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IMPRESSÃO DIGITAL

Biólogos estudam a evolução da baleia-jubarte por meio de fotos de caudas do animal

23 de abril de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Andrea Bonilla

No mar gelado da Antártida, duas baleias-jubarte formam uma espiral. Quando suas caudas aparecem, a cientista colombiana Andrea Bonilla aponta sua câmera e fotografa essa “impressão digital” que servirá para consolidar seu inventário de uma década com o objetivo de preservar a espécie.

A pesquisadora da Universidade de Cornell, nos EUA, observa o nado sincronizado de um pequeno bote na costa da Península Antártida. Bonilla e uma equipe de cientistas trabalham desde 2014 na elaboração de um catálogo a partir da análise visual das caudas dos cetáceos, tanto nos limites do continente quanto no Pacífico colombiano.

“O que estamos fazendo é seguir a história natural de cada indivíduo”, diz Bonilla à AFP, a bordo do navio ARC Simón Bolívar na 10ª Expedição Antártida da Marinha da Colômbia.

Os pesquisadores identificaram 70 baleias ao longo dos anos e esperam reencontrar alguns dos animais já registrados para estudar sua evolução. Embora esses mamíferos não estejam ameaçados de extinção, sofrem com a pesca comercial, a poluição e o tráfego marítimo.

Fotografar as caudas permite analisar as populações dessa espécie, seus padrões migratórios, a reprodução, o crescimento e, quando carregam filhotes, é possível determinar seu sexo sem a necessidade de uma amostra genética. Seu estudo é essencial para a conservação da espécie.

Na cauda, “a coloração e os padrões de cada baleia são únicos, é como uma impressão digital, então o que fazemos é focar nas diferentes marcas que elas têm, diferentes cicatrizes, e com base nisso e na coloração podemos saber especificamente de qual indivíduo se trata”, explica Bonilla.

“Guerreiros”

A rota migratória das baleias-jubarte começa nas costas sul-americanas do oceano Pacífico, onde se reproduzem. Depois costumam chegar ao Panamá, ainda que algumas já tenham sido vistas até na Costa Rica, quando “os machos vão explorar e chegam a novos lugares”, indica a cientista.

No sul do continente, passam por Colômbia, Equador, Peru e Chile, em sua rota até a Península Antártida, sua área de alimentação.

As jubartes “aproveitam essa grande biomassa de alimento que há aqui (na Antártida) e por vários meses ficam simplesmente acumulando energia”. Em épocas de abundância de krill, um tipo de crustáceo, se alimentam e, a partir de maio, “começam a subir até zonas mais tropicais”, onde têm um período de cerca de seis meses de jejum, afirma Bonilla.

A partir de fotos, a pesquisadora esboça reproduções dos detalhes das caudas dessas baleias, enormes animais que podem chegar a 18 metros e pesar umas 40 toneladas.

Em 11 anos trabalhando com baleias, Bonilla desenvolveu uma particular admiração por espécimes “que por eventos de nascimento ou acidentes perderam a cauda”.

“Esses para mim são guerreiros”, acrescenta, pois essa barbatana é crucial para uma espécie que precisa migrar nadando milhares de quilômetros todo ano.

Conservação

A pesca comercial reduziu a maioria das populações desses cetáceos no mundo, algumas delas em até 95%, de acordo com a NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos).

Em 1985, a Comissão Baleeira Internacional emitiu medidas sobre a proibição da pesca de baleias-jubarte, o que permitiu a recuperação da espécie. Hoje, existem cerca de 84.000 exemplares adultos no mundo, segundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Dentro do navio, Bonilla utiliza um programa de edição de imagens para recortar as fotografias e ampliar detalhes da cauda. As marcas na barbatana caudal podem revelar ataques de outros animais, se há algum tipo de doença de pele ou sinais sobre sua alimentação, explica a pesquisadora.

Os cientistas aspiram a construir um grande catálogo colombiano de jubartes para compará-lo com os existentes sobre “outras áreas de reprodução” e consolidar um mapa continental, segundo Bonilla.

O inventário permite identificar os locais que elas frequentam, como espaços de reprodução e criação, a fim de implementar iniciativas de conservação.

“Se uma baleia sempre chega à mesma área para se reproduzir, é importante proteger essas áreas. Se elas deixarem de existir ou forem perturbadas, essa baleia não terá para onde ir”, adverte Bonilla.

Fonte: UOL

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