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Burros não serão mais mortos para consumo no Quênia a partir de março

2 de março de 2020
3 min. de leitura
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Os animais ficarão livres dos matadouros, mas continuarão submetidos a trabalhos forçados

Os burros ficarão livres dos matadouros, mas continuarão submetidos a trabalhos forçados. Foto Wokandapix/Pixabay

A notícia é boa e, ao mesmo tempo, nem tanto. É que o comércio de carne de burro está proibido no Quênia a partir de março deste ano, mas não por razões éticas ou voltadas aos direitos animais. Ficarão livres dos matadouros, mas não dos trabalhos forçados. Com a grande demanda da China por carne de burro, os quenianos acharam no início que seria um bom negócio, mas depois sentiram falta do animal em atividades como o transporte de lenha e água nas regiões rurais – tarefa que passou a ser executada predominantemente pelas mulheres.

Além disso, o ministro da Agricultura, Peter Munya, disse que a decisão de matar os burros foi um erro, pois causou queda na população da espécie. O Quênia tem hoje cerca de 1,2 milhão de burros em comparação com 1,8 milhão de uma década atrás, de acordo com dados do governo publicados em fevereiro.

No dia 24 deste mês, mulheres e homens de comunidades agrícolas protestaram do lado de fora do escritório de Munya, na capital Nairobi, exigindo ações para proteger a população de burros. Um dos cartazes dos manifestantes dizia: “Quando os burros são roubados ou mortos, as mulheres são transformadas em burros”.

Munya declarou à imprensa que “a política de matar burros para consumo não foi bem pensada” e que os matadouros terão que se adequar a outros animais ou então serão fechados. “Os benefícios trazidos pelo trabalho tradicional que os burros fazem são muito mais importantes do que qualquer benefício que se possa obter matando um burro e comendo a carne”, acrescentou.

Os habitantes locais também denunciaram ao ministro que o massacre de burros gerou um mercado negro, com gangues de contrabando de pele roubando os animais. O Quênia tem quatro matadouros de burros licenciados pelo governo para atenderem principalmente a China que, além da carne, também aprecia a pele do animal.

Quando as peles são cozidas, elas produzem uma gelatina marrom, que é usada na fabricação do “eijão” – consumido como alimento ou em medicamentos alternativos. Cerca de 1,8 milhão de peles de burro são comercializadas a cada ano, de acordo com estimativas da organização “The Donkey Sanctuary”, do Reino Unido. Já o “Brooke East Africa”, um grupo de defesa de burros, estima que pelo menos mil desses animais sejam mortos todos os dias no Quênia.

A população de burros da China caiu de 11 milhões em 1990 para 3 milhões hoje, com base em dados do governo. Por isso a China passou a importar carne e peles desses animais, além dos animais vivos. Uganda, Tanzânia, Botsuana, Níger, Burkina Faso, Mali e Senegal proibiram as exportações de burros para a China.

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