do único ser inocente e frágil que lá existia, que era Monti, rechaçou a sua libertação e tinha concordado em construir em volta daquele maldito recinto uma confeitaria para o público se divertir, tendo Monti – o chimpanzé mais antigo do mundo em uma mesma gaiola – como a atração principal.
Monti escolheu seu caminho, refugiado na obscuridade do seu recinto, onde ninguém tinha acesso e morreu de fome, em protesto pela traição que aquela cidade fez com ele, a qual ele foi obrigado a “enfeitar”.
O Juiz Dario Alarcon prometeu a libertação de Monti, solicitou visitar o Santuário no Brasil, para conhecer onde Monti viveria em paz os seus últimos anos de vida, mas quando foi levemente pressionado pelos inimigos dos Direitos Animais, abandonou a causa e entregou Monti à sua sorte, que não poderia ser outra: a sua morte.
Monti, um chimpanzé que, apesar de tudo, não guardava ódio em sua alma atormentada pelo cativeiro e a solidão, é um mártir a mais da arrogância e da vaidade humana. Quantos mais terão que morrer para serem reconhecidos como pessoas e não objetos nas sociedades humanas?