Os cães abandonados na rua de hoje pouco se parecem os SRD das décadas passadas. A consciência ecológica e os voluntariados em defesa dos animais vêm mudando a rotina de cachorros. O centro de Bagé registra bons exemplos de amor à natureza e responsabilidade social. As iniciativas surpreendem a cada dia e todas as zonas da cidade têm uma história positiva para contar.
Uma moradora da rua Bento Gonçalves, que preferiu não aparecer nesta reportagem, adotou uma iniciativa que provoca, pelo menos, a curiosidade de quem passa. Ela instalou duas casinhas de cachorro no canteiro. Acorrentadas, para evitar o furto, as casinhas de madeira são pintadas e oferecem conforto aos animais abandonados nas noites de frio. Elas têm forro e cortina, para evitar a entrada de frio, e até colchão. Embora a novidade ainda não tenha sido avaliada por especialistas, a instalação não parece atrapalhar pedestres ou prejudicar a estética da rua.
A cadela batizada de Preta, por ser toda negra e com olhos cor de mel, foi a inspiradora do projeto. “Tentei adotá-la. Chamei pelas ruas para dentro da minha casa, mas ela não quis entrar. Foi aí que tive a ideia de instalar uma casinha – o que foi deito durante uma noite de chuva. Depois, percebi que havia visitantes na vizinhança e mandei fazer uma segunda casinha”, relata a moradora.
Outros vizinhos ajudam a alimentar Preta. “Tem uma senhora que dá comida na boca”, observa. Por ter vivenciado uma experiência positiva de cuidado com os cães abandonados, a idealizadora do projeto de instalação das casinhas espera que a ideia estimule outros moradores a fazer a mesma coisa em outros pontos da cidade. Os interessados na confecção das casas de madeira podem obter informações pelo celular (53) 9991 7812.
Exemplo dos taxistas
Um exemplo de Santa Maria, que influenciou a iniciativa das casinhas da Bento, envolvia taxistas daquele município. Situações semelhantes também acontecem em Bagé. Na estação rodoviária, por exemplo, os taxistas se revezam para comprar ração para os oito cachorros que ali vivem. Eles são os mascotes da zona. Cada um tem seu nome. Com o sol de ontem, cães de pelos diferentes foram encontrados, pela reportagem, deitados na grama, enquanto os taxistas tomavam seu chimarrão.
Os taxistas Idelmiro Porcellis e Eliseu Saraçol salientam que os animais são castrados e vacinados. “Às vezes, alguém leva um dos cachorros para casa. Mas eles voltam”, afirma Porcellis. Sabendo da iniciativa das casinhas da Bento, os dois taxistas disseram que já viram iniciativas parecidas nos bairros. Os moradores que não têm dinheiro para investir numa casinha de madeira, que custa certa de R$ 100, optam pelas caixas de papelão.
Fonte: Folha do Sul