Brasil e Catar possuem muitas diferenças culturais e quando se fala em animais domésticos, alguns hábitos dos catarianos podem chamar atenção para quem visita o país. O primeiro deles é que os catarianos preferem tutelar animais silvestres, como camelos, falcões e pombos. Outro deles é que, por seguirem o islamismo, os nativos do país costumam tutelar gatos, considerados sagrados na religião, como companhia. Cachorros são menos populares e para o muçulmano tutelar um, é preciso haver uma razão, muitas vezes exploratórias, como proteger a casa, caçar e não para ser tratado como um membro da família.
O mercado de cuidados com animais no país da Copa está cheio de particularidades também, como contam o casal de veterinários brasileiros Julieta e Paulo Cavalcante, que vivem há quatro anos no Catar e trabalham em dois extremos: Enquanto a cearense exerce a profissão em uma clínica de gatos e cães em Doha, o potiguar é o veterinário responsável pelos cavalos que o emir, Tamim bin Hamad Al Thani, possui em uma fazenda que o mandatário da nação comprou do tio, Abdullah bin Hamad, e pretende transformar a propriedade, localizada ao norte da cidade de Al-Khor, em um local de exploração de corridas de cavalos.
No Brasil, Paulo dava aulas na universidade e fazia atendimentos particulares em fazendas. Já no Catar, vive outra situação. “Cuido de 180 cavalos e tenho acesso a muitas tecnologias e equipamentos que existem no Brasil, mas não em abundância e de fácil acesso para todos. Temos um hospital de primeiro mundo aqui para atender cavalos.”.
Ele contou ao Estadão que a Umm Qarn é a fazenda mais tradicional de cavalos explorados para corrida do Catar, infelizmente, lá existe uma tradição neste tipo de exporte cruel.
Cultura do abandono
Se os profissionais brasileiros podem cuidar de animais que recebem bons tratos, eles também convivem com uma realidade terrível no Catar. É comum ver cachorros e gatos na ruas de Doha e outras cidades do país. São animais que foram abandonados por não terem mais poder competitivo ou pelo fato de o tutor achar que o tratamento que deve ser feito no animal é caro e simplesmente decide por largá-lo em algum ponto distante ou até mesmo, no deserto, como é o caso dos cachorros da raça saluki, que participam de corridas e caças esportivas. Mas, ao ficarem doentes ou velhos, perdem o status de animal “útil”.
O Catar, nos últimos meses, também sofreu acusações por ter feito uma matança de cachorros em situação de rua por conta da Copa do Mundo e de 29 animais em um canil nos arredores de Doha, por conta do suposto ataque de um deles a uma criança. Como no país há pouca transparência, os casos só foram descobertos tempos depois e ganharam as manchetes de veículos do mundo todo.
Para Julieta e algumas brasileiras que vivem no país e possuem animais resgatados da rua, essa é uma situação bastante triste, mas não pode ser generalizada a todos os catarianos. A veterinária conta que já presenciou pessoas aparecerem com animais na clínica em que trabalha dizendo que estava abandonado e que querem cuidar, dar as vacinas e adotar. “Mas não tem essa coisa de o animal ser filho deles, apesar de eu ter percebido leves mudanças de uns tempos para cá”.