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SÃO PAULO

Cadelas saudáveis que fugiram de casa e foram encontradas em rodovia são mortas por clínica conveniada da concessionária

Dara e Frida teriam sido eutanasiadas por uma clínica veterinária sob alegação de suposta piora no quadro de saúde, mas tutora e resgatistas contestam a versão da clínica e o laudo apresentado pelo veterinário.

12 de janeiro de 2024
Daniela Sousa
5 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Um verdadeiro pesadelo teve início para Dana Prado e sua família, no último domingo (07), quando suas duas cadelas acabaram fugindo de casa.

Logo que começaram a procurar pelos animais a tutora viu a postagem em uma rede social do veterinário Diego Arruda, da ONG SOS Pantanal e de sua esposa, a bióloga Juliana que haviam encontrado as duas cachorras na rodovia Pedro I, na altura do município de Atibaia, que fica a 60 km de São Paulo.

Logo após conversar com o casal, Dana imediatamente buscou contato com a concessionária Rota das Bandeiras que administra a rodovia para que pudesse buscar seus animais. E, na segunda-feira (08) as informações iniciais recebidas por ela seriam de que Dara e Frida haviam sido encaminhadas para a clínica veterinária conveniada, situada no município de Louveira, a aproximadamente 40 km de Atibaia para receberem atendimento.

Os contatos permaneceram por parte da família de Dana, de modo a acertarem o retorno dos animais para casa. Porém, na quarta feira (10)  Dana foi surpreendida com dois atestados de óbito que constatavam a eutanásia de suas cadelas.

Ao serem informados do ocorrido pela tutora, Diego e Juliana ficaram extremamente surpresos, já que tinham estado com as cadelas presencialmente no domingo e, as justificativas relatadas no documento apresentado pela clínica se mostravam incompatíveis com o estado dos animais, quando elas foram entregues ao funcionário da concessionária no domingo (07).

Logo, então, o casal também começou a fazer indagações aos responsáveis e acionaram a veterinária, resgatista e coordenadora do grupo de resgate de animais em desastres – GRAD, que também é formada em direito, Carla Sássi que concordou com as dúvidas levantadas por Diego e Juliana que haviam registrado por vídeo a condição dos animais ao serem resgatados e entregues para a concessionária.

À partir deste momento a hostilidade por parte dos contatos da Rota das Bandeiras e da clínica com a tutora e os resgatistas se intensificou, sem esclarecimentos reais dos fatos, o que levou o caso a vir a público chegando ao conhecimento, inclusive, de legisladores que atuam pela causa animal como o deputado estadual Rafael Saraiva (União Brasil) e o deputado federal Fred Costa (Patriota) que começaram a acionar os órgãos competentes em busca de respostas.

Muitos pontos permanecem controversos como o laudo apresentado pelo veterinário que seria filho do prefeito de Louveira, Estanislau Steck (PSD) que, por sua vez, teria sido o proprietário da referida clínica conveniada com a concessionária Rota das Bandeiras, até 2019, antes de tomar posse. O fato da eutanásia das cadelas ter sido realizado sem o consentimento da tutora, contrariando lei federal (14.228/21) que legisla sobre o assunto quando envolve órgãos públicos e a falta de clareza sobre o estado real dos animais, entre outros.

Em live realizada nesta quinta-feira (11)  Sassi, Diego, Juliana e o deputado Rafael Saraiva esclareceram mais detalhes do caso. O deputado relatou que o prefeito Estanislau também foi bastante agressivo ao ser procurado pelo legislador se preocupando apenas em esclarecer que não seria mais proprietário da clínica e, vociferando que se o veterinário Diego havia encontrado as cadelas, caberia a ele e sua esposa terem providenciado o resgate numa total mostra de desconhecimento e ignorância quanto às atribuições de um Ente Público, no que diz respeito à tutela e garantia do bem-estar de animais em situação de risco ou aparente abandono.

Em nota publicada em sua página da rede social do Instagram a concessionária Rota das Bandeiras apresentou a sua versão da história informando que, após ser acionada, por meio de seu 0800, no dia 07 de janeiro, o centro de controle operacional enviou uma viatura de tráfego até o local recebendo as duas cadelas por um usuário que teria sido identificado como representante de uma ONG em Joanópolis e que os animais foram conduzidos na mesma data para um pátio de apreensão parceiro, onde na segunda feira (08) o estado clínico de Dara e Frida teria se agravado, sendo assim conduzidas para a clínica conveniada para atendimento. Ainda, de acordo com a nota, as cadelas teriam tido uma rápida deterioração em seu quadro, afirmando ser o fato relativamente comum em casos de traumas ou infecções provocados por choque, que não poderiam ser facilmente identificados a olho nu.

Para Carla Sassi, entretanto, as informações publicadas nesta nota não trouxeram grandes esclarecimentos. “A nota informa que uma das cadelas que teria parido recentemente exalava um odor muito forte e tinha infecção no útero, o que só poderia ser detectado por meio de um ultrassom, que ainda não foi apresentado. Além disso, que esta mesma cadela também tinha secreção purulenta na vulva e tumores nas mamas, o que nos leva a perguntar por que, então, o animal não foi levado no próprio domingo para a clínica, lembrando que o Diego é veterinário e a Juliana bióloga e, certamente teriam identificado este quadro ao resgatar os animais.” Sassi também questiona a situação apresentada pela nota para a segunda cadela que estaria desorientada por choque. “Se alguém conseguir entender o que isso significa, por favor me esclareça. Que choque? Isso não ficou claro pra mim”

A tragédia que afetou a família de Dana e tirou a vida de Dara e Frida trouxe à tona um problema crônico adiado pelas autoridades competentes brasileiras há tempos e ameaça, diariamente, a vida de humanos e animais. O acesso de animais silvestres e domésticos às rodovias e estradas do país é uma realidade perigosa, em que não se percebe efetivamente ações conjuntas e providências por parte dos órgãos responsáveis e as empresas privadas que assumem a administração destes perímetros.

Basta acessar as páginas de entidades e órgãos não governamentais que atuam na causa animal pelo país para entender o tamanho do problema e a ausência de soluções viáveis por parte dos responsáveis.

O deputado Rafael Saraiva informou na live que pedirá também a instauração de uma CPI para apuração dos contratos e convênios firmados no estado de São Paulo com as concessionárias que, muito embora sejam empresas privadas, prestam um serviço público à sociedade.

Para Dana e sua família resta apenas dor, revolta e a lembrança de suas meninas Dara e Frida que foram vítimas da irresponsabilidade e da atuação duvidosa dos agentes que deveriam prezar por sua segurança e dignidade.

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