(da Redação)
Quem passeia com um cachorro na coleira em cidades como Pequim e Xangai, se for parado por autoridades conhecidas como “Chengguan”, deve imediatamente apresentar uma licença atualizada de tutela do cão; caso contrário, seu animal pode ser apreendido e morto. As informações são da Speak up for the Voiceless.
Um poodle licenciado foi recentemente espancado até a morte na frente de seu tutor quando saíra de casa para uma caminhada. Gritando que seu cão estava licenciado, ele foi jogado ao chão pelas autoridades e viu o seu animal ser repetidamente espancado com uma vara de bambu bem em frente aos seus olhos, e depois ter seu corpo ensanguentado e quebrado atirado no vagão onde havia outros cães massacrados. O tutor, cujo nome não foi revelado, foi deixado na calçada, chorando incontrolavelmente.
Este comportamento horrível vem ocorrendo há décadas, mas até agora tem sido um dos pequenos segredos sujos da China. Não são apenas cães que são mortos, mas todos os tipos de animais domésticos, incluindo gatos, coelhos e assim por diante.
Quando um animal tutelado por um estrangeiro é espancado até a morte por esses homens, os tutores muitas vezes temem falar, devido à ameaça real de deportação. E quando trata-se do animal de um cidadão chinês, eles também aceitam, por medo de retaliação contra a sua família.
Ativistas na China têm encontrado a força para continuar a lutar pelos animais, apesar da pressão do governo chinês e da complacência de muitas pessoas.
Conheça abaixo alguns casos de violência policial contra os animais no país:
Cem cães enterrados vivos
Em abril de 2014, resgatadores de animais do abrigo Yinchuan Pets Home foram notificados de que “havia alguns cães em um buraco”, segundo o porta-voz Li Yeh. O número de animais era na verdade de mais de uma centena de cães adultos e filhotes que foram jogados no fundo de um poço de seis metros de profundidade, que havia sido cavado com máquinas pesadas, o que sugeria que funcionários do governo estivessem por trás da escavação.
A localização era perto de um depósito de lixo em Alxa League, perto da fronteira da China com a Mongólia, onde os cães são considerados como pragas. As equipes de resgate de animais foram notificadas sobre “alguns cães em um buraco” mas, devido às circunstâncias, não puderam comparecer até a manhã seguinte.
Na manhã seguinte, eles chegaram ao local do poço e ficaram absolutamente horrorizados. O poço havia sido preenchido durante a noite e era possível ouvir o choro dos animais proveniente de debaixo da superfície da terra recentemente coberta. Os 100 cães incluindo adultos e filhotes tinham sido enterrados vivos pelo governo chinês. “Era possível ouvir alguns choramingando quando começamos a cavar”, disse Li Yeh.
Cavando com as mãos, as equipes de resgate só conseguiram recuperar quatro animais vivos: um cachorro recém nascido e três cães adultos. Aproximadamente noventa seis cães e filhotes morreram por terem sido enterrados vivos. Os quatro animais sobreviventes estavam severamente traumatizados, desidratados e feridos.
Outro socorrista disse: “Mesmo para os padrões locais, este foi um ato bárbaro e cruel”. No dia seguinte, as equipes de resgate voltaram ao local apenas para descobrir que a área havia sido escavada e os 96 cães mortos tinham sido removidos para um lugar desconhecido, em uma tentativa das autoridades governamentais, conhecidas como “Chengguan”, de encobrir suas ações.
“Nós contratamos uma escavadeira e encontramos no local onde os cães foram enterrados, seis corpos de cachorros que foram danificados por uma escavadeira antes de chegarmos lá”, disse o socorrista voluntário Fan. Em outras palavras, os socorristas, em vez de descobrir 96 cães, só encontraram seis cães, e com marcas de ferimentos graves que acusavam ter sido feitos por uma escavadeira.
“Todos esses cães tinham terra em suas bocas e focinhos, o que significa que, antes de chegarmos, os Chengguan já haviam transferido os outros corpos para algum lugar secreto”.
Como esperado, um funcionário do escritório local negou as acusações e disse que uma investigação tinha sido lançada. O membro do Chengguan disse à AFP: “Estamos investigando se alguns cães vadios (sic) foram enterrados vivos. Eu posso garantir que não fizemos esse tipo de coisa, e além disso, não somos responsáveis por cães vadios (sic)”.
Oficialmente considerado uma espécie de mesa de administração urbana e de aplicação da lei na cidade, o Chengguan opera em todas as comunidades na China. O departamento tem uma reputação de tratamento desumano das pessoas a quem monitoram – geralmente os mais pobres da sociedade chinesa. No início do mês de abril de 2014, quatro deles foram espancados quase até a morte por uma multidão depois de testemunhar um oficial Chengguan matando um comerciante de rua com um martelo.
50 mil cães espancados até a morte, incluindo filhotes
Há alguns anos, apenas 3% dos cães chineses foram vacinados contra a raiva, e um condado na província de Yunnan massacrou 50 mil cães porque três pessoas morreram da doença. Muitos desses cães eram animais de companhia, que foram espancadas até a morte na frente de seus tutores desesperados.
Grupos de direitos animais dizem que o assassinato em massa de cães mostra a incompetência dos governos chineses em lidar corretamente com a raiva ou outros problemas de saúde de rotina. “Eu acho que isso é completamente insano”, diz Zhang Luping, fundadora do Centro de Educação Ambiental de Pequim. “Isso prejudica a nossa imagem nacional e estabelece um exemplo muito ruim”. Ela afirma que não havia leis sob as quais os cidadãos conseguiriam parar os assassinatos.
Fontes da Saynotodogmeat.net na China disseram que “Gangues têm assassinado cães sem licença há mais de vinte anos, mas a comunidade internacional não parece saber muito sobre isso. Acontece especialmente em áreas mais abastadas, como Pequim e Xangai, onde muitos estrangeiros vivem, mas eles não denunciam. As taxas de licença de cães em Pequim e Xangai são muito caras; no entanto, em cidades menos ricas, são mais baratas”.
Segundo a ONG, no dia 11 de julho de 2014, a gangue de batedores de cães de Shijazhuang começou o seu massacre bárbaro. “No dia 13, vizinhos relataram ter visto os batedores indo de porta em porta para capturar cães. Mesmo cães licenciados eram levados, e assassinados. Nós ouvimos o som de lamento dos cães em toda a cidade”, contam os ativistas.
Cão de tutor estrangeiro espancado até a morte
Em maio deste ano um homem britânico que vive em Pequim e trabalhava como professor em uma escola internacional também teve seu cão chamado One-Eyed-Jack espancado até a morte, diante dele. (O nome do professor foi ocultado, para sua segurança).
O cão estava dentro do regulamento de tamanho e tinha sido um cão em situação de rua, conhecido carinhosamente como “One-Eyed-Jack’, antes de ser adotado recentemente pelo professor. O animal tinha acabado de receber as vacinas do veterinário e estava esperando chegar a sua licença.
Quando abordado por funcionários, o professor explicou a situação (em mandarim), sobre o veterinário e a adoção, mas os funcionários empurraram-no para o chão e se recusaram a sequer ouvi-lo.
Dois cães Mastiff Tibetano de um fazendeiro espancados até a morte
Em novembro de 2013 dois cães da raça Mastiff Tibetano de um fazendeiro chinês foram caçados e, durante horas, espancados com pás e varas de bambu e, por fim, baleados várias vezes pela polícia. Ambos os cães eram dóceis, viviam em uma fazenda e por acidente foram parar na cidade vizinha. Por apresentarem tamanho maior do que o permitido, foram assassinados.
A foto mostra um dos cães se escondendo em sua própria propriedade. O cão já havia sido severamente golpeado e espancado, como se pode ver pelos respingos de sangue em volta dele no chão de concreto.
De acordo com a ONG, ao examinar uma foto de outro ângulo foi possível, também, ver a sua língua encharcada de sangue, e sua perna ensanguentada, que possivelmente fraturou por ter sido esmagada repetidamente com pás. Além disso, o cão tinha lesões graves escondidas devido aos seus pelos. O olhar em seu rosto mostram o medo e a falta de compreensão do motivo pelo qual os humanos estão a atacá-lo.
Este cão era um animal amigável que vivia junto com o seu outro companheiro. Perseguido por quase uma centena de homens furiosos ele foi baleado seis vezes por um policial. O outro cão, o Mastiff preto, foi igualmente morto de modo brutal.
Foi relatado que os seis tiros não mataram o cão marrom, e assim moradores usaram uma lâmina para cortá-lo enquanto ele ainda estava vivo.
Ramada Plaza Hotel, em Xanghai
No dia 17 de julho deste ano, no Ramada Plaza Hotel, em Pudong-Xanghai, a equipe bateu em uma cadela em situação de rua prenhe, dócil e amigável, por duas horas, que era conhecida como Wampee. Após torturá-la, funcionários do hotel afogaram Wampee antes de cortar a sua barriga para derramar os filhotes que ainda não nasceram no chão para vê-los morrer também ao lado de sua mãe.
Somente depois de uma condenação pública, o Ramada Plaza Hotel reivindicou que seus funcionários tinham sido atacados por um cão portador de raiva conhecido como Wampee. O estabelecimento disse que a cadela, que costumava dormir na grama atrás do hotel, havia mordido três funcionários.
O assassinato de Wampee foi filmado por um hóspede, mas ele não liberou as imagens publicamente por medo das autoridades. No momento, a ONG Speak Up for the Voiceless está tentando obter uma cópia da filmagem. Foi registrada uma queixa contra a cadeia de hotéis Ramada Plaza.
O que aconteceu com Wampee não é uma situação nova. A China organizou gangues oficiais de batedores de cães que trabalham para o governo e tem a missão de matar e erradicar o maior número de cães possível no país.