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Cãozinho atingido por bomba junina se recupera após reconstrução de maxilar e focinho, na Bahia

12 de junho de 2013
4 min. de leitura
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Wagner Ferreira
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Fotos: Divulgação
Fotos: Divulgação

O cachorrinho, da raça daschund (conhecido como salsichinha) brincava no lado de fora da casa onde mora na cidade de Milagres, quando uma criança de sete anos atirou uma bomba junina contra o animal. “Como Marley se afastou, o menino não se deu por satisfeito e colocou outra, desta vez bem perto dele. Acostumado a brincar com alguns objetos, Marley se confundiu e pegou o artefato com a boca”, conta Márcio Moura Silva, 41 anos, guardião do animal. A bomba explodiu na boca do cão, causando muitas lesões no maxilar e focinho.

Márcio conta que pediu ajuda à mãe da criança para transportar Marley até um local onde ele pudesse ser socorrido, mas não foi atendido. Ele e a esposa Marcela de Oliveira então levaram o cão para Salvador, onde tiveram apoio de um amigo que os hospedou nas proximidades da capital. Sem condições financeiras para cobrir os custos das cirurgias, o casal pediu ajuda à vereadora Ana Rita Tavares (PV), eleita com a bandeira de defesa dos animais, e à ONG de proteção animal Terra Verde Viva.

“A vereadora intermediou o contato com a direção do hospital da UFBA e, em conjunto, fizemos uma campanha para arrecadar recursos para o material clínico e os remédios”, conta Ingrid Teixeira, presidente da ONG. Ela conta que conseguiu pouco mais de R$ 400, o suficiente para cobrir os custos. “Havia uma previsão de mais R$ 800 para pagar a implantação de uma placa de metal. Como não houve a necessidade do procedimento, o que arrecadamos foi o suficiente”, afirma Ingrid.

O médico veterinário João Moreira, chefe do setor de cirurgia do hospital Veterinário da UFBA, diz que a recuperação do cachorrinho foi motivo de comemoração para os funcionários da unidade. “Marley chegou aqui com duas fraturas no maxila e uma na mandíbula, dois dias sem se alimentar, infecção instalada, lesões nasal e na gengiva”, conta. Devido à dificuldade para respirar, ele passou por uma traqueostomia e faringostomia, e na última segunda-feira (3), foi operado pelo doutor Marcos Nogueira, especialista na recuperação destes tipos de lesão.

De acordo com o doutor João Moreira, o cão respondeu tão bem à redução das fraturas expostas que não foi necessária a implantação da placa. “Utilizamos uma prótese de resina acrílica que vai ser retirada entre 30 e 40 dias. Ele já respira normalmente e se alimenta com dieta específica, mas aos poucos vai voltar a se alimentar como antes”, afirma o veterinário.

Combate às bombas – A volta de Marley para casa foi a melhor notícia que a família poderia ter após duas semanas de sofrimento. Márcio conta que o cãozinho já começa a andar, mesmo com dificuldade, e está confiante em sua plena recuperação. “Estamos cuidando dele como um bebê”, diz Márcio, que também tem uma filha de cinco anos e outras duas de 15 e 12 anos.

Ele critica o uso das chamadas “bombas”, usadas no período de São João, assim como a que vitimou seu cão. “Nunca gostei de bomba, nem quando eu era criança, ainda mais agora depois do acontecido”, reclama. O caso de Marley foi mais um que a vereadora Ana Rita Tavares usou para justificar o Projeto de Lei nº 414/13 que apresentou à Câmara Municipal de Salvador, sugerindo proibir o uso de fogos de alto poder explosivo na capital baiana, permitindo apenas aqueles que privilegiam os efeitos luminosos.

A vereadora diz que, assim como o cãozinho Marley, centenas de pessoas, entre elas muitas crianças, são vitimadas por esses explosivos durante as festas juninas e também em épocas de finais de campeonatos de futebol, Copa do Mundo e Final de Ano. “Muitas pessoas são mutiladas e, anualmente, são registradas diversas mortes em decorrência desses fogos de alto impacto”, justifica.

No Brasil, de 2008 a abril de 2011, mais de 1300 pessoas foram internadas para tratar queimaduras por acidentes com fogos de artifício, sendo 296 delas apenas no estado da Bahia, como divulgado pelo Sistema de Informações Hospitalares do SUS. E segundo registros do Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM), para o período de 1996 a 2009, o percentual de óbitos de crianças entre 0 e 14 anos foi de 23%. “E esses números não contabilizam os acidentes com animais”, destaca Ana Rita.

A parlamentar diz que não tem o objetivo de acabar com a tradição dos fogos juninos, que é forte no nordeste do País, pois seu projeto de lei permite o uso de fogos que oferecem menos riscos à saúde. “Mas é nossa obrigação como representante da população no Poder Legislativo combater essas bombas terríveis, utilizadas por uma minoria e que, além dos fortes estrondos, causam amplos prejuízos à saúde pública e ao sossego dos cidadãos”, diz Ana Rita.

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