EnglishEspañolPortuguês

Cavalos na região metropolitana: incompatibilidades ambientais e éticas

25 de junho de 2009
3 min. de leitura
A-
A+

Uma análise simples já nos revela o óbvio: animais circulando pelas avenidas causam problemas de saúde pública pois podem causar doenças, trazem sujeira e não se adaptam às condições de uma zona urbana. Eles em si não têm culpa de existirem sob o “domínio” humano, mas causam grandes transtornos se amontoados em grandes cidades. Do mesmo modo que não é muito aconselhável criar porcos ou galinhas em ambiente urbano, circular com cavalos também não é porque o cavalo não tem estrutura física para circular entre carros de um trânsito caótico como o nosso, para caminhar com suas patas de ungulados sobre o asfalto quente e duro, para suportar pesos absurdos de lixo e ainda as famílias que estão em cima dele. Animais como estes que puxam carroça em Porto Alegre não recebem estrutura de acordo com suas necessidades e, além disso, ainda são vítimas silenciosas de maus-tratos inacreditáveis. Esses maus-tratos são comuns e diários, mas só são vistos pela população quando atingem proporções gigantescas e tristes.

Os carroceiros sentem-se vitimados pela aprovação da Lei que proíbe as carroças em Porto Alegre, mas o problema do lixo tem proporções muito maiores e envolve a sociedade como um todo.

Todos os dias a coleta municipal não dá conta de recolher o lixo que é produzido na cidade e muitas pessoas já desistiram de fazer a seleção do lixo em sua própria casa porque carroceiros passam antes da coleta tradicional e espalham tudo pelo chão.

O lixo espalhado não é apenas feio. É feio e, além disso, é fonte de doenças (dengue, leptospirose, tétano, febre tifoide, entre outras), de proliferação de ratos e baratas, é um risco para crianças e animais que caminham nas calçadas e que não sabem escapar de cacos de vidro e comida espalhada. O lixo espalhado não pode ser recolhido pelos caminhões que não possuem estrutura e nem têm obrigação de recolher lixo solto, então se torna um lixo que não interessa a ninguém.

Muitos condomínios permitem a entrada de carroceiros em suas dependências e isto causa revolta entre os moradores, que relatam casos de furtos e outros problemas já documentados em jornais e não mais novidade para ninguém.

A permanência de carroças em Porto Alegre é um problema complexo que envolve vários aspectos da sociedade e a Lei para proibir carroças já vinha com medidas para substituir este tipo de trabalho, que inclusive é de responsabilidade da prefeitura. Na última reunião do Ministério Público, havia esperança por parte dos catadores que lá estavam. Eles nem mesmo mais falavam em carroças. Falaram e apresentaram projetos sobre carrinho elétrico e outras alternativas. Existem projetos esperando para que sejam postos em prática e esperávamos um prazo para que a prefeitura começasse a realizar as atividades previstas na Lei.

As pessoas que vivem da coleta de lixo levam o material para suas casas e não raro estas se transformam em depósitos de lixo, trazendo novamente o risco de doenças como a dengue, por exemplo. Esses materiais, que deveriam ser destinados aos galpões de reciclagem (que já existem), vão parar nas casas dessas pessoas, tornando-as escravas desse modo miserável de vida. Claro que muitos catadores não querem admitir a situação degradante em que vivem tais famílias, até porque muitos deles estão imersos demais em teorias externas, em ideologias esquerdistas e até mesmo alheias a seus próprios interesses. Mas a realidade mostra a degradação em que vivem essas famílias em meio ao lixo, à violência – que é contra o cavalo, mas que também tem consequências na família dessas pessoas.

Com a proximidade da Copa do Mundo, nossa cidade não pode deixar esse problema entregue a si mesmo. Com a chegada de turistas a Porto Alegre, o problema, que já é um grande incômodo a todos, ficará ainda mais evidente, pois não é possível esconder o lixo para debaixo do tapete. Nem mesmo fingir que essas pessoas e animais não existem. Onde se fala em esporte, não pode haver negligência.

Você viu?

Ir para o topo